Análises

Super Mario Odyssey

Desde que fez uma aterragem para dez pontos na terceira dimensão com Super Mario 64 em 1996, o dono do único bigode mais conhecido que o de Tom Selleck passou por muitas mudanças. Começando com uma “forte” componente de exploração, os Super Mario em 3D têm vindo a focar-se cada vez mais em serem jogos de plataformas (saltos!) e em tornar a terceira dimensão mais acessível.

Tendo feito um trabalho incrível com Super Mario 3D World para a Wii U, capturando a jogabilidade de um Mario 2D com todas as vantagens que um mundo e movimento a três dimensões traz, a equipa virou a sua atenção para outro objectivo: evoluir o estilo mais lento e focado em exploração com que o canalizador começou na Nintendo 64.

Super Mario Odyssey é de facto uma aventura repleta de exploração, mas não se esquece de ser um jogo de plataformas. Ao começar cada nível é-nos mostrada uma breve visão aérea da área até chegar à nossa “meta” que faz o jogo andar para a frente. Imediatamente dá para ver que os níveis são grandes, não são feitos para ir com pressa de A a B, mas sim para explorar livremente e com atenção o que nos rodeia, o que vai resultar inevitavelmente em muitos saltos mortais.

O nosso objectivo é apanhar as Power Moons, centenas de pequenas luas espalhadas pelos níveis que tanto servem para nos guiar como para recompensar. Claro que descobrir zonas secretas ou passar secções difíceis nos dá luas, mas por vezes bastam coisas simples como subir a uma árvore ou partir uma pedra que brilha, uma maneira de fazer o jogador ir ou olhar numa certa direcção em caminho de novos desafios e riquezas. Não deixando de ser níveis abertos, há bastantes migalhas para levar o jogador para o sítio certo e raríssimos momentos mortos.

Os níveis estão desenhados de forma a oferecerem “naturalmente” plataformas, explorar e avançar por um nível está ligado à capacidade do jogador saltar e usar as suas habilidades, não é só um monte de terra a ligar secções com plataformas para saltarmos. No entanto, isso não é um adeus a blocos coloridas a flutuar no meio do nada enquanto se movem em padrões estranhamente úteis para efeitos acrobáticos. Há várias zonas escondidas mais “old school”, menos importadas em incluir plataformas no cenário do que em oferecer um bom desafio à nossa destreza. Odyssey pode não ter o ritmo rápido de 3D World, mas não é um jogo de plataformas pior por isso.

Aliás, a mascote da Nintendo está com um cardápio de movimentos invejável. Triplo salto, rodopio, salto longo, cambalhota, mergulho, estes e muitos mais movimentos misturados com a habilidade de atirar o chapéu e saltar em cima dele resultam num Mario mais atlético que nunca. Tendo jeito é possível fazer saltos incríveis, com a precisão de movimentos e atenção ao peso, velocidade e inércia do Mario, concretizar uma sequência de acrobacias é absurdamente satisfatório.

O Mario faz-se acompanhar de Cappy, um fantasma que se transforma em chapéu e tem o poder de capturar inimigos, efectivamente transformando o Mario no bicho capturado. Seja um Goomba, um Hammer Bro ou uma bola de fogo, todas estas transformações dão habilidades e tipos de movimento completamente diferentes ao jogador, deixando-o aceder a novos locais e abrindo a porta a uma variedade de novas mecânicas divertidas e surpreendentes.
Se controlar os inimigos acaba por substituir os power-ups muitas vezes associados a roupa, também podemos comprar chapéus e fatos para pôr o canalizador todo janota. Para lá do muito importante efeito estético de controlar o Mario vestido de pirata ou mecânico, os disfarces são úteis para aceder a sítios ou personagens com um dress-code muito peculiar.

Para comprar roupa, assim como autocolantes e recordações dos locais por onde passamos para decorar a nossa nave, gastamos moedas. Sim, usam-se moedas para adquirir coisas! Um conceito algo raro nos jogos principais do Mario, dá ao jogador razões para apanhar moedas (até porque já não há vidas, por isso apanhar 100 moedas não te vai dar um 1-up) e associa uma componente colecionável à exploração dos níveis, havendo coisas que apenas podem ser compradas com as moedas roxas exclusivas a cada reino. Com os adoráveis fatos e decorações, as Power Moons e estas moedas, todos os níveis têm incentivos suficientes à exploração sem se tornarem num exagero de bugigangas colecionáveis.

Para lá de ser completo por ter muito para fazer (20 horas podem dar para chegar ao Bowser, mas certamente se chega ao dobro com a quantidade de coisas que há para fazer e novidades que surgem) e bastantes extras, o jogo tem até leaderboards online para alguns minijogos e uma variedade de opções e conveniências raríssimas em jogos da Nintendo.
Abrindo o mapa- disposto no meio de uma brochura turística do local onde estamos- podemos ir imediatamente para uma qualquer uma das bandeiras que tenhamos activado. Com loadings muito rápidos e apenas algumas moedas perdidas ao morrermos, o jogo praticamente implora à experimentação; posso cair vinte vezes para apanhar aquela lua da maneira mais difícil, mas raios se não vou tentar! Isto não quer dizer que não haja risco, perder antes de chegar a uma bandeira é progresso perdido e há muitas secções sem qualquer checkpoint, mas o jogo torna a exploração dos níveis e das suas mecânicas apelativa e conveniente.

A Nintendo EPD também não desaponta no departamento visual, Mario Odyssey é simplesmente lindo, os mundos e personagens são deliciosamente desenhados com um estilo simples, mas que não dispensa imensa atenção ao detalhe. É impossível não sorrir ao ver o nariz e bigode do Mario numa adorável bola de fogo ou ficar indiferente a um nível repleto de legumes e vegetais low-poly gigantes. A imaginação por detrás de todo o mundo de Odyssey estende-se ao design gráfico.
Correndo no modo TV o jogo é renderizado a 900p, em modo portátil a 720p e corre praticamente sempre a 60 fps, tendo visto umas falhas em sítios inconsequentes como no meio da cidade New Donk. Mesmo sem anti-aliasing para alisar as arestas, Odyssey é fenomenal de se ver em movimento e muito fluido de controlar, a Nintendo sabe desenhar um estilo gráfico à volta das capacidades do hardware (ou será que cria hardware à volta das suas necessidades?) e os gráficos no jogo aproximam-se cada vez mais aos renders e desenhos usados em material publicitário.

Fantásticas peças orquestradas, jazz, rock, pastiches de música Mexicana ou Italiana, ou até versões “8-bit” das anteriores, há toques disso tudo e muito mais nos sons de Mario Odyssey. Os compositores e músicos flectiram os seus músculos musicais com uma variedade estonteante de géneros e instrumentos, resultando numa banda-sonora de comer e chorar por mais.

Mais do que uma mistura de elementos daqui e dali para coçar uma comichão de nostalgia, Mario Odyssey vive dos seus próprios méritos, interligando lindamente exploração e platforming para construir algo de novo e fantástico por cima das bases que já lá estavam.
Uma divertidíssima odisseia que nunca pára de surpreender, espantar e arrancar sorrisos, Super Mario Odyssey é o sublime culminar de tudo o que Mario fez desde os seus primeiros passos em três dimensões até agora.

 

Nota: Cópia do jogo fornecida pela editora para efeitos de análise.

Nota Final - 10

10

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