Análises

Horizon Forbidden West

Red Hair Redemption 2

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PlayStation 5, PlayStation 4

Lançado originalmente em 2017, Horizon Zero Dawn foi uma verdadeira surpresa. O estúdio Guerrilla Games sempre foi talentoso, especialmente na parte técnica, mas nunca conseguiu lançar um jogo com uma história verdadeiramente boa e que soubesse aproveitar da melhor forma o lore. A série Killzone é o perfeito exemplo. Além disso, Horizon Zero Dawn foi o primeiro action RPG do estúdio e uma nova propriedade intelectual. É de louvar que o resultado final tenha sido tão bom quanto foi. Agora, cinco anos depois, chega a hora de Aloy embarcar numa nova aventura. Será que a espera valeu a pena?

Horizon Forbidden West decorre seis meses após os eventos vistos em Horizon Zero Dawn. Aloy continua a sua jornada para salvar o mundo, o que significa tentar arranjar uma forma de restaurar GAIA e ganhar controlo sobre o sistema de terraformação. O perigo está sempre presente, ainda para mais quando Aloy tem de entrar no oeste proibido; uma terra dominada pela tribo guerreira Tenakth que se depara com uma rebelião. A procura de pistas leva Aloy ao encontro de caras conhecidas, como Varl e Erend, mas também de novos aliados como Kotallo e Zo. Como não poderia deixar de ser, o sempre enigmático Sylens marca presença, assim como Tilda, uma misteriosa personagem cujo lugar na história deixo para vocês descobrirem. Escusado será dizer que as personagens foram representadas por um grande elenco de actores, incluindo Ashly Burch, Lance Reddick, Angela Bassett e Carrie-Anne Moss. Eu joguei com as vozes em Inglês, porque estou habituado ao elenco original e porque algumas vozes são demasiado distintas para substituir, mas quem quiser ou precisar tem à sua disposição vozes e legendas em Português.

Não vou entrar em muitos detalhes para não estragar a surpresa a ninguém, mas achei que a história é muito interessante e que seguiu o melhor caminho possível. Quem jogou o primeiro jogo viu certamente a cena após os créditos finais que mostra que HADES afinal não foi destruído. O meu receio era que Horizon Forbidden West passasse uma boa parte do tempo novamente à caça de HADES; que mostrasse pouca originalidade face ao que foi apresentado no primeiro jogo. Felizmente, não é o caso. A história segue um caminho natural, baseada em informação e migalhas existentes no primeiro jogo, e sem se acanhar em lançar algumas bolas curvas. O desenvolvimento de Aloy também é diferente. Ela passou o primeiro jogo a tentar descobrir as suas origens. Agora que sabe toda a verdade, Aloy sente que carrega o peso do mundo nos ombros e isso é algo tocado em várias alturas ao longo da campanha.

Algo que me surpreendeu igualmente pela positiva foi uma maior inclinação para o género RPG. Horizon Zero Dawn foi uma jornada mais individual, em que Aloy passou a maior parte do tempo sozinha com a ocasional conversa com Sylens através do Focus. Em Horizon Forbidden West, Aloy está rodeada de mais gente e até chega a ser acompanhada em algumas missões principais. Existe aquele empurrar da história em arranjar aliados e em formar uma equipa para o derradeiro confronto final como acontece em outros jogos do género. De certa forma, por vezes, fez-me lembrar o The Witcher 3 e Mass Effect, particularmente o primeiro. Shepard passou imenso tempo a tentar convencer as pessoas da existência dos Reapers, e Aloy acaba por fazer algo semelhante, mesmo que nem sempre de forma intencional. Afinal de contas, não é assim tão fácil explicar que os problemas que se têm vindo a desenvolver na biosfera estão associados à falta de uma IA e nem todos aceitam ver os seus costumes questionados.

