Análises

Monster Hunter: World

À conquista do mundo

Versão testada: PlayStation 4

O sucesso da franquia da Capcom tem sido localizado a um território muito específico, o Japão. Desde que a série se tornou um fenómeno na sua terra natal, a companhia japonesa tem tentado alargar a sua base, quer através de novas parcerias, no caso com a Nintendo, quer mudando e acrescentando mecânicas que possam apelar a um público mais vasto, nomeadamente do ocidente, as tentativas têm dado os seus frutos. A evolução da série tem sido dada à medida que a empresa molda o seu título a uma plataforma em particular, e podemos dizer que à coisas que mudam para melhor, dadas as plataformas para as quais é feita. Neste World vemos as coisas evoluírem para tornar a experiência muito melhor, e de que maneira.

A história nunca foi um dos pontos mais importantes do jogo, apesar das várias tentativas, das mais diversas formas, que nos tem sido apresentada. A nossa jornada é uma de exploração no caso. Estamos a acompanhar uma expedição ao chamado “novo mundo”, território desconhecido que não foi ainda explorado. No caminho para o nosso destino, acontece um pequeno imprevisto com o nome de Zorah Magdaros, dragão lendário, do tamanho de um arranha-céus, que durante a nossa viagem marítima, decide que nos quer fazer “companhia”, destruindo grande parte da frota da expedição. O nosso personagem, que é moldado por um criador de avatares muito melhor do que havíamos tido nos jogos anteriores, dá à costa de um território desconhecido, sendo urgente tentar encontrar os sobreviventes do incidente com o nosso amigo dragão. É a partir daqui que começa a nossa aventura, uma de exploração, muita caça, e nova descoberta, mesmo para os mais veteranos, pois há coisas que mudam/evoluem de uma maneira que tornam este jogo no melhor Monster Hunter até à data.

Será uma afirmação um pouco exagerada talvez? É possível, mas foi feito um esforço gigante para tornar este jogo, não só para todos, mas desafiante o suficiente para nos proporcionar desafios novos, mesmo com monstros clássicos como Rathalos ou a sua rainha Rathian.
A estrutura daquilo que é o jogo resume-se em poucas palavras. O nosso objectivo é caçar monstros, para que possamos usar a sua “pele”, os seus materiais, para forjar mais e melhores armas e armaduras. De seguida vamos caçar maiores e mais difíceis monstros para continuarmos este mesmo processo. Soa a repetitivo? Talvez, mas isso só acontece quando já tiverem mais de 60 horas de jogo, pois a experiência de jogabilidade é tão boa que nos impele sempre para mais uma caçada.

Há uma série de sistemas que, para bem da série, para que esta pudesse evoluir, tinham que mudar, portanto, era necessário mudar aspectos que já haviam transitado quase desde o início da série em 2004.
O jogo está dividido em grandes áreas, sem nunca ser mundo aberto. Esqueçam as áreas dividas por ecrãs de carregamento dos jogos anteriores, toda a área onde começam a vossa caçada é um grande recreio que pode ser livremente explorado, o que significa que há determinadas técnicas que necessitam de ser alteradas, quer pelo jogador, quer pelos monstros. Isto possibilita uma maior imersão na exploração e torna a experiência muito mais imersiva, e é definitivamente uma mudança para melhor. Devido ao tamanho destas áreas torna-se necessário estabelecer bases, para que estas possam servir de pequenos pontos de partida, quer para servirem para o fast travel, quer para quando um monstro nos mostra como é andar numa maca empurrada por gatos.

Falar nas áreas maiores é falar na maneira como o jogo muda um dos aspectos mais importantes da sua jogabilidade, que é a preparação que temos que fazer para as caçadas. Os jogadores mais antigos certamente se lembraram daquela altura, nos jogos anteriores, que escolhem uma arma/armadura e começam uma missão. Uma vez esta começada verificam que, ooppss, afinal tenho a arma errada, a armadura não é esta, e esqueci-me de comer uma bela refeição para melhorar temporariamente os meus atributos. Felizmente, e sendo uma das melhores mudanças, apesar de pequena, é agora possível fazer isso tudo referido dentro do próprio mapa nas nossas pequenas bases. Esta mudança é uma das imensas melhorias que este jogo faz, que rompem definitivamente com as mecânicas estabelecidas, que torna quase impossível voltar aos jogos anteriores.

