Análises

Forza Motorsport

Prego a fundo!

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Forza Motorsport 4 é ainda hoje o meu jogo favorito da Xbox. A combinação da variedade de carros e de pistas com uma condução precisa e entusiasmante levou-me a perder centenas de horas tal a diversão proporcionada. Mas os títulos seguintes não conseguiram corresponder à expetativa devido a uma condução demasiado solta e onde os carros tinham permanentemente pouca aderência. Era quase como se andassem sob gelo. Para piorar a situação, o lançamento fixo de dois em dois anos impossibilitava a implementação de funcionalidades que a comunidade andava a pedir desde o terceiro título, resultando numa total estagnação. Como tal, a resposta da Turn 10 foi alocar o maior tempo de desenvolvimento que um jogo desta série alguma vez teve, a ponto deste novo Forza Motorsport ser lançado seis anos depois de Forza Motorsport 7.

Indo diretamente ao ponto mais importante: a condução. Como dito anteriormente, a condução dos Forza Motorsport piorou no quinto título e continuou a piorar nos seguintes dois títulos. Não tinham uma condução divertida devido à pouca aderência dos carros, incluindo carros de corrida que, na realidade, têm bastante aderência como os da categoria GT3. Não era uma condução divertida nem natural. Felizmente, este novo Forza Motorsport, que serve como reboot da franquia, melhora consideravelmente este ponto graças a um remodelado sistema de modelação dos pneus. Como resultado, os carros têm muito mais aderência do que em títulos anteriores e uma curva de perda de aderência mais natural e previsível, além de que já não “chocam” contra os limitadores. Outra consequência positiva deste novo sistema é a introdução da possibilidade de se escolher diferentes compostos de pneus e também pneus de chuva. Isto significa que pela primeira vez nesta série existem verdadeiras estratégias de boxes.

Contudo, nem tudo é positivo. A condução em piso molhado é estranha. Seria expetável que os carros fossem mais complicados de controlar em condições climatéricas mais adversas, particularmente os carros de rua com os seus pneus de origem, mas não é isso que acontece. Sim, o carro tem menos tração, sendo necessário travar um pouco mais cedo e nota-se que demora um pouco mais a acelerar à saída das curvas, mas em termos de comportamento, a diferença entre conduzir em piso seco ou piso molhado é mínima. O tempo por volta é mais lento, mas não há qualquer imprevisibilidade ou dificuldade em conduzir quando chove a potes. Parece-me algo que merece alguma atenção no futuro.

Outra estreia na franquia é a existência de condições climatéricas dinâmicas e alturas do dia dinâmicas em simultâneo. Certo, pode não ser super realista uma corrida de cinco voltas ter uma transição mais rápida entre alturas do dia ou estado do tempo, mas acrescenta mais emoção aos eventos e é bem vindo em corridas mais longas. No entanto, isto é algo que não é devidamente suportado pelos sistemas do jogo. Por exemplo, devido à existência de condições climatéricas dinâmicas, faz falta poder ver uma previsão do estado do tempo para essa corrida antes do evento e/ou durante a corrida. E também devido à existência de condições climatéricas dinâmicas, faz falta poder ajustar o ABS, TCS e brake bias em tempo real durante a corrida de forma a se poder adaptar melhor às condições do traçado. São coisas que outros jogos do género têm e que aqui, estranhamente, estão em falta.

