Análises

Street Fighter 6

Já não há Banana Ken

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Eu cresci a jogar jogos de luta, incluindo Tekken e Mortal Kombat, mas principalmente Street Fighter, indo de entradas populares como uma das múltiplas versões de Street Fighter 2 e o igualmente fantástico Street Fighter Alpha 3 até entradas que ninguém se lembra como Street Fighter EX Plus Alpha, cuja cópia ainda tenho guardada. Escusado será dizer que tenho um carinho especial por esta franquia. Lançado em 2016, Street Fighter 5 desiludiu em diversos aspetos e durante largos meses percorreu um longo e acidentado percurso até à redenção. Será que o recente Street Fighter 6 aprendeu com os erros do seu antecessor?

A resposta é um definitivo sim. Street Fighter 6 tem fundações mais sólidas, uma qualidade mais consistente e maior quantidade de conteúdo. Mas indo por partes, Street Fighter 6 finalmente empurra a história para a frente continuando assim os eventos de Street Fighter 3 vistos há 23 anos atrás. O elenco de lutadores é algo familiar, mas também refrescante. Veteranos bastante conhecidos, como Ryu, Ken, Chun-Li, Cammy e Guile estão presentes, e ao mesmo tempo são introduzidos personagens estreantes muito interessantes como Kimberly, Manon e Marisa. Aliás, as novas personagens são consideravelmente melhores do que os estreantes introduzidos em Street Fighter 5, em particular F.A.N.G. e Necalli. Admito que não estou muito habituado a não ver o M. Bison no elenco de um Street Fighter numerado e é uma pena que Akuma seja novamente DLC, mas no geral, o elenco de 18 lutadores é bastante diversificado e muito interessante.

No que toca a modos de jogo, a variedade e quantidade é um ponto positivo que vai encher as medidas aos veteranos e novatos da série e deste género de jogos no geral. Primeiro está o World Tour, um modo com elementos RPG em formato open world que possibilita aos jogadores criar o seu avatar e seguir uma história. Os jogadores vão poder explorar Metro City e batalhar contra NPC’s em troca de experiência para desbloquear novas habilidades na skill tree e de materiais que servirão para criar peças de equipamento. Além disso, os lutadores do elenco base são mestres que ensinarão os seus golpes e até possibilitarão a utilização do seu estilo de luta. Querem que o vosso avatar lute como Chun-Li? É uma possibilidade. E como Marisa? Também. Até é possível misturar golpes e estilos de diferentes mestres.

É verdade que a história do World Tour não é particularmente interessante, mas o modo em si é bastante bom e tem uma longevidade de mais de duas dezenas de horas, além de que possibilita também o desbloqueio de fatos clássicos para os lutadores do elenco. Este modo de jogo acaba também por funcionar discretamente como um tutorial alongado e numa forma de habituação ao esquema tradicional de luta de seis botões dos Street Fighter e igualmente dos sistemas específicos deste título. Quem não gostar ou não quiser enfiar a cabeça no super completo tutorial tem assim uma opção alternativa de começar a aprender os básicos.

No outro lado do espectro está a componente competitiva online. O jogo utiliza rollback netcode para uma experiência online suave e consistente, e na minha experiência com o jogo, é uma boa implementação deste método. Além disso, Street Fighter 6 suporta crossplay entre PC, PlayStation 5, PlayStation 4 e Xbox Series X/S, algo que será muito bom para a saúde do jogo a longo prazo.

Street Fighter 6 é um jogo de luta profundo mas os sistemas de treino aqui presentes são robustos e, independentemente do nível de habilidade de cada um, são oferecidas todas as ferramentas necessárias para possibilitar uma aprendizagem e uma evolução. São dadas as opções típicas como a informação dos inputs e dos ataques, mas também um muito útil gráfico referente ao frame de cada golpe que permite facilmente compreender quais são os golpes mais seguros e os que acarretam mais riscos de serem punidos. Obviamente, também é possível colocar o boneco de treino a realizar determinadas manobras para possibilitar o treino contra essas mesmas situações. Em cima disto, existem guias detalhados e interativos de todas personagens que demonstram muito bem o estilo básico de cada lutador e combo trials que servem como o derradeiro teste ao que se aprendeu.