A campanha tem uma duração semelhante à do primeiro jogo e sempre com um bom ritmo de desenvolvimento. Não houve uma única missão principal secante ou que desejasse que terminasse rapidamente. Penso que isto ateste a qualidade da oferta e da sua variedade. Mas Horizon Forbidden West também é generoso em conteúdo secundário e actividades opcionais. Inclusive, até existe um jogo de tabuleiro baseado nas diferentes máquinas. As missões secundárias propriamente ditas são agora mais relevantes e com melhores recompensas. Algumas envolvem múltiplos passos e com consequências relevantes, e que ajudam o jogador a conhecer melhor os Tenakth e os seus costumes. Além disso, também oferecem alguma interação com as missões principais, nem que seja por estas personagens reconhecerem os feitos de Aloy na campanha ou por marcarem presença numa missão principal. Depois, existem os Errands, que são missões secundárias menos importantes, vários tipos de coleccionáveis, e um par de actividades de combate. Estas actividades incluem o regresso dos Hunting Grounds, em que Aloy terá de completar desafios específicos, e a arena.

A arena é o derradeiro teste às habilidades de combate. Aloy terá de enfrentar diversos desafios, divididos por escalões, que envolvem derrotar pré-determinados tipos de maquinas num período de tempo e com algumas condicionantes à mistura. A dificuldade vai aumentando à medida que se vai avançando nos escalões, assim como as recompensas. Completar estas lutas dá como recompensa medalhas que podem depois ser trocadas por algumas das melhores armas e armaduras do jogo. Alguns destes desafios são complicados e obrigam a tirar o maior partido possível das diferentes mecânicas de jogo, mas são igualmente extremamente divertidos. E quem quiser demonstrar publicamente as suas habilidades de combate, poderá fazê-lo ao tentar completar as lutas no menor tempo possível e colocar o seu nome das leaderboards online.

Horizon Forbidden West é mais RPG que o seu antecessor e isso nota-se igualmente na diferença de níveis entre Aloy e os inimigos, na skill tree, e no equipamento. O primeiro Thunderjaw que se encontrava no mapa em Horizon Zero Dawn, que era a caminho de Meridian, não era complicado de derrotar, mas em Horizon Forbidden West a conversa é outra devido à diferença de níveis e ao pouco equipamento existente naquele ponto da campanha. Digamos que a balança pende indiscutivelmente para o lado do Thunderjaw e basta um hit para Aloy ficar a ver estrelas. Por sua vez, o equipamento foi ajustado de forma a que as suas habilidades e defesas naturais complementem melhor o estilo de jogo de cada jogador e tenham um maior papel na build. Por fim, mas não menos importante, a skill tree foi redesenhada e divida em seis categorias diferentes que incluem o acesso a ataques secundários para cada tipo de arma e habilidades especiais, entre os quais um overshield temporário para defesa extra, um ataque AOE para ajudar a enfrentar grupos de inimigos, ou um aumento temporário de ataque.

As diferentes classes de armas do primeiro jogo estão de regresso, incluindo os diferentes danos elementais, mas foram adicionados novas classes de armas, entre os quais o Spike Thrower, que é um dardo. Tanto as armas como as armaduras podem ser evoluídas com peças e loot das máquinas, fazendo lembrar um pouco Monster Hunter. Nem todas as peças são 100% garantidas e outras obrigam a que sejam separadas das máquinas antes de serem derrotadas. Confesso que andar à caça de máquinas específicas em busca dos materiais necessários para evoluir o equipamento é bastante viciante, particularmente porque a Guerrilla Games teve em consideração o feedback do primeiro jogo e melhorou o combate e a navegação pelo mapa.

