Análises

The Legend of Zelda: Twilight Princess HD

Versão testada: Wii U

Depois de um longo desenvolvimento na Gamecube, tornado maior pelo surgimento da versão Wii, The Legend of Zelda: Twilight Princess sai em 2006 para encontrae sucesso crítico e comercial, tornando-se no segundo Zelda mais vendido de sempre. Dez anos depois, a Nintendo põe o estúdio Australiano Tantalus a cargo de remasterizar e melhorar o jogo para a era de alta definição com The Legend of Zelda: Twilight Princess HD para a Wii U.

Twilight Princess foi, de certo modo, uma resposta aos detractores de Wind Waker, o estilo cartoon é abandonado em favor de algo mais familiar e o prato principal volta a ser uma grande main quest.
O início do jogo introduz-nos à vida calma do Link na sua aldeia enquanto nos ensina as bases (os tutoriais propriamente ditos são mínimos ou opcionais) e ao fazer isto, antes de qualquer masmorra, damo-nos com o primeiro puzzle para resolver e o primeiro cheiro de ter que ligar vários pontos para fazer um caminho que nos leve aonde queremos ir.
Não é um início rápido, mas é leve em vídeos e texto, conseguindo criar contexto para a história e personagens enquanto nos mostra várias facetas do jogo, como andar de cavalo, usar a espada e projécteis e o tipo de lógica que vamos encontrar.

Uma vez confortáveis neste cenário idílico, o tom muda 180º e somos apresentados ao outro lado do jogo: ser um lobo. Uma vez transformados em lobo deixamos de poder usar o nosso equipamento e falar com pessoas, por outro lado, temos mais agilidade, conseguimos comunicar com animais e espíritos e temos sentidos apurados que nos deixam descobrir segredos e seguir cheiros. As secções em que temos que usar o lobo forçam-nos a explorar os cenários e combates de uma maneira diferente do habitual, o que é interessante, mas o conceito podia ter sido levado mais longe, reduzindo-se muitas vezes a pouco mais que fazer uns saltos praticamente automáticos.

Twilight Princess HD review 1As masmorras são sem dúvida o ponto alto do jogo, extremamente bem desenhadas para oferecer um nível de complexidade e exigência crescentes, com excelentes quebra-cabeças que tiram proveito do espaço em que estão inseridos sem caírem demasiado na velha fórmula de empurrar blocos e activar interruptores. Apesar das mudanças que têm vindo a ser introduzidas na série no que toca a estrutura e masmorras serem mais que bem-vindas, é difícil culpar Twilight Princess por ainda estar demasiado encaixado na fórmula clássica, uma vez que é o expoente máximo da implementação dessas ideias. Encontrar chaves, encontrar o item de cada masmorra, usá-lo para avançar e derrotar o boss, isso não mudou. Alguns dos novos itens do jogo são óptimos, mas são pouco utilizados fora das masmorras onde os apanhamos, o que é uma pena.

Já o combate, é o mais evoluído da série até o Skyward Sword ter abraçado totalmente o controlo por movimentos, há vários golpes para aprendermos maneiras mais eficientes e estilosas de derrotar os inimigos, mas isto perde impacto por levarmos muito pouco dano, os inimigos terem pouca vida e ser muito fácil recuperar, tal como no Wind Waker. Para quem sente que isto é um problema e que o combate é muito fácil, há mais uma vez o Hero Mode, um modo onde não há corações para recuperarmos e levamos duas vezes mais dano. Isto torna o jogo bem mais difícil e interessante, além de resolver até certo ponto a inutilidade do dinheiro, uma vez que vamos precisar de comprar poções para sobreviver, especialmente no início do jogo. Para quem quer mais uma dose de dificuldade, o amiibo do Ganondorf duplica o dano que levamos, por isso podes ficar com 4x o dano que o modo normal dá.

Twilight Princess HD review 2Sendo um Zelda mais do que uma sucessão de masmorras, entre templos e afins, temos que descobrir o nosso próximo passo e isso significa passar por uma montanha-russa de aventuras cuidadosamente feitas à mão: num momento estamos a guiar cabras para um celeiro, no outro estamos a lutar sumo, andar de pernas para o ar em minas, explorar a mansão de um casal de Yetis, descer uma montanha de canoa pelo rio, andar de javali pelo deserto e passar o tempo a pescar num lago ou a descontrair (leia-se: ganhar vida) em termas com uma raça de… pessoas de pedra que comem pedras.

Em 2006, o mundo de Twilight Princess era razoavelmente grande e mundos grandes em 3D inevitavelmente traduzem-se em grandes espaços vazios, algo que não é fácil de resolver. Twilight Princess não tem áreas demasiado grandes e vazias, o mundo é grande o suficiente para dar sensação de escala sem ser grande demais e aborrecido, mas a topologia do terreno precisava de mais variedade para tornar o movimento mais interessante. No entanto, há uma data de tesouros escondidos e outras coisas para descobrir, razões suficientes para andar a explorar de cavalo em vez de nos teleportarmos para todo o lado. Fora da zona principal, temos áreas com um ritmo de exploração diferente que exige mais interacção com o cenário do que só andar, como a subida da Death Mountain onde temos uma série de obstáculos a ultrapassar, tornando o nosso progresso pelo mundo muito mais entusiasmante.

