Análises

Marvel’s Avengers

Avengers Assemble!

Versão testada: PlayStation 4 Pro

Admito que não fiquei particularmente entusiasmado quando a Crystal Dynamics apresentou o Marvel’s Avengers, e tenho de confessar que fui um dos que, inicialmente, não gostou do aspecto das personagens. Tudo o que foi mostrado na altura não me entusiasmou, a ponto de nem sequer ter experimentado as betas, mesmo gostando deste tipo de jogos de loot. Mas agora tive uma nova oportunidade de ver se a minha primeira impressão estava correcta ou não. Será que mudou alguma coisa?

Marvel’s Avengers é um jogo de loot com uma estrutura GaaS (Game as a Service) à semelhança de Destiny ou The Division. O primeiro passo é entrar na campanha, que tanto pode ser jogada a solo como com outros jogadores. Como habitual neste tipo de jogos, a campanha vai servir como tutorial às mecânicas universais, à jogabilidade única de cada personagem e vai expor o mundo ao jogador. E devo dizer que foi uma grande surpresa. Talvez estivesse com expectativas demasiado baixas por ser um jogo da Crystal Dynamics, porque Tomb Raider (2013) e Rise of the Tomb Raider não são particularmente conhecidos por terem uma boa escrita, mas a história de Marvel’s Avengers é bastante boa e as personagens são bem desenvolvidas, apresentando até interacções que, por vezes, chegam a ultrapassar aquilo que vimos nos filmes.

Não vou entrar em grandes pormenores para não estragar a surpresa, mas a história centra-se principalmente na Kamala Khan, também conhecida como Ms. Marvel. Ao longo da aventura também iremos controlar os outros super-heróis que fazem parte dos Avengers, mas a Kamala é a cola que une tudo. Em retrospectiva, tem piada olhar para trás, para o que foi dito por essa internet fora sobre o foco da história ser a Kamala, quando o resultado final é uma personagem interessante e bem escrita. Ela é a estrela desta história e merece sê-lo. A campanha tem cerca de 15 horas de duração, dependendo do ritmo a que façam as missões, o que até é uma longevidade razoável, em particular pela sua boa qualidade.

Há um outro aspecto que merece ser falado, que é o design das personagens. Como disse no início, eu fiz parte do grupo que torceu o nariz quando as várias personagens foram apresentadas. A critica geral era de que pareciam cosplayers das versões presentes nos filmes. Porém, uma análise um pouco mais profunda, mostra que esta é uma crítica injusta. Os filmes dos Avengers são imensamente populares, a ponto de alguém quando fala do Tony Stark associar imediatamente à cara do Robert Downey Jr., ou imediatamente associar a Black Widow à cara da Scarlett Johansson. E claro, o mesmo é válido para os outros super-heróis. Pensar que as personagens do jogo, cujos eventos nada têm a ver com os filmes, deveriam ter a cara dos actores dos filmes Avengers parece-me no mínimo irrealista. Se os filmes forem retirados da equação, estas personagens foram representadas tal como seria de esperar. O Bruce Banner parece o Bruce Banner, o Thor parece indiscutivelmente o Thor e o Captain America parece o Captain America.

Mas passando à frente, uma vez completada a campanha, chega a hora de enveredar pelo endgame, que é um dos componentes mais importantes em jogos deste género. Nos últimos anos, vimos alguns títulos de loot com uma estrutura GaaS a serem lançados com um endgame limitado, e Marvel’s Avengers, infelizmente, mantém essa tradição. War Zone Missions é onde a procura por melhor loot acontece. Porém, as missões em si não são particularmente variadas ou interessantes, o que aliado às áreas mais pequenas comparativamente a, por exemplo, Destiny, podem tornar o grind aborrecido mais rapidamente que o esperado. Tal como a campanha, estas missões podem ser feitas a solo ou via multiplayer, mas com outros jogadores torna-se mais divertido e é onde a jogabilidade realmente brilha. Como seria de esperar, o loot existe em diferentes raridades e com perks diferentes, sendo também possível aumentar a potência do equipamento com recursos que apanhamos nas missões. E claro, cada personagem tem os seus itens específicos, ou seja, o grind é feito com todas as personagens, ou pelo menos, com aquelas que mais gostam de utilizar.

