Análises

Stellar Blade

Anjo da Colónia

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PlayStation 5
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Não tendo jogado a demo por falta de tempo, o meu conhecimento de Stellar Blade estava limitado à premissa do jogo e aos trailers. Sabia que Stellar Blade era um jogo de ação que decorria num futuro distópico com um estilo sci-fi, cuja protagonista era uma guerreira que tinha como missão enfrentar uma ameaça que colocava em risco toda a Humanidade. Verdade seja dita, esta é uma descrição que também poderia ser utilizada para descrever NieR: Automata. De facto, existem algumas semelhanças entre ambos os títulos em termos de setting, mas as semelhanças terminam aí.

Stellar Blade segue as pisadas de EVE, uma guerreira que é enviada para a Terra numa missão de resgatar o planeta dos Naytiba, uma misteriosa ameaça que coloca em risco toda a Humanidade. O ataque inicial não corre como planeado e EVE vê o seu esquadrão ser completamente aniquilado. É aqui que aparece Adam e a salva de uma morte certa. Assim nasce uma parceria que leva EVE a ajudar Adam e outros sobreviventes humanos, sob a condição de Adam ajudar EVE na destruição dos Alpha Naytiba. Pelo caminho, o jogador irá encontrar Lily, que desempenhará o papel de suporte técnico à equipa, e outros NPC’s que ajudarão a passar a imagem de como aquele mundo funciona.

E o mundo em si é bastante interessante. Primeiro, há a questão dos Naytiba, pois ninguém sabe a sua origem; apenas se sabe que apareceram de repente e que são extremamente fortes. Depois, há a dinâmica entre os sobreviventes na Terra e aqueles que descem da Colónia, no espaço. Soldados como EVE são apelidados de Anjos, mas existe uma certa animosidade entre quem vive na Terra e quem vive na Colónia, pois sentem-se abandonados. Essa animosidade faz-se sentir na interação com alguns NPC’s que podem ser encontrados em Xion, a última cidade humana. Ao início, esta cidade está quase deserta, mas há medida que se avança na campanha e se vai ajudando os seus habitantes, a cidade começa a ter mais movimento, o que desbloqueia igualmente novas missões secundárias.

No que toca à campanha em si, gostei bastante do que vi. Existe uma boa variedade de cenários e situações, algumas bastante diferentes do que é normalmente a jogabilidade de Stellar Blade, e o lore existente é muito interessante. EVE, tal como 2B em NieR: Automata, começa como sendo uma guerreira focada na sua missão e sem grande interesse em demonstrar emoções para com os outros, mas ao longo da aventura vai-se abrindo com a equipa e com alguns NPC’s, particularmente Enya e Kaya. As missões relacionadas com Enya são as melhores missões secundárias do jogo e é uma pena que não tenham havido mais do género. Estas missões vão levar EVE a mostrar alguma ligação com outros sem pedir nada em troca. Como nota adicional, o jogo tem uma funcionalidade QoL muito bem vinda. Sempre que se termina o objetivo de uma missão secundária, o jogo dá a opção de teleportar EVE diretamente para o NPC que deu essa quest, poupando assim tempo. Isto é muito útil em especial em áreas mais lineares onde o fast travel pode não ser de tão fácil acesso.

Por falar em áreas, o jogo oferece uma mistura de áreas mais lineares com áreas mais abertas num estilo semi-open. Por exemplo, Eidos 7, que é a zona inicial e que também pode ser vista na demo, é relativamente linear, pese embora ofereça atalhos, caminhos opcionais e tenha segredos bem escondidos. É uma linearidade semelhante à que se encontra em Devil May Cry, por exemplo. Por sua vez, Wastelands é a primeira grande área aberta, oferecendo um mapa de maiores dimensões e vários segredos por descobrir. Cada área tem o seu próprio estilo e apresenta alguns inimigos específicos. Além disso, alguns dos segredos só podem ser acedidos através de habilidades desbloqueadas na campanha como, por exemplo, o duplo salto, e também graças a missões secundárias. A diversidade de áreas juntamente com a diversidade de inimigos fez com que a aventura nunca se tornasse repetitiva.