No que toca ao combate com as armas de projecteis, as coisas não mudaram muito em relação ao que existia no primeiro jogo, mas verdade seja dita, também não precisava. Aloy continua a ter arcos para curto e longo alcance, armadilhas para colocar no caminho das máquinas, fisgas, e âncoras para prender temporariamente os inimigos ao chão, juntamente com algumas classes de armas novas. Onde melhorou significativamente foi no combate corpo-a-corpo. Este tipo de combate era relativamente básico em Horizon Zero Dawn, mas agora existe uma maior complexidade com a introdução de diferentes combos e com a possibilidade de os interligar. Além disso, a lança da Aloy vai ganhando energia com cada hit até ser possível transferir essa energia para um inimigo e criar uma explosão que dá muito dano. O combate corpo-a-corpo está mais complexo e, por isso, existem melee pits em algumas povoações que oferecem desafios que funcionam como uma espécie de tutorial e que culminam com um teste final.

A exploração foi outro aspecto melhorado em Horizon Forbidden West. A escalada é agora menos limitada. Não é possível escalar tudo e mais alguma coisa como em Assassin’s Creed, mas também não é esse o objectivo, porque este não é um jogo sandbox. Em regra geral, o que parece ser escalável é escalável. O resultado final é um bom compromisso entre liberdade e uma linha guiadora para oferecer uma boa estrutura de desenvolvimento das missões. Aloy ganhou também acesso a um gancho que lhe permite saltar e agarrar-se a certos pontos, e ao Shieldwing, um para-quedas feito de energia que lhe permite pairar e descer suavemente das alturas. Estas duas ferramentas podem ser encadeadas uma atrás da outra em várias situações, como ajudar a chegar a alguma área de difícil acesso, apanhar um inimigo desprevenido, ou para ajudar na movimentação durante os combates. De facto, tanto os combates como a exploração pelo mundo ficaram mais dinâmicos com as novas adições. Ainda no que toca à exploração, agora é possível explorar debaixo de água. Inicialmente a exploração neste ambiente é limitada pela quantidade de oxigénio, mas mais tarde, após uma missão de história, Aloy ganha uma ferramenta que lhe permite ficar debaixo de água sem restrições. A exploração aquática, tanto no mundo como em missões, não inclui combate, oferecendo no seu lugar secções de stealth.

As máquinas têm obviamente um papel de destaque na série. Além do regresso de máquinas do primeiro jogo e da expansão Frozen Wilds, como Ravager, Stormbird, Thunderjaw, Scorcher e Frostclaw, Horizon Forbidden West introduz uma gama de novas máquinas, como Tremortusk, Clawstrider, Shellsnapper e Slitherfang. Estas máquinas foram apresentadas em trailers, duas delas com grande destaque, mas não foram as únicas adições, e algumas das novas máquinas são mais poderosas e desafiantes que um Thunderjaw. No total, o jogo oferece um leque de mais de 40 máquinas distintas, sendo que cada uma tem variantes diferentes. Os Talneck, que são essencialmente as “Ubisoft towers” do jogo, estão de regresso, mas foram reformulados e são mais envolventes. No primeiro jogo, apenas era preciso encontrar um ponto alto o suficiente nas redondezas que permitisse a Aloy saltar para o Tallneck, mas em Horizon Forbidden West envolvem alguns puzzles ambientais e combates. Deixaram de ser tão lineares como no primeiro jogo.

No que toca ao aspecto técnico, a Guerrilla Games melhorou algumas das coisas mais criticadas em Horizon Zero Dawn, nomeadamente as animações faciais e as conversas com NPC’s. As animações faciais de Horizon Forbidden West são muito boas, ainda para mais tratando-se de um jogo open world, e conseguem rivalizar e até ultrapassar outras grandes produções. Por sua vez, as conversas com NPC’s, que já tinham sido alvo de melhorias na expansão Frozen Wilds, ficaram ainda mais dinâmicas. É de louvar o trabalho feito pelo estúdio nestes dois pontos, porque a natureza RPG do jogo significa que existe uma grande quantidade de diálogo e cutscenes.