Temos coisas como crafting automático de materiais, uma vez recolhidos os ingredientes necessários, que tornam muito mais simples e divertida a exploração, sem perder tempo a navegar menus. Apanhar insectos e minar materiais deixa de se tornar um exercício de trazer mais um item no nosso saco para poderem ser recolhidos infinitamente. Os itens que recolhemos para fazer poções e buffs ficam marcados no mapa para mais tarde não termos de adivinhar onde estavam numa determinada área. Devido às áreas maiores temos um sistema de rastreio dos monstros denominado scoutflies, que após algumas pistas deixadas pelos monstros, pegadas ou marcas de cheiro, nos direccionam para o monstro. Temos uma enciclopédia no jogo, do género do que a Monster Hunter wiki faz, com todas as fraquezas dos monstros, o que podemos recolher deles, partindo determinadas áreas do bicho. Podemos fazer uma lista de desejos para marcar uma determinada arma/armadura para o jogo nos avisar quando temos materiais suficientes para a fazer. Existe uma árvore de todos os upgrades que podemos fazer às nossas armas para que possamos planear o tipo de arma/armadura que queremos fazer, mas mais importante que isso, se não gostarmos de uma determinada melhoria podemos voltar ao item anterior e são devolvidos os materiais usados!
É o género de melhorias que a série já à muito precisava, e melhoram imensamente a experiência e estabelecem um novo paradigma para a série, que será medida daqui para a frente com os pilares que acabaram de ser estabelecidos.

Todos estes sistemas mencionados são “menores”, tendo em conta o tipo de experiência que Monster Hunter é. Uma luta constante entre caçador e presa para ver quem leva a melhor. Sendo que as mecânicas melhoraram imenso noutros aspectos, havia algum receio, até pela suposta ideia que havia que este jogo seria mais acessível, para que pudesse ser apreciado por mais pessoas. Felizmente estes receios são infundados para quem jogou o jogo, e o jogo está mais frenético que nunca. Foram feitas melhorias à IA dos monstros que possibilitam um padrão de comportamentos dos monstros nas áreas que estes habitam. Para além disso, e pela primeira vez, estes interagem entre si, que é como quem diz, dão umas belas porradas uns nos outros. Ver um Diablos e um Barroth e lutar pelo território? Um Anjanath e um Rathalos a disputar um ninho? Tudo é possível acontecer, até mesmo três monstros, o máximo de monstros que pode ter um mapa ao mesmo tempo, interagirem si. A Capcom cedeu e finalmente temos uma barra de vida nos monstros… mas não da maneira tradicional, pois esta é representada por um linha de frequência cardíaca, por baixo do ícone do bicho. O lock-on também faz a sua aparição, embora a opção por defeito não seja a mais funcional, pode ser usada caso queiram. Toda esta interacção torna o jogo numa experiência única e memorável.

Se é verdade que os monstros ficaram mais inteligentes, também é verdade que o nosso leque de opções para lidarmos com as mais variadas ameaças também melhorou. Temos ao nosso dispor um total de 14 armas que podemos usar. Não existem novidades com alguma arma nova para jogo, mas todas aquelas que existem na série estão presentes. Não enumerando todas, temos clássicos como a Great Sword, Long sword e lança. Para dar uma pitada de frescura ao nosso arsenal foram adicionadas algumas mecânicas, novos movimentos. Estas mecânicas transitam do jogo Monster Hunter Generations, onde tínhamos vários estilos que tornavam o nosso moveset diferente. Aqui não existem estilos diferenciados, mas existem movimentos que permitem aprofundar a complexidade das armas, tornando o combate mais flexível e mais completo. Para além disso, se desejarem, podem sempre experimentar qualquer uma das armas no novo modo de treino, que mais parece vindo de um jogo de luta, onde nos é mostrado não só a lista de movimentos das armas, como algumas das possíveis combinações que estas têm. As armas que usamos que não são de corpo-a-corpo tornam o jogo quase um atirador na terceira pessoa, devido às melhorias nos controlos, e nunca foi tão divertido de as usar, eliminando os controlos mais arcaicos de anteriormente.
As armaduras tornaram-se mais apelativas, pois com apenas um ponto nas diferentes habilidades que cada peça pode ter, é possível activar uma habilidade, se bem que apenas na sua versão base. Isto alarga consideravelmente as hipóteses de escolha, tendo também os sets completos habilidades específicas.