Um jogo de carros não é nada sem carros e sem pistas. No que toca a veículos especificamente, este Forza Motorsport conta com cerca de 500 bólides de dezenas marcas e de uma diversidade razoável de categorias e potências, de modernos e clássicos. No geral, achei a lista de carros competente, mas apresenta alguns buracos. Por exemplo, desapareceram uma boa parte dos carros WTCC, há uma falta gritante de carros GT3/GTE, no que toca a LMP1 há o Porsche de 2017 mas depois só há o Toyota e Audi de 2014, a Peugeot só tem três carros, e a Volvo só tem um. Sim, isto é algo que deverá ser melhorado ao longo do tempo com DLC pago, mas é um pouco desepcionante. Mas a grande desilusão é a lista de pistas que, honestamente, é pouco entusiasmante. O jogo conta com 20 locais únicos, incluindo a icónica pista Spa-Francorchamps e o popular circuito original Maple Valley. Contudo, ficaram para trás várias pistas de renome e que estiveram presentes em Forza Motorsport 7, como é o caso de Bathurst, Sebring, Monza, Brands Hatch, Circuit Of The Americas, Hockenheimring, Daytona, e Nürburgring Nordschleife. Yas Marina também está em falta, mas deverá ser adicionada em Novembro deste ano. Por sua vez, Nürburgring Nordschleife deverá ser adicionada algures na Primavera de 2024.

A campanha deste Forza Motorsport, aqui chamada de Builders Cup, é um bocado morna. Mesmo eu, que estou habituado a este tipo de campanhas por ter jogado os Gran Turismo e os anteriores Forza Motorsport, achei que não apresenta tanta diversidade de eventos como gostaria e como estava habituado. Também não ajuda todos os eventos terem o mesmo tipo de estrutura e não dar para passar os treinos à frente. Ou melhor, dá para passar à frente, mas só depois de se entrar no treino. Ter que fazer isto em todas as corridas acaba por cansar.

Por sua vez, o modo online recebeu algumas importantes alterações. Nos jogos anteriores, as corridas públicas eram uma autêntica carnificina, aquilo que se chama de carrinhos de choque, a ponto de nunca ter conseguido experienciar uma corrida limpa. A única forma de ter uma corrida sem constantes empurrões era através de eventos e campeonatos privados. Este novo Forza Motorsport implementa um sistema de penalização semelhante ao de Gran Turismo 7 e derivado do iRacing, que visa separar os jogadores por habilidade e desportivismo. Ainda é cedo para falar de forma definitiva sobre este aspeto, mas a verdade é que é bastante promissor e é algo muito mais substancial do que tinha sido oferecido até agora na série. Em principio, o sistema irá filtrar ao longo do tempo quem quer fazer corridas e quem apenas quer estragar as corridas aos outros.

Visualmente, este novo Forza Motorsport é um salto notório quando comparado com o título anterior. Isso deve-se a um novo sistema de iluminação mais natural e também a uma maior quantidade de detalhe em redor do asfalto. Um olhar mais atento pode revelar algumas texturas de qualidade duvidosa em alguns pontos, mas no geral, as pistas são mais detalhadas e mais densas em termos de objetos. Os traçados foram todos retocados, incluindo as pistas reais. Por exemplo, o Circuit de Barcelona-Catalunya já conta com o atual layout, ou seja, com uma nova curva 10 e sem a chicane. Os carros também têm no geral um bom nível de detalhe, em particular os que se estreiam na série com este jogo, mas nota-se alguma inconsistência nos modelos que vieram de jogos anteriores. Por exemplo, o Porsche GT Team 911 RSR continua a ter a falta do monitor no painel central que funciona como espelho retrovisor, enquanto que o Mitsubishi Lancer Evolution VI GSR continua a ter o escape tapado.

Em termos técnicos, Forza Motorsport oferece três modos gráficos na Xbox Series X: um Quality Mode com 4K dinâmico a 30 FPS, um Performance Mode com 4K dinâmico a 60 FPS, e um Performance RT com 4K dinâmico a 60 FPS. Comecei por experimentar o Performance RT, mas depois de algumas corridas de dia e de noite, achei que o ray-tracing não é notório o suficiente para compensar uma resolução mais baixa, como tal, voltei para o Performance Mode que é o modo gráfico recomendado. Durante as minhas sessões, não notei qualquer problema de performance durante as corridas, independentemente da altura do dia e das condições climatéricas. Embora não tenha propriamente impacto na jogabilidade, não deixa de ser um pouco desapontante que os replays, sequências de início e de final de corrida corram a 30 FPS. Uma nota também para a apresentação dos menus que, neste jogo, é bastante desinspirada e sem personalidade. Num jogo como este onde se passa bastante tempo nos menus a afinar carros e a criar pinturas, é uma pena que não tenham uma apresentação mais cuidada e moderna. Também não compreendo como continua a ser impossível ver uma preview em 3D de uma pintura criada por outros utilizadores sem ter de a descarregar e aplicar ao carro.

