Análises

Splatoon

Splatoon tem no seu núcleo dois conceitos que apelam tanto à criança como ao adulto dentro de nós: pintar e disparar.
Usando o termo arena shooter literalmente, em Splatoon a nossa prioridade é pintar o chão com armas de tinta para cobrir o máximo possível do mapa com a cor da nossa equipa; matar os adversários é apenas um meio para atingir esse fim. É um twist aos jogos de tiros que é sem dúvida, muito Nintendo.

Splatoon review 1Controlamos um Inkling, um humanóide que se transforma em lula para viajar escondido dentro da tinta da própria cor, o que nos deixa movimentar muito mais rápido e subir paredes, prescindindo da possibilidade de pintar. Mudar entre as duas formas e saber tirar proveito de cada uma delas é essencial, pintar e atacar é importante, mas por vezes é preciso escondermo-nos na tinta para recarregar, montar uma emboscada ou bater em retirada.

A utilização do Gamepad não só é obrigatória como essencial; no ecrã do comando vemos o mapa que nos mostra os membros da nossa equipa de quatro e a tinta que está no chão, ou seja, não nos mostra directamente onde estão os inimigos (a não ser que eles estejam pintados com a tinta da nossa equipa), mas mostra o rasto de tinta que eles deixam. Tocar na posição ou no ícone de um companheiro de equipa deixa-nos saltar para a localização deles, o que é útil, mas deixa-nos vulnerável ao iniciar o salto e a aterrar, uma vez que o sítio onde pousamos está marcado. Gerir o risco de tirar os olhos da acção para ler o mapa e saber quando e para onde saltar são duas das coisas mais importantes no jogo e que não devem ser ignoradas como gimmicks para dar uso ao Gamepad.

Todos os modos online são partidas quatro contra quatro: no modo Turf War temos que pintar o máximo possível de terreno; em Tower Control temos que ficar em cima de uma torre para que esta se desloque até à base inimiga; no modo Splat Zones temos que pintar uma ou mais determinadas áreas do mapa o máximo de tempo possível. Estes são os modos disponíveis até à data, mas a Nintendo vai adicionar mais gratuitamente, como tem feito desde o lançamento do jogo.

Splatoon review 2Cada modo pede uma estratégia diferente, mas no fundo todos se reduzem a uma batalha por locais estratégicos para impedir que a equipa adversária avance. Apesar de cada partida ser um esforço de equipa, há espaço para duelos e para cada jogador brilhar quer como personagem de ataque, defesa ou suporte. Apesar do importante ser pintar o chão, derrotar inimigos é essencial para não os deixar avançar e mesmo com armas que não cubram muito terreno, podemos desempenhar um papel essencial na equipa.

Muitas das coisas que tornam Splatoon um jogo online simples e rápido de usar trazem consigo desvantagens. Apenas podemos escolher um de dois modos: em Regular temos as Turf Wars, onde não há penalização por perder e em Ranked estão os restantes modos que alternam de quatro em quatro horas e onde subimos ou descemos de classificação conforme os nossos resultados. Isto quer dizer que para jogar com jogadores aleatórios, apenas temos dois modos online disponíveis num dado momento, o que é limitativo, mas faz com que não haja modos vazios (como tende acontecer em outros jogos) e que os tempos de espera sejam curtíssimos.

Cada modo joga-se em dois mapas que mudam de quatro em quatro horas, o que segundo o director do jogo, foi feito para que os jogadores escolham antecipadamente as armas com que se dão melhor nesses níveis em vez de usarem sempre as mesmas. Além disso, também não se pode mudar de equipamento sem sair da sala de espera para entrar no jogo, o que reduz potencialmente o tempo de espera para os outros, mas não deixa de ser irritante.
Apesar de se perceber o porquê destas ideias, a implementação deixa algo a desejar, os mapas podiam rodar mais regularmente e é comum calhar o mesmo mapa várias vezes seguidas dentro de uma rotação.

A falta de comunicações por voz limita de certa maneira a cooperação, mas também torna o ambiente seguro, agradável e equilibra o jogo, uma vez que ninguém fica em desvantagem por escolher não usar voice chat ou por não compreender a língua dos outros, especialmente porque há muitos jogadores Japoneses. A única maneira de comunicar é com duas mensagens que se usam com o D-Pad, uma que chama os outros para a nossa localização- o que se vê e ouve no Gamepad- e outra que simplesmente diz “Nice!”.

Splatoon review 3Apesar, ou talvez por causa destas limitações, é extremamente fácil e rápido começar a jogar, com dois toques e alguns segundos podemos estar a espalhar tinta e enquanto estamos na sala de espera podemos jogar um simples e viciante mini-jogo ao estilo NES no Gamepad, se bem que as partidas costumam começar tão rápido que não há tempo para jogar muito. É simples juntarmo-nos a um amigo que também esteja a jogar Turf Wars e com a actualização agendada para 6 de Agosto vamos poder juntarmo-nos em equipas e criar jogos personalizados com amigos, onde podemos escolher os modos e as regras.