Como disse no início desta análise, não joguei a demo, mas vi na altura imensas comparações com Sekiro e Soulslike em geral. Essa parece-me uma má comparação. Parry não significa automaticamente Sekiro. Respawn de inimigos não significa automaticamente Dark Souls. Esse tipo de argumento só leva a que uma franquia e um estilo de jogo seja reduzido a um par de mecânicas e não seja dado o devido valor a esses títulos. Pese embora Stellar Blade tenha alguns elementos tipicamente vistos em Soulsborne, nomeadamente o respawn de inimigos após descansar num acampamento, este jogo está mais em linha com um Star Wars: Jedi Survivor ou Metal Gear Rising a nível de exploração, progressão e dificuldade. São jogos de ação que vão buscar elementos de outros géneros, mas não deixam de ser jogos de ação.

Também se falou na dificuldade de Stellar Blade. Honestamente, não achei particularmente difícil, mas é um jogo que se pode tornar desafiante caso o jogador não utilize devidamente as mecânicas de combate ou se atire de cabeça para o meio de um grupo de inimigos. Tal como nos dois títulos mencionados anteriormente, Stellar Blade não é um jogo em que fazer button mashing seja uma estratégia viável, mas isso não o torna num jogo difícil. Logo desde o início, EVE tem à sua disposição três curas normais, três itens curativos ao longo do tempo e duas curas totais. O número de acampamentos nas áreas é bastante generoso e nada se perde em caso de morte, o que permite fazer uma exploração das áreas sem muita pressão. Em cima disto, a exploração vai levar a que o jogador encontra upgrades de vida para EVE, upgrades que aumentam o número de curas e colecionáveis que aumentam o número máximo de outros itens curativos e ferramentas, já para não falar na possibilidade de se ressuscitar uma vez numa luta. Joguei na dificuldade normal e ao longo de quase 35 horas só três bosses me mataram. Aliás, morri mais vezes com turrets do que com bosses.

Mas como é o combate de Stellar Blade? O combate é baseado em combos, tipo Metal Gear Rising ou NieR: Automata, onde encadear ataques leves com ataques pesados leva a combos diferentes. O timing entre pressionar de botões também leva a outros combos. A maior parte dos inimigos tem três barras visíveis: vida, shields e balance. Para todos os efeitos, balance pode ser encarado como sendo o equivalente a stamina ou posture de outros jogos. Enquanto tiverem shield, os inimigos recebem menos dano, sendo que a solução é atacar normalmente ou com burst attacks. Fazer perfect parries levará a que percam balance e fiquem abertos para um ataque crítico. Por sua vez, os inimigos têm alguns ataques especiais que são codificados por cores. Amarelo significa que é necessário fazer dodge no timing correto. Azul significa fazer dodge para a frente (Blink) quando a arma de EVE brilha. E violeta significa fazer dodge para traz (Repulse) quando a arma de EVE brilha. EVE também tem shield, algo importante de ter em conta, pois sem shield ela recebe mais dano. A certa altura, ela ganha a habilidade de disparar projéteis, conferindo-lhe assim alguma capacidade de ataque a média distância.

Derrotar inimigos irá conferir experiência que, posteriormente, serão traduzidos em pontos de habilidade que poderão ser utilizados para desbloquear novos ataques, melhorar ataques existentes e melhorar os aspetos defensivos. Dado o tipo de combate aqui presente, a prioridade deverá ser desbloquear as habilidades defensivas que facilitam a execução de perfect parries, Blink e Repulse e, posteriormente, melhorar a eficácia na recuperação de beta energy. Assim, EVE terá maior facilidade em se defender e maior facilidade em retirar os shields aos inimigos graças a uma maior frequência de utilização das Beta Skills. Para além disto, é possível equipar modificações que melhoram determinados parâmetros, como os combos darem mais dano, o aumento de defesa, o aumento de dano ao shield dos inimigos e o aumento da percentagem de crit rate, entre outras coisas.

