Análises

Redfall

Uma pálida experiência

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Redfall é o mais recente trabalho da Arkane, companhia bastante conhecida por fazer immersive sims de grande qualidade como Prey e Dishonored, como tal, havia a expetativa que tal nível de qualidade se mantivesse neste título, onde vampiros são a principal ameaça. Infelizmente, e correndo o risco de dar spoiler à conclusão desta análise, desilude em muitos aspetos, mais do que seria de esperar tendo em conta o historial da companhia. Mas vamos por partes.

A premissa dá conta de que uma cidade no estado norte-americano de Massachusetts está cercada por vampiros que bloquearam o sol e isolaram os cidadãos do mundo exterior. Cabe ao jogador desvendar o mistério do aparecimento dos vampiros e enfrentar as criaturas para salvar os habitantes da cidade. Talvez seja algum favoritismo da minha parte porque gosto deste tipo de tema, mas achei que a história foi interessante o suficiente me manter interessado em ver o que ia acontecer. Se há um aspeto menos bem conseguido é a forma como a história é contada, uma vez que é através de imagens paradas e não de cutscenes. Felizmente o voice acting é de bom nível, o que ajuda a incutir algum carisma nas diversas personagens.

Um outro aspeto positivo está no mundo. O mapa não é excessivamente grande o que, para mim, acaba por ser algo positivo, e gosto da forma como foi apresentado. Existem vários locais interessantes de explorar, e o aspeto visual algo estilizado, como é tradição deste estúdio, contribui positivamente para salientar o tom sombrio do jogo. Uma grande crítica neste ponto está no facto de o mapa ser muito vazio. Talvez seja intencional, porque a cidade está completamente isolada e à mercê dos vampiros, talvez seja falha no desenvolvimento do jogo, porque também não existem muitos inimigos no mundo. De qualquer forma, o resultado é o mesmo: ir de missão para missão sem grande coisa para fazer pelo meio.

E assim terminam os aspetos positivos. Redfall é um jogo caricato. Em certas coisas, faz-me lembrar a versão original do Resident Evil 6, ou seja, um jogo que é o resultado de uma mistela de ideias pouco desenvolvidas e mal implementadas. Redfall é um jogo cooperativo online, onde só o host progride na campanha. Isto é um péssimo conceito que não promove esta componente. Além disso, é um jogo always online. No entanto, e ao contrário de outros jogos também always online que utilizam isso para apresentar um mundo dinâmico e em constante mudança, Redfall não utiliza o always online para nada. É apenas um requisito arbitrário sem qualquer impacto positivo na experiência. Além disso, é um jogo cooperativo always online sem opção de matchmaking, o que não faz grande sentido. Importa salientar que é possível fazer a campanha a solo, mas dado o vazio do mundo dá para retirar mais diversão ao jogar com amigos.

Depois há a componente de loot. Eu joguei vários jogos de loot ao longo dos anos, incluindo muitas centenas de horas gastas em looter shooters como Destiny e The Division, ou action RPG como Diablo. É uma componente que gosto bastante em jogos e, quando bem feita, oferece imensas horas de diversão. Em Redfall, esta componente é básica e pouco desenvolvida, o que é estranho, tendo em conta que, supostamente, deveria de ser um dos aspetos principais. As armas e equipamento não são interessantes ou únicos o suficiente, e as próprias habilidades de cada uma das quatro personagens jogáveis também não são nada de extraordinárias. Loot único e habilidades extravagantes é o motor que impulsiona jogos de loot de qualidade, e isso é algo que não se encontra aqui.

Para piorar a situação, Redfall não tem conteúdo endgame ou qualquer conteúdo equivalente onde se possa realmente tirar partido do conceito de looter shooter. Uma vez acabada a campanha, que pode durar entre 15 a 20 horas, dependendo de quando conteúdo opcional é feito, somos presenteados com a possibilidade de recomeçar a campanha de novo, não havendo sequer a opção de voltar ao mapa para completar o que ficou para trás. Foi a primeira vez que me deparei com um looter shooter sem qualquer conteúdo endgame e onde terminar a campanha significa recomeçar do início.

A nível técnico, as coisas não são muito melhores. Redfall não é propriamente um portento gráfico, pois notam-se algumas inconsistências a nível de detalhe e texturas de baixa resolução. Além disso, existem também problemas de pop-in demorando, por vezes vários segundo a carregar completamente as texturas. De momento, o jogo só corre a 30 FPS na Xbox Series X, e mesmo assim, acontecem algumas quebras de fluidez sempre que há fogo ou neblina no ecrã ou se muda de zona.

Em cima disto existe uma panóplia de bugs que afundam ainda mais a experiência de jogo, incluindo inimigos na parede, o trespassar de objetos, animações em falta, personagens a fazer a pose em T, miras a não funcionar corretamente, e também uma IA péssima. Aliás, não sei se a IA é péssima ou se tem algum problema, porque não funciona de todo como deveria de funcionar. Em algumas alturas os inimigos comportam-se como o esperado e disparam na nossa direção, mas noutras alturas não reparam na nossa presença mesmo se estivermos literalmente a um metro de distância, ou então reparam e fogem lentamente para cover e disparam numa direção aleatória. É bizarro.

Já é sabido que a Xbox e a Arkane vão continuar a suportar o jogo e vão fazer diversas melhorias ao longo dos próximos tempos, incluindo a adição de um modo performance a 60 FPS na Xbox Series X e, claro está, a correção de vários bugs. Contudo, não sei se isso será o suficiente para dar a volta ao jogo. Problemas técnicos dão para corrigir, mas uma má fundação não. E é na fundação onde Redfall falha. Existe uma clara falta de foco naquilo que Redfall deveria de ser; se um jogo cooperativo, se um looter shooter, se um immersive sim ou outra coisa qualquer. Se são fãs da Arkane, lamento dizer que não vão encontrar muito do seu ADN neste título. Se, por outro lado, não conhecem este estúdio e não sabem o porquê de ser tão conceituado, talvez seja melhor experimentarem alguns dos seus trabalhos anteriores em vez de entrarem em Redfall no estado atual.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 5

5

Redfall é uma desilusão, principalmente tendo em conta o pedigree do estúdio que o criou. Este jogo é o resultado de um conjunto de ideias pouco desenvolvidas e mal implementadas.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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