No que diz respeito à estrutura de jogo, onde podem “aplicar” todos estes sistemas, este nunca foi tão robusto e competente. Para além das tradicionais missões que avançam a narrativa, podem fazer outro tipo de missões, nomeadamente tarefas secundárias onde se incluem expedições sem qualquer tempo limite, onde podemos explorar livremente e caçar os monstros que necessitamos para recolher materiais. Existem também missões de recolha de itens, onde temos que cumprir determinados objectivos, que permitem explorar melhor as áreas onde estamos. Por fim as investigações surgem como missões que são geradas aleatoriamente onde existe uma recompensa extra, sendo aqui onde irão passar a maior parte do tempo, lá para o final do jogo.

A mudança para consolas caseiras deu à Capcom uma oportunidade de nos mostrar a beleza dos monstros como nunca havíamos tido. Não haja dúvida que finalmente os monstros estão representados de uma forma impecável. Tudo isto aliado às inúmeras melhorias nas suas animações fazem com que os seus movimentos deixem de ser tão mecânicos como em jogos anteriores, e estas sejam fluídas e transitem para os movimentos seguintes de forma natural. Mesmo nos monstros que regressam podem esperar surpresas. Infelizmente existem algumas problemas de fluidez, pelo menos na versão testada. A performance não é a ideal, e existe também algum pop-in, nas texturas mais longínquas, sujando um pouco a excelência de toda a fauna que nos rodeia. O ciclo de dia-noite existe em todos os mapas e podem surgir caçadas onde o sistema mude entre os ditos ciclos. Já nas vozes podemos escolher o japonês se o quisermos, bem como a tradicional língua de Monster Hunter, aquela espécie de balbuciar característico. Uma nota negativa para a sincronização labial não estar em inglês, caso usem a língua.

Depois de toda esta dose de melhorias existe o online, onde podem caçar com até 3 pessoas, fazendo uma equipa de 4. O tamanho das salas onde podem estar jogadores também aumentou, para 16, o que permite ter até 4 equipas juntas para que se possa sempre arranjar companheiros. O conteúdo pode todo ser jogado em modo solo, já que não existe a divisão entre campanha e multijogador. Caso queiram pedir ajuda numa determinada missão podem enviar um alerta SOS para quem estiver online, o que permite que jogadores possam entrar no vosso jogo, mesmo que já tenham iniciado uma missão. Dependendo do tempo que passou podem recolher menos recompensas, o que significa que têm que trabalhar para ter materiais. Podem ainda pertencer a uma guild que pode ter até 50 membros, possibilitando encontros com amigos mais facilmente. Apesar de algumas condicionantes no que toca a juntar pessoas, em particular nas missões que avançam a história, o online é competente.

Tem sido excitante seguir a série até ao momento. Depois de alguns jogos onde era notória a sensação de estagnação, condenada a acrescentar apenas novos monstros e armas, foi com muito agrado que vi que a Capcom decidiu tornar a série num estandarte moderno com mecânicas que tornam toda a experiência realmente fresca e nova para um grande número de jogadores.

Este World marca sem dúvida um novo começo para a série, apresentando uma qualidade excepcional. Com a promessa de mais conteúdo, missões, monstros e colaborações no horizonte, acho que nunca foi melhor altura de se darem a conhecer a esta série, e quem sabe se não ficam fãs. Monster Hunter é viciante e transformou-se, surgindo algo completamente novo numa série que já leva mais dez anos. Melhor elogio não pode haver, certamente.

Veredito

Nota Final - 10

10

Apesar de alguns problemas técnicos, Monster Hunter: World marca um novo início para a série e apresenta uma qualidade excepcional. Além disso, uma melhor descrição das mecânicas, faz com que este título se torne mais acessível para aqueles que se vão iniciar nesta franquia.

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