A maior diferença de Stellar Blade para com outros jogos do género está num maior foco em parries e defesa e num menor foco em dodges. Dodges apenas devem ser feitos em caso de um ataque de um inimigo se enquadre nos tipos mencionados anteriormente. Tenho também de referir outra coisa. Stellar Blade entende perfeitamente o que são hit boxes, pois em nenhum momento tive de lidar com sofrer hits de forma manhosas. É verdade que o jogo tem algum jank, particularmente em secções que envolvam qualquer tipo de saltos e plataformas devido ao floreado que EVE de vez em quando tem nos seus movimentos e também numa determinada secção com turrets, mas o sistema de combate é bastante competente e coeso. Foi uma agradável surpresa.

O design de EVE tem sido um tema de conversa por ser supersexualizado. Acho que é difícil contestar isto e acho que é merecedor de crítica válida, se bem que o design dela não é o maior agressor neste ponto. E é uma pena que este tipo de design tenha sido utilizado, pois acaba por ser uma distração desnecessária a tudo o que Stellar Blade faz bem. Embora não seja uma cura para o problema, o jogador pode desbloquear novos fatos ao longo da aventura. Alguns são até pior, mas existem também uns quantos muito bons, incluindo o Wasteland Adventurer e um inspirado em Kill Bill. Estes fatos podem ser desbloqueados de diversas formas. Alguns podem ser adquiridos nos vendedores conforme se sobe o nível de afinidade, outros podem ser encontrados escondidos nas missões ou nos mapas, e outros tornam-se acessíveis ao regressar a áreas anteriormente visitadas via missões secundárias e aceder a novas secções dessa zona.

No que toca à parte técnica, Stellar Blade é igualmente um jogo surpreendentemente bom. Tirando uma ou outra textura de menor qualidade nos cenários, as diferentes áreas, a cidade Xion e as personagens apresentam um bom nível de detalhe. O jogo oferece três modos gráficos: um focado em resolução a 30 FPS, outro a 60 FPS com uma resolução mais baixa, e um terceiro modo intermédio. Este modo intermédio, chamado Balanced, tem uma resolução mais alta que o modo performance e tem como alvo os 60 FPS, mas é um pouco menos consistente e por vezes apresenta quebras de fluidez. Quem tiver uma TV que suporte VRR poderá escolher este modo Balanced, pois não notará essas quebras. Eu joguei neste modo gráfico e não notei qualquer problema. De salientar também a existência de opções para desligar camera shake, chromatic aberration e film grain.

Uma palavra de destaque para a banda sonora. Stellar Blade tem uma das melhores bandas sonoras deste ano até ao momento. Algumas músicas, em particular as mais calmas e ambientais, fizeram-me lembrar NieR: Automata, enquanto que algumas com um tom mais alegre fizeram-me lembrar Final Fantasy XIII-2. Do início ao fim, a banda sonora foi sempre excelente e sempre encaixou no setting e no que estava a acontecer nesse momento.

Admito que Stellar Blade não era dos jogos desta primeira metade de 2024 pelo qual tinha mais entusiasmo, mas depois de o ter jogado na sua totalidade, tornou-se num dos que mais gostei de jogar até agora. Aliás, diverti-me tanto com Stellar Blade que iniciei uma segunda playthrough logo após ter visto o final mesmo sem o New Game Plus estar disponível, coisa que entretanto já foi adicionado via atualização. O combate sólido, extremamente divertido e com notável sensação de impacto, juntamente com uma boa variedade de inimigos e uma banda sonora de grande qualidade são os pontos de destaque. Achei também o setting bastante interessante, e a história, embora não seja revolucionária no estilo sci-fi, provou ser competente o suficiente para me manter interessado até ao fim. Stellar Blade não é perfeito, mas é um título sólido que irá agradar aos fãs de jogos de ação.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8.5

8.5

Stellar Blade surpreendeu-me pela positiva. Esperava algo com uma boa dose de jank, mas em vez disso, recebi um jogo de ação com um bom sistema de combate e uma excelente banda sonora.

User Rating: 4.39 ( 4 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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