Claro que podemos contar com um elenco de personagens estranhas- algumas estranhas demais- e muito humor. Uma criança que parece um bebé gigante e de mau humor revela-se um génio de negócios, raparigas correm atrás de nós aos gritinhos por termos feito uma pontuação alta num mini-jogo e os soldados são ridiculamente cobardes. Não é por Twilight Princess ter um tom mais sombrio que deixa de ter as suas personagens coloridas como é característico da série e a Midna, a nossa companheira de aventura, é provavelmente a melhor personagem nalgum jogo da saga.

Twilight Princess HD review 3Vamos ser honestos, Twilight Princess era impressionante para um jogo Gamecube, mas nunca foi tão bonito ou intemporal como o Wind Waker. O jogo pode não ser tão colorido, com o seu mundo triste e destruído, mas isso não quer dizer que não haja beleza para ser apreciada. Do pacífico lago onde um arco-íris enfeita a queda de água enquanto as pétalas de cerejeira caem levemente na água, ao topo de uma montanha nevada onde as nuvens negras teimam em tapar o sol, se o campo principal é aborrecido visualmente, há muitos outros locais para admirar. A Tantalus fez um excelente trabalho em tornar o jogo apresentável em 2016. Os modelos 3D são os mesmos, raramente um problema, mas certos locais e personagens precisavam de uns retoques para não saltarem tanto à vista, especialmente nalguns vídeos. O trabalho feito nas texturas foi ridiculamente exaustivo, quase tudo tem texturas novas, muito superiores às originais e carregadas de pormenores, desde as pedras do chão às imponentes paredes dos templos cheias de inscrições e desenhos, tudo está super detalhado.

Além de substituírem as texturas também foram adicionadas imensas coisinhas para dar vida aos cenários e tornar cada sítio único, cada casa um lar, cada ruína o vestígio de outros tempos.
O salto de 480p para 1080p é enorme claro, ainda para mais com anti-aliasing e sombras muito melhores, Twilight Princess HD não passa por um jogo de 2016 (como seria de esperar), mas aguenta-se excepcionalmente bem. O sistema de iluminação não levou melhorias tão grandes como no Wind Waker HD, provavelmente o estilo detalhado não se dá tão facilmente a alterações, mas o bloom está muito menos exagerado e mais preciso o que dá um aspecto bem melhor ao jogo. O framerate continua nos 30 fps uma vez que as animações foram feitas com isso em mente e apenas foram reportadas quebras numa zona muito específica do jogo.

Twilight Princess HD review 4As mudanças não foram só visuais, além do mencionado Hero Mode, quem conhece o jogo original deve notar algumas alterações: as secções onde temos que apanhar as Tears of Light com o lobo foram encurtadas, há menos avisos irritantes (mas o barulho de ter pouca vida continua lá), muitos baús que antes tinham dinheiro agora têm carimbos Miiverse, o número de fantasmas em cada região aparece no mapa e há uma lanterna que nos diz se está algum na nossa área, enfim, há uma data de pequenas alterações que fazem com que o jogo flua melhor. Os controlos do cavalo também foram melhorados, mas ainda é irritante parar por raspar numa parede a um ângulo estranho, algo que aparentemente não vai acontecer no próximo Zelda, mas que ainda incomoda neste.
Claro, pode-se jogar no gamepad, ou usá-lo como mapa ou inventário, o que é bem mais rápido e até imersivo do que ir a menus, se bem que o inventário circular da versão Wii e do Skyward Sword também deixam saudades. Os controlos giroscópicos opcionais não são tão rápidos como os da versão Wii, mas são bem mais estáveis o que ajuda na precisão e claro, é bem melhor do que usar apenas os analógicos.

A banda-sonora peca por não ter uma abundância de temas originais que fiquem no ouvido, mas não deixa de ser de topo, com umas quantas faixas inesquecíveis como o tema da Midna ou a música altamente dinâmica do Hyrule Field. Claro que há novas versões de clássicos para criar ligação aos títulos anteriores e puxar pela nostalgia e a música nas masmorras continua a ser perfeita para estabelecer ambiente. De destaque é a música na dimensão Twilight, não são faixas que vais assobiar, mas a cacofonia de sons pouco usuais acompanha a bizarria das criaturas que encontramos e ajuda imenso a criar tensão. A falta de instrumentos reais não incomoda nalgumas músicas, mas distrai noutras e não faz jus a algumas excelentes composições, uma mancha numa grande banda-sonora.

Twilight Princess HD review 5Twilight Princess não tem o charme do Wind Waker, nem as personagens complexas do Majora’s Mask, mas é o culminar do cerne da fórmula clássica de Zelda, uma aventura excepcional cheia de emoções, masmorras brilhantes, quebra-cabeças, batalhas incríveis com monstros gigantes e aquela magia Zelda difícil de quantificar.

The Legend of Zelda: Twilight Princess HD é sem dúvida, a versão definitiva de um dos melhores jogos de uma das melhores sagas de sempre.

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