Análises

Resident Evil 7: Biohazard

Versão testada: Xbox One

Resident Evil é um título que, ao longo de duas décadas, sempre pelas mãos da Capcom desde o lançamento na PlayStation em 1996 e concretizado posteriormente em sequelas e spin-offs nas várias plataformas, se tornou, dentro do género “survival horror”, numa referência para os jogadores ao longo do tempo. Salienta-se contudo que, ao longo do tempo, assistiu-se a um avolumar de controvérsia e crítica direcionada para o desvio do foco nos títulos mais recentes, sobretudo a partir de Resident Evil 5, para uma vertente de jogabilidade mais centrada na ação.

Resident Evil encontra-se assim num momento de encruzilhada e redefinição de estilos, colocando a Capcom a olhar para o fio condutor central da jogabilidade dos títulos originais e o rumo que a série posteriormente foi tomando, de modo a perceber de que modo se poderia revitalizar a recentrar a franchise naquilo que motivou o seu sucesso, assente sobretudo numa mecânica centrada no medo, na exploração e na gestão de itens essenciais para a sobrevivência do jogador e na tensão permanente perante desafios verdadeiramente perturbantes e assustadores.

Neste contexto, chegamos então a Resident Evil 7: Biohazard, onde vamos acompanhar Ethan Winters, o qual, depois receber um perturbante vídeo com uma mensagem da sua esposa Mia, desaparecida há 3 anos, parte em direção a uma pantanosa zona rural de Dulvey, situada no Louisiana, na ânsia de a encontrar e onde aqui irá desafiar os seus medos quando chega a uma misteriosa casa de campo, propriedade da família Baker, cujos membros possuem traços de personalidade muito particulares, com características de interação diferenciada e uma presença intensamente sufocante.

Ao invés do uso mais tradicional na série da perspetiva na terceira pessoa, em Resident Evil 7 procura-se incrementar um sentimento de maior imersão através da alteração da jogabilidade para uma perspetiva na primeira pessoa, onde nos vamos encontrar em interação com um cenário opressivo, escuro e medonho tendo por objetivo a necessidade de se descobrir o caminho correto ou os itens adequados para se ultrapassarem passagens bloqueadas, portas fechadas ou resolver puzzles lógicos, os quais considerei muito simples de resolver e sem um cariz tão obscuro quanto os apresentados previamente nas demonstrações do jogo lançadas anteriormente.

A contribuir para o sentimento de imersão no horror e opressão dos espaços por onde andamos está o trabalho sonoro de enorme qualidade, não tanto ao nível da banda sonora, que é pouco presente, mas antes ao nível da intensidade, diversidade e profundidade dos efeitos sonoros em que somos envolvidos, capazes de criar o sentimento de arrepio e medo em várias circunstâncias. Muitas vezes, torna-se mais assustador o que não se vê, sobressaindo o sentimento de termos uma presença circundante do terror, audível, mas invisível. Um destaque para o sentimento de alívio nesta pressão sonora com os compartimentos da casa onde podemos gravar o jogo ou guardar itens, onde a música é mais agradável e que permite voltarmos a acalmar o nosso ritmo cardíaco e a sentir algum conforto.

Para acentuar a característica de “survival horror”, temos um inventário limitado e a gestão do mesmo é fundamental para ultrapassar certos obstáculos e rapidamente conseguirmos fugir de situações onde não podemos ficar estáticos a selecionar os itens mais adequados. Existe a necessidade de alguma preparação prévia das combinações de artigos, para os elixires de saúde, entre outros, ou deixar uma slot livre para quando surgem algumas situações em que tenhamos que reagir rapidamente para retirar um objeto precioso de algum lugar, sem sermos apanhados por algum membro da família que nos persiga por lentidão nossa no uso do mesmo.

No decorrer do nosso percurso, vamos encontrando velhas cassetes VHS que nos dão acesso a vídeos muito intensos com flashbacks de outras vítimas onde, fugindo das tradicionais e estáticas cutscenes, também estamos presentes e envolvidos de um modo muito bem implementado, de modo a conhecermos algumas histórias de vítimas anteriores ocorridas naquele local, o que também que nos permitem desvendar os percursos e soluções necessárias antes para o nosso protagonista chegue pessoalmente aos sítios visionados.

Existem 3 níveis de dificuldade no jogo, sendo que, inicialmente existe a opção, que posteriormente não pode ser alterada, entre o “fácil” e o “normal”, ficando reservado o nível de dificuldade mais elevado, denominado “madhouse”, para quando se finalize o jogo num dos dois níveis anteriores. Naturalmente, à medida que se aumenta a dificuldade, os inimigos ganham mais resistência e os itens disponíveis são mais limitados, o que torna as probabilidades de sobrevivência mais escassas. Atrever-se a jogar na dificuldade máxima é maximizar a circulação cardíaca do jogador tal a quantidade de momentos de tensão em que este se verá envolvido.

Resident Evil consegue agregar vários elementos que caracterizam um filme de terror, seja numa mistura equilibrada de momentos intensos ao nível psicológico, num ambiente de medo e suspense, mas também de gore mais visceral e de sustos mais provocativos. Durante o nosso percurso vamos adquirindo armas diversas e com intensidade distinta, mas não é por este facto que nos vamos sentir mais invencíveis. O sentimento de incapacidade perante o impacto dos nossos adversários está sempre presente o que nos leva muitas vezes a ter que recuar e procurar outras estratégias para conseguir superá-los.

Em termos técnicos, jogado na Xbox One, Resident Evil 7 não apresenta falhas marcantes em termos de performance, mas foi claro alguma falta de detalhe e definição nalgumas texturas dos vários ambientes e espaços que percorremos, para além de pequenas quebras de framerate nos momentos de ação mais intensa. Como nota positiva para atenuar o menor detalhe gráfico, destaca-se a implementação do HDR que permite um incremento da subtileza e nuance das luzes e cores que recriam um ambiente ainda mais envolvente.

Em suma, Resident Evil, não sendo um jogo perfeito, consegue reinventar-se e voltar às origens da franchise numa experiência de horror no sentido mais puro e claustrofóbico, implementado com grande eficácia, mas com rasgos de modernidade na capacidade em criar mecânicas novas que permitem envolver os jogadores e deixa-los num estado de tensão magistralmente recriada.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

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