Por falar em personagens, cada uma das seis disponíveis oferece um estilo diferente. Hulk é o tanque que também é capaz de distribuir ataques muito fortes, enquanto que o Iron Man é uma personagem ágil capaz de ataques à distância e de espalhar caos ao voar pela arena. Por sua vez, Black Widown é basicamente o equivalente a uma assassin class. É extremamente ágil, pode colocar-se invisível e consegue flanquear os inimigos. À primeira vista, o combate de Marvel’s Avengers pode ser muito button mashing, e até é se o jogador recusar a aprender as mecânicas universais do jogo e as especificas das personagens, mas na realidade, não é bem assim. Pode-se combinar golpes fracos, com golpes fortes e golpes especiais, mais dodge cancel pelo meio, para combinações complexas e muito estilosas. Os perks do equipamento em conjunto com as habilidades da skill tree, abrem ainda mais as portas para diferentes builds. No geral, a jogabilidade não só é bastante divertida, como também é bastante mais profunda do que aparenta.

Visualmente, Marvel’s Avengers é bastante bom, com uma atenção aos pormenores acima da média. Os modelos das personagens estão bem detalhados e até os cenários não foram deixados ao acaso. E devido ao tema do jogo, existem muitos efeitos visuais de luz e o HDR realça ainda mais este aspecto. A nível de performance, o jogo corre na maioria do tempo nos 30 FPS, mas notei algumas quebras de fluidez quando existe muita acção no ecrã. Essas ocorrências não foram muito problemáticas mas, escusado será dizer, seria preferível que não acontecessem de todo. E os loadings tendem a ser um pouco longos de mais. A banda sonora é competente e assenta no estilo do jogo, e o elenco de actores é de topo. Sandra Saad fez um excelente trabalho a representar o papel de Kamala Khan, e foi acompanhada por actores muito conhecidos desta indústria como Laura Bailey, Troy Baker e Nolan North.

Importa realçar que de momento, a experiência de Marvel’s Avengers não é isenta de problemas. O jogo tem vários a bugs, que vão desde missões não poderem ser completadas e que impedem a progressão pela campanha, a desafios diários e semanais que não fazem reset. Também há casos de ecrãs de loading infinitos, crashes e itens da Fabrication Machine que não ficam desbloqueados. A Crystal Dynamics está a par destes problemas e tem vindo a comunicar com os jogadores que está tentar corrigir estes problemas o mais depressa possível mas, por enquanto, Marvel’s Avengers pode tornar-se numa experiência um pouco atribulada.

Marvel’s Avengers é um novo Anthem? Não. Anthem era um jogo com potencial e algumas boas ideias, mas cuja fundação era falhada. Marvel’s Avengers é um jogo com boas fundações que oferece uma campanha interessante e de qualidade, com personagens bem escritas que, em alguns momentos, até consegue superar as suas congéneres dos filmes. Além disso, a jogabilidade é muito divertida e mais complexa do que aparenta. Peca, no entanto, por ter um endgame limitado e vários bugs. Já sabemos que vão chegar mais personagens adicionais em breve e também novas missões estilo raid, o que poderá melhorar um pouco o endgame. Resta esperar para ver isso vai ter o efeito desejado e quanto tempo a Crystal Dynamics vai demorar até corrigir os bugs. Por agora, diria que Marvel’s Avengers é um jogo de duas metades: uma campanha sólida e um endgame a precisar de muita atenção.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise. Este artigo foi feito após a actualização 1.06.

Veredito

Nota Final - 7.5

7.5

Marvel's Avengers é um título com uma jogabilidade divertida e uma história surpreendentemente boa, mas que de momento sofre de um endgame básico e de um excesso de bugs.

User Rating: 1.52 ( 3 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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