Análises

The Last Guardian

Versão testada: PS4

ICO e Shadow of the Colossus são dois títulos considerados clássicos de culto da era PS2. Não é de estranhar portanto o entusiasmo que houve quando The Last Guardian, o novo título de Fumito Ueda, foi anunciado em 2009 para a PS3. Mas o jogo enfrentou problemas e foi caindo aos poucos no esquecimento, reaparecendo apenas de tempos a tempos em formato de meme. Em 2015, durante a E3, eis que The Last Guardian volta a dar sinais de vida, agora como um jogo PS4. Quase que passa ao lado de 2016, mas eis que The Last Guardian finalmente está aí. Será que a espera valeu a pena?

Quem jogou ICO e Shadow of the Colossus terá uma pequena ideia do que pode esperar, porque The Last Guardian incorpora alguns elementos desses dois títulos. Ao contrário do que é tradicional nos jogos, The Last Guardian não utiliza set pieces nem cutscenes super complexas para contar uma história ou para transmitir emoções. Isso é feito maioritariamente através das próprias acções das personagens e dos desafios que têm de enfrentar. Neste caso, a relação entre o rapaz e Trico à medida que vão percorrendo o castelo e vão desvendando o mistério.

O jogo não perde tempo em estabelecer não só a escala e força de Trico, mas também a fragilidade do rapaz, algo demonstrado logo na cena inicial. Isto é bastante interessante, porque inverte os papeis daquilo que acontecia em ICO. Desta vez, o jogador é que é frágil e é quem precisa de ser protegido. Também existe uma inversão de papéis comparativamente a Shadow of the Colossus. Se antes tínhamos de trepar os enormes monstros para espetar a espada no seu ponto fraco, em The Last Guardian temos de trepar Trico para retirar as armas que lhe são espetadas nos combates.

A progressão em The Last Guardian envolve a exploração e o completar de puzzles. Não existem indicadores, símbolos, mensagens ou cores para indicar o caminho. O jogo subtilmente dá algumas pistas, mas cabe ao jogador descobrir para onde ir e o que é necessário fazer para avançar. Mas o rapaz não anda sozinho; Trico faz questão de o acompanhar, e assim, os dois ajudam-se mutuamente. Por vezes é o rapaz sozinho a abrir caminho para Trico passar, e outras vezes, é Trico a ajudar o rapaz a chegar até plataformas mais altas ou a protege-lo de perigos. Com o passar do tempo, vão começar a confiar um no outro e a compreenderem-se melhor. E acreditem, a primeira vez que Trico salva o rapaz é realmente emocionante. Toda a acção decorre com o apoio de uma excelente banda sonora composta por Takeshi Furukawa.

Apesar de Trico ser uma criatura mítica, a qualidade das animações, a forma como interage com o rapaz e reage a determinadas situações, torna-o bastante real. Mas Trico também consegue ser imprevisível e ás vezes deixa-se levar por alguns instintos básicos. Não vou entrar em muitos pormenores para não estragar a experiência a ninguém, mas numa situação temos que acalmar Trico de alguma forma. Ou então, Trico fica vidrado com um cheiro e temos que acabar com a fonte do cheiro para que Trico volte ao normal e nos ajude a prosseguir. Este tipo de situações mostra o excelente nível de trabalho que Ueda e a sua equipa fizeram na criação de Trico, tornando-o uma criatura credível.

No geral, os controlos são bons. Existe um certo “peso” nos movimentos do rapaz, tal como havia em Shadow of the Colossus, o que lhe confere períodos de aceleração e desaceleração. Isto é intencional e não deverá causar problemas a ninguém durante a exploração e resolução dos puzzles. No entanto, a camara por vezes não é a melhor e dá alguma luta, especialmente em espaços mais apertados onde Trico e o rapaz estão próximos um do outro. Ainda para mais porque a camara tenta dar uma sensação contínua de escala, mostrando o contraste entre a fragilidade do rapaz e a força da criatura.

the-last-guardian-screen-reviewO castelo é enorme e proporciona uma grande quantidade de cenários interiores e exteriores. Por vezes até relembra a escala de Dark Souls, porque é possível ver à distância áreas que já percorremos ou que ainda vamos percorrer. O mundo tem uma atmosfera e ambiente exemplares, e os puzzles são orgânicos e bem espaçados entre si. Quando a camara aproxima algumas partes do cenário, dá para reparar em texturas com menor qualidade, mas o excelente design artístico ajuda a disfarçar estas imperfeições e consegue criar imagens de grande beleza.

Existem algumas quebras na fluidez, em particular em zonas abertas com vegetação e muitos efeitos de luz. Estas quebras são mais frequentes na PS4 standard do que na PS4 Pro, mas apesar de serem notórias quando acontecem, nunca achei que prejudicasse a jogabilidade. Apenas prejudicavam a minha habilidade de rodar a camara.

The Last Guardian demorou a chegar mas, e aproveitando para responder à pergunta que fiz no inicio desta análise, a espera valeu a pena. Trata-se de um grande título de aventura, que conta uma história emocionante entre dois companheiros improváveis. O trabalho colocado neste título por Ueda e a sua equipa no design e atmosfera do mundo, assim como na criação de Trico, torna The Last Guardian num dos melhores jogos disponíveis para a PS4 e coloca-o a par dos clássicos ICO e Shadow of the Colossus.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

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