Análises

Resident Evil Village

Uma vila rural cheia de perigos

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One

A franchise Resident Evil carrega o peso histórico do lançamento ao longo de vários anos, pela Capcom, de vários jogos e spin-offs de survival horror e de acção, marcados transversalmente pelo tema do terror psicológico e da sobrevivência contra seres abjectos, derivados das medonhas experiências biológicas e virais, em ambientes opressivos e sufocantes. Os vários jogos da série Resident Evil tiveram ao longo dos primeiros anos uma recepção bastante positiva, mas que foi perdendo força, pela abordagem posterior aos jogos numa vertente sobretudo centrada na acção, bastante criticada pelos fãs, pelo que assistimos a uma verdadeira revitalização da franchise em 2017 com o jogo Resident Evil: Biohazard, com mudanças na abordagem e jogabilidade, agora na 1ª pessoa, e que foi globalmente acarinhada entre os jogadores pelo regresso a algumas das raízes que marcam esta série, mesmo com o abandono da perspectiva de jogabilidade na 3ª pessoa.

Resident Evil Village é uma sequela directa de Resident Evil Biohazard, agora que passaram alguns anos depois do horror vivido por Ethan Winters na busca pela sua esposa Mia Winters numa decrépita mansão agrícola habitada pela família Baker, algures nos pântanos do Luisiana. Logo no início desta sequela, percebemos que o casal Winters, agora a residir na Europa, tem uma pequena bebé chamada Rose e uma vida familiar aparentemente calma e idílica, liberta dos pesadelos do passado. Mas, como em tudo na série Resident Evil, muito rapidamente a situação se altera com o ataque à sua casa feito pelo capitão Chris Redfield da BSAA, a agência governamental criada para combater o bioterrorismo. É com o rapto da bebé Rose que Ethan Winters inicia a sua busca incessante pela sua filha e a vivência de um pesadelo horrendo numa vila perdida algures na Europa, cheia de mistérios perturbadores, monstros mutantes, lobisomens e outros seres medonhos, num desafio muito intenso pela sobrevivência.

Neste jogo, a vila onde Ethan inicia a aventura, de aspecto decrépito de traços góticos, serve essencialmente como um hub que permite a ligação entre as várias áreas do jogo, tornando-se ela própria numa personagem dinâmica, que carece de muita exploração e onde os objectivos, nem sempre explícitos, fazem com que tenhamos que interagir bastante com o meio envolvente, estar atento aos sinais e seguir as pistas que o desenrolar do jogo vai desvendando. O jogo está bastante intenso e se apesar de tudo, existe alguma linearidade enquanto avançamos na história, tal aspecto está bem disfarçado pela construção de todos os níveis, cuja ligação entre si está muito bem feita e que, permitem que exista diversidade nos espaços a explorar, mas uma sensação muito clara em que nunca nos sentimos perdidos, mas também não somos guiados pela mão entre objectivos. A sensação de sobrevivência ao horror está sempre presente e nunca sabemos o que vamos encontrar na exploração que fazemos.

Ao longo do jogo, enquanto vamos avançando no mesmo, vamos encontrando locais diferenciados, com um aspecto e ambiente único, que permite criar a diversidade gráfica que evita a sensação de repetição. Se alguns dos locais foram previamente desvendados nas demos disponibilizadas, conseguimos encontrar bastantes surpresas, nem sempre agradáveis, tal a intensidade emocional de terror, suspense e acção utilizada em cada uma das áreas e dos Lordes que as dominam, sob alçada da misteriosa Mother Miranda, onde vamos concluindo e sobrevivendo a vários objectivos distintos. A boa integração de puzzles para poder progredir nos acessos a vários locais também está bem conseguido, indo um pouco além da ida do ponto A ao ponto B, já que nem sempre a solução é evidente e requer bastante exploração e utilização do mapa a que temos acesso no menu, de acesso bastante fácil e imediato.

Em termos de jogabilidade, mantendo-se a perspectiva na 1ª pessoa, a exploração ou a morte dos vários inimigos, vai permitindo o acesso a vários itens diferenciados, como objectos valiosos, itens que permitem ser combinados para criar poções de saúde, balas e outro equipamento bélico e também permitem descobrir dinheiro, denominado Lei, a moeda in-game que permite ser trocado por equipamento fundamental para a progressão. Aqui será de destacar o mercador, chamado o Duque, que está presente ao longo do jogo em vários locais estratégicos para aquisição de armas e suas melhorias, receitas de criação, aumento de inventário ou melhorias variadas, em troca do tão precioso Lei ou através da compra de itens valiosos que vamos recuperando nos cenários e com a morte dos vários inimigos. O Duque integra assim Resident Evil Village como um mercador com uma personalidade muito intrigante e que permite a progressão e evolução no jogo sem que este que sobreponha à estratégia que temos que efectuar nas aquisições feitas e nas escolhas e opções que tomamos, já que os recursos não são inesgotáveis e temos que saber ser ponderados no que pretendemos gastar o dinheiro arduamente ganho.

Desde já, devo dizer que são poucos os jogos que me provocam uma real sensação de terror, mais ainda quando, por norma, concluo cada jogo, fazendo-o num ambiente escuro e de headphones e sei que, neste tipo de jogos, já irei esperar uns quanto scary jumps ou a tradicional sensação de ansiedade antes de entrar em qualquer local sem saber o que está por detrás desta ou daquela porta. Contudo, devo dizer que, em Resident Evil Village em vários momentos, senti verdadeira adrenalina em certos momentos de perseguição, ou aquele sentimento de receio antes de entrar nalguns lugares, com a intensidade que já não sentia há muito tempo em jogos do género, sobretudo porque, todo o ambiente está de tal modo envolvente, seja pelos locais detalhados, envolvidos por efeitos sonoros tão detalhados e localizados, que a experiência no seu todo superou as minhas expectativas. A mistura e balanceamento entre o survival horror mais angustiante e temático em termos de ambiente e os momentos de acção mais in-your-face, está bem conseguido, apesar de por vezes, e em certas zonas, estes momentos de acção poderem ser considerados excessivos e fazerem predominar-se sobre um suspense mais psicológico.

Para a optimização da sensação de suspense e terror, contribuíram os aspectos técnicos da versão jogada na PlayStation 5, sobretudo pelo desempenho irrepreensível quando se joga em 4k 60fps, sendo de referir que na opção de gráficos com Raytracing ligado são notórias algumas quebras de framerate pontuais, pelo que dispensei essa opção, os tempos de loading bastante curtos, o haptic feedback do Dualsense na sensação diferenciada no manuseamento das várias armas e do excelente trabalho de envolvência sonora tridimensional, que permitiu uma imersão bastante intensa.

Será ainda de referir que após se completar o jogo, temos acesso a um modo extra de jogo, chamado Mercenários, onde temos que enfrentar hordas de inimigos em time trials, o que permite ampliar a longevidade de Village e o aperfeiçoamento dos skills nos vários desafios colocados.

Em suma, Resident Evil Village é um jogo de grande qualidade que consegue homenagear a série, recuperando algumas referências temáticas que os fãs vão de reconhecer, mas também mantendo-se suficientemente inovador para atrair novos jogadores e fazer recuperar a paixão de alguns eventualmente mais desiludidos com algumas opções do passado. Quem quiser usufruir de momentos de intensa adrenalina e sufocantes momentos de tensão e medo, Village espera por vós. Estarão preparados?

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Resident Evil Village é um título muito bem executado, cuja estrutura irá apelar tanto aos veteranos da série como aos que nunca se entusiasmaram muito por Resident Evil.

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