Há uma outra funcionalidade que, embora não esteja ligada ao treino, também acaba por contribuir para ajudar o jogador a aprender. Refiro-me aos comentadores. Street Fighter 6 introduz comentários durante os combates que descrevem de forma dinâmica o que se passa no ecrã e acabam por servir como indicadores sobre o que se está a fazer, bem ou mal, e sobre o que se deveria fazer. Destaco em particular os comentários do James Chen e do TastySteve, dois nomes conhecidos de quem vê torneios de Street Fighter. Jogos de luta são complicados e necessitam de um grande investimento de tempo e empenho e isso não é diferente em Street Fighter 6, mas o jogo faz um excelente trabalho em retirar alguma da fricção existente no processo de aprendizagem.

Street Fighter 6 vai ainda mais além ao oferecer um esquema de controlo moderno. Tradicionalmente, os Street Fighter são jogos de seis botões, ou seja, soco fraco, médio e forte e o mesmo no que toca aos pontapés, mas Street Fighter 6 inclui como opção um esquema moderno que faz lembrar Guilty Gear Strive ou DNF Duel. Este esquema de controlo não quebra nenhuma regra de como as coisas funcionam, mas permite executar combos de forma fácil sem ser necessário executar os inputs e movimentos tradicionais. Este esquema de controlo talvez não seja a melhor forma de aprender os fundamentais do sistema de combate, mas permite que qualquer um, independentemente do se nível de habilidade, entre no jogo e se divirta num dos diversos modos, coisa que de outra forma talvez não se sentisse tentado a fazer.

Naturalmente, uma das principais componentes de qualquer jogo de luta é o sistema de combate e as suas mecânicas particulares. Street Fighter 5 teve o V-System, enquanto que Street Fighter 6 coloca isso de parte e substitui-o pelo Drive System, um dos melhores e mais interessantes sistemas implementados na série até à data. Por debaixo da barra de vida está a barra de Drive e é esta barra que permite a execução de algumas manobras específicas ofensivas e defensivas. Drive Reversal é uma manobra que empurra o adversário para longe, servindo como uma forma de retirar a pressão e fazer reset à situação. Por sua vez, Drive Rush é um dash rápido para a frente que permite a execução de combos que normalmente não são possíveis.

Mas uma das manobras mais instantaneamente efetivas chama-se Drive Impact. Esta manobra tem armor capaz de aguentar três ataques e acerta um golpe devastador que coloca o adversário num estado completamente vulnerável. E mesmo que o adversário defenda um Drive Impact, é empurrado para trás. Se isso acontecer perto das bordas do ecrã, ele ficará automaticamente atordoado. De referir que a barra de Drive também abrange os EX Moves e parries. Este sistema adiciona uma boa dose de profundidade ao sistema de combate e requer uma boa gestão deste importantíssimo recurso. E uma vez que a barra de Drive começa cheia em cada round, é aberta a porta para jogos mentais e quem conseguir ler e prever o que o seu oponente vai fazer vai ser recompensado.

Uma outra componente onde Street Fighter 6 brilha é no estilo artístico. Este jogo é 2.5D tal como os dois anteriores títulos numerados, ou seja, modelos 3D num plano 2D, mas o design das personagens é consideravelmente melhor do que o apresentado em Street Fighter 5, incluindo os novos visuais das personagens veteranas. Banana Ken é coisa do passado. Os cenários são super detalhados e os efeitos dos golpes, principalmente dos Drive Impact, enchem o ecrã de cor. Visualmente este é um jogo muito apelativo e uma grande melhoria face ao que a série ofereceu nas últimas duas entradas.

Street Fighter 5 não é nem nunca foi um mau jogo, mas foi um que tropeçou durante os primeiros tempos de vida. Diria que foi o resultado de um período onde os jogos de luta da Capcom andavam na mó de baixo. Street Fighter 6, por sua vez, nasceu num período onde a Capcom, em geral, está em alta. O jogo oferece bastante conteúdo single player, um robusto modo online, um elenco de lutadores diversificado e interessante, e um completo tutorial que oferece toda a informação necessária para aprender e evoluir. Mas acima de tudo, o Drive System é capaz de ser o mais flexível e versátil sistema introduzido num Street Fighter até agora. Street Fighter 6 não é perfeito; nenhum jogo o é, mas é um excelente jogo de luta e um dos melhores títulos desta série.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

Street Fighter 6 é uma das melhores entradas nesta série, oferecendo um elenco de lutadores interessante e uma boa dose de conteúdo single player e multiplayer.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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