Claro que também é importante que as ligações sejam estáveis e lag não seja um problema. Na minha experiência, ecnontrei poucas vezes lag que afectasse o jogo, notando-se em certas situações mais do que outras, no pior dos casos a tinta não pintava imediamente, o que tornava impossível fazer grande coisa. O problema mais frequente tem sido perder a ligação a meio do jogo, não é algo que aconteça muitas vezes, mas o suficiente para ser digno de nota. Tem sido, no geral, uma experiência online bastante fluída e indolor.

Desde o seu lançamento que Splatoon tem recebido novos conteúdos grátis semanalmente, podem ser mapas, armas, ou menos regularmente, modos novos. O jogo não vir com tudo de raíz é um assunto divisivo, e fazer grupos com amigos já devia estar no jogo, mas as novidades regulares têm ajudado a manter o jogo fresco e a manter os jogadores activos.
Também para manter a comunidade activa, de vez em quando há Splatfests, eventos que duram um fim-de-semana onde se faz uma pergunta aos jogadores (por exemplo, preferes cães ou gatos?) para os separar em equipas e não só pelas respostas, mas pelo número de batalhas vencidas, escolher um lado vencedor.

Splatoon review 4À medida que subimos de nível e saem actualizações, podemos comprar armas novas, se bem que armas disponíveis em níveis mais altos não são necessariamente melhores que as outras, apenas diferentes. Há dezenas de armas para todos os gostos: metralhadoras de curto ou longo alcance, lança balões, rolos, pinéis ou snipers, entre outras.Cada uma traz uma sub-arma diferente (balões de tinta, minas, aspersores, localizadores, etc.) e um ataque especial (como uma coluna que manda uma onda de som destrutiva, um míssil que aterra onde quisermos ou uma transformação em Kraken, uma gigante lula invencível).

Como em todos os jogos online, algumas escolhas sobrepõem-se a outras e começam a ser desequilibradas, por vezes o equilíbrio restaura-se com o tempo à medida que os jogadores aprendem a reagir a essas armas, noutras situações são precisas actualizações para corrigir isto. Uma arma ser demasiado forte num modo não quer dizer que o seja noutro e de momento vêem-se a ser usadas uma grande variedade de armas e as posições de topo já não são dominadas sempre pelas mesmas duas armas.

O modo online é a parte principal do jogo, é fácil pôr lá centenas de horas sem dar conta, mas além do modo 1 vs 1 (a única maneira de jogar multiplayer com apenas uma consola) também há um modo de história a solo. Aqui navegamos não só pelas arenas multiplayer, mas também por uma série de estranhos locais abandonados a flutuar no meio de destroços, todos desenhados para uma progressão linear, mas com espaço para explorar e brincar com as mecânicas de jogo, resultando num híbrido de shooter e jogo de plataformas. Pintar os cenários para nos escondermos ou subir paredes é uma forma ridiculamente divertida e original de explorar os níveis.
Em quatro ou cinco horas chega-se ao fim e claro, há segredos para encontrar em todos níveis, pergaminhos com desenhos que desbloqueiam armas ou revelam um pouco mais sobre o mundo de Splatoon. Com as amiibo do jogo podemos jogar as missões deste modo com armas diferentes e desbloquear equipamento exclusivo, além de ganhar novos mini-jogos “NES”.

Splatoon review 5Tendo ficado a cargo de membros mais jovens da EAD Group No. 2, Splatoon é imensamente original e fresco, sem perder a atenção ao pormenor e qualidade que se espera da Nintendo. O mundo está cuidadosamente criado e a rebentar com um tipo de coolness que faz lembrar Jet Set Radio.
Na praça principal, que parece saída de Tóquio, os Inklings dos outros jogadores passeiam, dançam e vêem as montras, partilhando mensagens e desenhos do Miiverse, que também aparecem como Graffitis nas paredes, ou neons e fogo de artifício durante as Splatfests.
Centros-comerciais, parques de skate, ou níveis bizarros no meio do nada, todos os locais foram minuciosamente criados e preenchidos com detalhes que ajudam não só a tornas os mapas mais interessantes, mas também a enriquecer o mundo de Splatoon.

Os designs de personagens estão brilhantes de uma ponta à outra, desde os nossos Inklings e inimigos aos lojistas, como o vendedor de sapatilhas que é uma gamba com um casaco de tempura. E claro, uma lula tem que ter swag, por isso há dezenas de chapéus, roupas e sapatilhas; todas estas peças trazem habilidades, mas o que realmente interessa é ter pinta. A equipa de desenvolvimento conseguiu criar uma identidade visual memorável que ajuda a tornar Splatoon num clássico com personagens que merecem estar no corredor da fama da Nintendo.
A estranha e infecciosa banda-sonora squidcore encaixa perfeitamente com o estilo do jogo e os efeitos sonoros como o chapinhar na tinta ou a lula a mergulhar soam tão bem como o jogo se controla; pintar o chão, subir paredes, cair por grades, saltar para o outro lado do mapa ou cobrir um adversário de tinta, tudo se mexe como devia.

Splatoon review 6Talvez algo comum a muitos grandes jogos, os alicerces de Splatoon são fortíssimos, estão muito bem pensados e polidos ao pormenor, daí a EAD Group No. 2 construiu um jogo que apesar de também ter imenso potencial para o futuro, acertou à primeira. Splatoon é fantástico, empolgante e aliciante, mas acima de tudo, é muito, muito fresh.

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