Para o fim, deixei aquela que é a maior e igualmente a mais contenciosa novidade: o sistema de progressão. Para quem não está a par, o novo sistema de progressão envolve subir o nível dos carros para desbloquear progressivamente upgrades mecânicos. Os carros neste jogo são equiparados a personagens num RPG. Num nível ganha-se a possibilidade de alterar as suspensões, noutro a caixa de mudanças, noutro os pneus, e assim sucessivamente até chegar ao nível 50. Um sistema que recompensa a lealdade a um modelo ou marca não é novo. RIDE 4 tem isso, e até a própria série Forza Motorsport teve isso em Forza Motorsport 4. No entanto, nenhum destes jogos colocava upgrades mecânicos atrás desse sistema de lealdade.

Um dos pilares centrais desta série sempre foi a liberdade de se poder personalizar o carro a nível mecânico a gosto, mas este sistema coloca uma barreira desnecessária nessa vertente, uma vez que será preciso primeiro colocar horas num carro para se poder brincar com a afinação desse único carro. Antes podia-se pegar num carro de uma categoria mais baixa e modificá-lo e/ou fazer conversões para o levar para categorias mais altas, seja por curiosidade, desafio ou por ser um carro que se gostava muito, mas agora, isso só é possível depois de colocar horas em cima para subir o nível do carro e desbloquear todos os upgrades. Não deveria de ser necessário haver um investimento de tempo tão grande simplesmente para se poder utilizar livremente uma das principais componentes da série. A ideia em si é boa, mas a sua implementação é má.

Há também outra questão relevante consequente deste sistema. Os adversários da IA já têm os upgrades desbloqueados, logo, têm vantagem sobre o jogador. Isso é fácil de constatar ao inspecionar os adversários antes das corridas e ver que, por exemplo, já têm instalados pneus de corrida. Em cima disto, há a questão dos pneus de chuva serem desbloqueados no nível 11, juntamente com os pneus de corrida de diferentes compostos. No entanto, tive corridas em que começou a chover a meio do evento, numa altura em que tinha o carro a nível 5 ou 6 mesmo tendo feito todas as sessões de treino nas corridas anteriores. Ou seja, foi-me literalmente impossível trocar para pneus de chuva. Em suma, é um sistema mal implementado que não beneficia aqueles que gostam de experimentar vários veículos nem aqueles que preferem permanecer mais tempo com um carro.

Apesar deste final da análise num tom mais negativo, este Forza Motorsport é o meu favorito e aquele com a melhor condução desde o Forza Motorsport 4. Não consigo reforçar o suficiente o quão melhor é a condução deste título quando comparado com a do Forza Motorsport 7. Os diferentes compostos de pneus e a quantidade de combustível permitem finalmente a existência de estratégias de corrida, e a altura do dia e condições climatéricas dinâmicas trazem mais emoção para dentro das pistas. Contudo, a lista de pistas algo mediana e um sistema de progressão restritivo que bate de frente com um dos pilares da série riscam um pouco a pintura deste reboot.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8

8

Apesar de algumas falhas e de um sistema de progressão demasiado restritivo, este Forza Motorsport é o melhor título da franquia desde Forza Motorsport 4 devido a uma condução aprimorada, da implementação de estratégias de boxes e de um modo online com potencial para promover corridas sem demasiados empurrões.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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