Visualmente, Horizon Forbidden West é fantástico. O mundo é mais denso e detalhado que no primeiro jogo, e as cidades são mais vivas e dinâmicas. Eu joguei na PS5 em Modo Performance, que reduz a resolução para dar foco aos 60 FPS, e ao longo de mais de 70 horas só notei uma quebra de fluidez durante uma cutscene. Em combate e exploração nunca notei uma quebra de fluidez. Aqueles que preferirem o “eye candy” têm à sua disposição o Modo Resolução que, como o nome deixa antever, oferece uma resolução mais alta, mas a 30 FPS. Nota-se a diferença de resolução entre ambos os modos gráficos, mas a qualidade de imagem no Modo Performance é boa o suficiente para uma TV 4K e nunca senti vontade de trocar de modo gráfico. Também experimentei o jogo na PS4 Pro durante algumas horas e, felizmente, não há muito a reportar. Embora tenha algum detalhe e efeitos a menos que a versão PS5, o jogo tem um excelente aspecto e ultrapassa os visuais de Horizon Zero Dawn.

As opções de acessibilidade presentes em Horizon Forbidden West merecem uma palavra de destaque. A Guerrilla Games adicionou várias opções com o intuito de oferecer uma experiência imersiva e acessível que pode ser usufruída por todos os jogadores. É possível alterar o tamanho das legendas e/ou adicionar um background para serem mais legíveis, alterar o idioma dos textos em separado do idioma das falas, ajustar a desaceleração do tempo quando se utiliza o selector de armas, ligar a activação automática do Shieldwing quando se está a cair, ajustar o aim assist, e activar o ajuste de mira com a função de sensor de movimento do comando, entre outras coisas. Existe também a opção de dificuldade personalizada, que permite ajustar individualmente vários parâmetros incluindo o dano sofrido, a vida dos inimigos, a duração da concentração, e loot fácil. Alguns componentes das máquinas são destruídos quando morrem. A opção loot fácil faz com que estes componentes não sejam destruídos e possam ser saqueados com as máquinas mortas.

Mas nenhum jogo é perfeito e Horizon Forbidden West não é excepção. Um aspecto que necessita de alguns ajustes é a user interface, mais especificamente sobre os coils, itens que podem ser equipados nas armas para aumentar a sua eficácia. Existe uma clara indicação de quais coils estão equipados na arma que está a ser inspeccionada, mas essa indicação deixa de ser clara com coils equipados em outras armas. O “visto” para indicar que está a ser usado em outra arma é demasiado dissimulado no ícone do coil. Além disso, comparar armas e equipamento deveria de ser mais prático do que aquilo que é. Por fim, e a pior das ofensas, é a falta de um modo New Game Plus. É possível que venha a ser adicionado mais tarde, como aconteceu com o primeiro jogo e outros títulos da Sony, mas é uma pena que não esteja presente neste momento. Se tivesse essa opção, teria iniciado um New Game Plus sem pensar duas vezes.

Faltou falar de muitas mais coisas, mas o texto já vai longo. O que importa reter é que Horizon Forbidden West pegou na boa fundação criada em Horizon Zero Dawn e melhorou praticamente todos os aspectos de jogo, ao mesmo tempo que aumentou a oferta de conteúdo sem deixar a qualidade para segundo plano. E como se não bastasse, tudo é acompanhado por uma excelente banda sonora. Existem algumas arestas a ser limadas e é desapontante a ausência de um New Game Plus, mas Horizon Forbidden West é o melhor trabalho da Guerrilla Games até à data e um dos melhores jogos actualmente disponíveis para a PS5. Esta é uma sequela digna do nome que irá deliciar os fãs do primeiro jogo e é um título recomendado para todos os donos de uma consola PlayStation.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

Horizon Forbidden West oferece uma experiência mais refinada e com muito conteúdo de qualidade. É uma excelente continuação das aventuras de Aloy e companhia e é, igualmente, o melhor trabalho da Guerrilla Games até à data.

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