Análises

Hellblade: Senua´s Sacrifice

A mente é uma prisão.

Versão testada: PC

Hellblade: Senua’s Sacrifice é um jogo que apresenta várias características únicas que são provocativas em relação ao estado actual da indústria dos videojogos, seja pela aposta num tema pouco comerciável, como é a doença mental e as psicoses, em particular, seja pela ambição em ser apresentado como um “AAA independente” num equilíbrio entre uma produção com características globalmente associadas aos grandes títulos e a salvaguarda da sua condição indie.

Na proposta da Ninja Theory, uma equipa independente inglesa de 20 pessoas associada aos anteriores trabalhos de Heavenly Sword, Enslaved e DmC: Devil May Cry, somos envolvidos no drama de Senua, uma guerreira num mundo medieval que, sofrendo de perturbações mentais que provocam a audição de vozes na sua cabeça, entra numa espiral angustiante de uma realidade, centrada na mitologia nórdica e celta, em busca de uma redenção e de uma conexão com o seu amado Dillian, a única ponte com uma referência à realidade e que a motiva a ter força para emergir daquele sufocante mundo psicótico e visceral da sua mente obscura.

Com Hellblade, a equipa da Ninja Theory consegue concretizar uma visão artística única e singular num jogo assente numa linearidade centrada na narrativa, com mecânicas de jogo relativamente simples.

Pode eventualmente questionar-se se não existe alguma falta de balanceamento entre a enorme riqueza do universo visual e auditivo criado e a menor variedade na componente de lutas e puzzles que vão permitir a Senua avançar no seu tortuoso percurso. Contudo, analisado o resultado final num todo, este é um jogo marcante e envolvente e que, apesar das melhorias que poderiam ser introduzidas, com uma maior diversidade nas mecânicas, é uma excelente referencia para um produto que procura arriscar na sua abrangência e objectivo.

Para além da componente visual muito rica e detalhada, um dos pontos fortes do jogo é a excelente componente áudio e a envolvência que o som tridimensional permite em termos de imersão. É altamente recomendável jogar-se com headphones para uma experiência mais intensa, na medida em que a audição de toda a roupagem sonora, sobretudo das vozes que Senua escuta e do seu posicionamento, consegue transmitir uma sensação de presença muito envolvente.

Outro destaque muito positivo e que merece destaque é a atuação de Melina Juergens como Senua, cuja prestação é de bastante qualidade e que confere à personagem principal de Hellblade, uma enorme e credível intensidade dramática. Os modernos sistemas de captação de movimentos permitem um realismo muito intenso aos personagens dos videojogos e a capacidade de atuação dos atores é cada vez mais evidenciada nestas circunstâncias.

Para maior detalhe acerca deste tipo de pormenores que estão presentes no desenvolvimento de um videojogo, durante cerca de 2 anos, os responsáveis da Ninja Theory, numa postura de enorme abertura, foram partilhando regularmente vídeos de produção com todos os detalhes, avanços e recuos no desenvolvimento de Hellblade, algo que, também neste aspeto, diferencia este jogo pela possibilidade que é dada ao jogador de acompanhar a sua génese até ao lançamento final do mesmo.

Um dos aspetos que marcou toda a experiência que obtive em Hellblade, durante as cerca de 7 horas que durou esta marcante viagem, foi efetivamente a componente gráfica, com toda a riqueza visual, detalhes, luminosidade e contrastes que o universo do jogo proporcionou. O realismo do fogo, o obscuro da tormenta das visões, os fugazes momentos de uma cristalina luz de esperança, em contrastes muito intensos, tornam Hellblade numa experiência gráfica marcante, a qual, associada ao fantástico resultado do som tridimensional, é um dos aspectos de maior excelência que sobressai deste jogo.

Por contraste com a excelência da componente gráfica e sonora, como aspeto menos positivo destaco a utilização de pouca variedade na tipologia de puzzles utilizada, muito baseados no enquadramento visual, na paisagem, de símbolos, mecânica que tem algumas variações ao longo do percurso, mas que, na essência, resultam no mesmo objetivo. Do mesmo modo, as lutas que Senua vai enfrentando, apesar de intensas e desafiantes, assumem também um aspeto pouco diversificado na tipologia de adversários e na abordagem aos mesmos, situação que, apesar de tudo, ganha uma nova dimensão com o uso do som tridimensional.

Em suma, Hellblade: Senua’s Sacrifice, é um jogo que se destaca pelo risco na temática escolhida, com enfoque na excelência colocada no aspeto gráfico e sonoro e sobretudo numa experiência humana de grande intensidade emocional.

 

Sistema utilizado: AMD RYZEN 5 1600X 3.6GHz, NVIDIA GeForce GTX 1060 6GB, 8GB Ram DDR4, Windows 10

Nota Final - 9

9

Hellblade: Senua's Sacrifice destaca-se pela temática escolhida, e faz um grande trabalho a entregar uma experiência humana de grande intensidade emocional.

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