Análises

Life Is Strange: True Colors

As cores das emoções

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One

Quando o ato de jogar nos envolve de modo interativo nas emoções que provoca e no modo como estes sentimentos interagem nos objectivos a alcançar é inevitável o sentimento de proximidade e imersão com os personagens, à medida que a história vai sendo desvendada.

Life is Strange: True Colors, o quinto título da franchise Life Is Strange, agora desenvolvido pela Deck Nine, mantém a jogabilidade assente numa narrativa interactiva, da qual emerge uma caracterização muito humana dos anseios, medos e desafios que a vida vai provocando. É com essa premissa que somos envolvidos na personagem de Alex Chen, uma rapariga de 24 anos que, depois de uma adolescência marcada por vários traumas decorrentes das instituições sociais por onde passou, procura encontrar um novo rumo e uma nova esperança de futuro para a sua vida.

Life is Strange: True Colors começa assim com Alex Chen a ir reencontrar-se com o seu irmão Gabe, na pequena localidade mineira de Haven Springs, após um afastamento de 8 anos, para um novo recomeço. O argumento em causa seria de algum modo trivial e mundano, mas, como seria de esperar, por detrás da simplicidade do mesmo, o interesse narrativo começa a ganhar terreno após um acontecimento traumático que vai ocorrer e sobretudo quando nos apercebemos logo no início que Alex tem algumas características especiais que a faz ser diferente dos outros. Life is Strange sempre foi marcado pelas características especiais que os seus personagens tinham e no modo como estes interferiam no desenvolvimento da história.

Também em True Colors a personagem tem um poder especial que vai ser central ao longo de toda a jornada. Em concreto, Alex consegue “ler” as emoções fortes que outros personagens estão a sentir e reagir em função delas. Seja raiva, desespero, a angústia de um segredo, mas também um sentimento de prazer intenso ou paz interior, são características que a nossa personagem consegue sentir, de modo muito imersivo, como se fosse algo que ela própria estivesse a viver, o que é essencial para provocar na narrativa as nuances necessárias para o desenrolar da mesma.

Tal poder não é algo que Alex aceite de modo pacífico ou consiga controlar voluntariamente já que alguns dos sentimentos dos outros que são provocados nela, despertam acções não controladas que lhe causam muitos dissabores. Por exemplo, a raiva de alguém, “absorvida” por Alex, provoca nela uma reacção incontrolada de violência e que ela não consegue parar até se conseguir acalmar. Emoções são um tema sempre difícil de conseguir transpor em palavras e neste aspecto True Colors consegue transmitir de modo muito eficaz a diferenciação visual entre os vários sentimentos que os personagens com que ela interage estão a sentir, seja uma áurea vermelha em torno de alguém, claramente a transmitir um sentimento negativo, seja uma áurea de tom amarelado e suave, para transmitir um sentimento mais positivo. Tal como a diversidade de emoções que conhecemos, também aqui a palete de cores para as transmitir é variada e visualmente diferenciada.

Life is Strange: True Colors divide-se em 5 episódios distintos, mas, ao contrário dos títulos anteriores, onde os mesmos eram lançados de modo desfasado no tempo, todo o arco da história pode ser completado sem necessidade de se esperar pelo próximo lançamento.

Um dos aspectos que mais apreciei ao longo das 10 horas que demorei a completar o jogo, foi mesmo a banda sonora irrepreensível. Sempre fui um apreciador das músicas de Life Is Strange, sobretudo pela descoberta de bandas indie e temas desconhecidos de enorme qualidade e envolvência musical. A música está muito presente em True Colors e nesse aspecto, se podemos ter momentos em que vamos ouvir temas de bandas conhecidas como Kings of Leon ou Radiohead, vamos também descobrir temas conhecidos e outros originais escritos para este título, de outras bandas menos conhecidas. Este será sempre um tema subjectivo, mas, na minha opinião, este título foi onde encontrei a melhor banda sonora de todas, muito homogénea e sobretudo muito adaptada aos momentos que vamos vivendo no jogo. Sabemos que a música pode provocar vários sentimentos a quem a ouve e neste jogo, assente em torno das emoções, a música foi escolhida de modo perfeito para dar corpo e imersão em toda a história.

Será importante referir, em termos técnicos, a enorme qualidade e detalhe gráfico das expressões dos vários personagens de True Colors. Finalmente, a modelagem e expressão dos protagonistas tem aqui um nível de detalhe que nunca vi em todos os Life is Strange anteriores que completei. A palete de cores do jogo também merece destaque na medida em que visualmente este é um jogo bastante vívido e intenso. Numa nota mais negativa relativa a questões técnicas, devo referir que foi com alguma desilusão que verifiquei que o jogo não permite uma framerate superior a 30fps, o que, apesar de ser uma opção que os developers indicaram ser propositada nas consolas, não deixa de ser algo estranho e menos comum actualmente em função das características de performance dos lançamentos actuais na nova geração de equipamentos. Apesar de tudo, tendo em conta o tipo de jogabilidade de Life Is Strange, este não será um factor inibidor de obter mesmo assim uma experiência agradável, sobretudo porque é complementada por uma história interessante, por boa música e pelo interesse que provoca em descobrir o mistério que queremos desvendar, muitas vezes com escolhas tão impossíveis que tem que ser feitas, as quais irão influenciar o desenrolar da mesma e os seus vários finais possíveis.

Life Is Strange: True Colors é assim um dos melhores títulos da série, sobretudo por conseguir caracterizar de modo tão detalhado os sentimentos e as várias emoções que caracterizam o ser humano e incorporá-las de modo interactivo na história que Alex Chen vai viver.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8

8

A Deck Nine conseguiu entregar um dos melhores títulos da franquia e um que consegue caracterizar e demonstrar os sentimentos de Alex e dos que lhe são próximos.

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