Análises

Demon’s Souls

Umbasa

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PlayStation 5

A franquia Dark Souls já vendeu mundialmente mais de 30 milhões de unidades. Dark Souls 3, sozinho, ultrapassou a barreira dos 10 milhões de cópias vendidas. É claro que esta não é uma série mainstream, mas longe são os tempos em que um Souls era considerado como sendo de nicho. Agora, a série é suficientemente conhecida a ponto de causar calafrios em muitos jogadores e até conseguiu originar um subgénero que trouxe títulos inspirados na fórmula da From Software. Mas tudo tem um início, e neste caso, o início chama-se Demon’s Souls, lançado originalmente em 2009 para a PlayStation 3. Essa relíquia do passado chegou em Novembro à PlayStation 5 em formato de remake, através das mãos do talentoso estúdio Bluepoint Games.

Eu sou fã dos Soulsborne e todos oferecem algo único, até Dark Souls 2 que é o piorzinho do grupo, mas Demon’s Souls e Bloodborne são especiais, na medida em que oferecem algo de diferente e sem cair em muitas ratoeiras. São ambos jogos onde o ambiente é mais sombrio, a jogabilidade é menos “presa” e apresentam mecânicas que não transpiraram para os outros jogos. No caso de Demon’s Souls, que é o que interessa para este artigo, essas mecânicas são a World Tendency e Character Tendency. Mas começando pelo início, e como é tradição, os jogadores irão criar o seu avatar. O remake melhorou imenso a quantidade de opções de personalização face ao que a From Software costuma oferecer nos seus jogos, além de que a qualidade e o nível de detalhe dos modelos é ridiculamente alto. Ultrapassado este primeiro “boss” do character creation, chega a altura de explorar Boletaria.

Boletaria foi em tempos um reino próspero, mas o Rei Allant tinha uma ambição desmedida e acabou por evocar um demónio antigo, que varreu a terra com um nevoeiro incolor. Daí surgiram terríveis criaturas sedentas de almas humanas, que se tornavam cada vez mais fortes há medida que iam devorando novas vítimas. Aqueles que viram as suas almas a desaparecerem, perderam a cabeça e ficaram presos ao desejo de atacar todos aqueles que não foram afectados por este evento catastrófico. Boletaria ficou, assim, isolada do mundo exterior, e todos os cavaleiros que ousaram penetrar o nevoeiro profundo, por mais fortes que fossem, nunca mais voltavam a ser vistos. O papel do jogador é derrotar todos os principais demónios e enviar o Ancião de volta para o seu sono. Esta é a premissa que empurra o jogador para esta aventura, mas o resto do lore e da informação do mundo é obtida através da descrição dos itens e dos vários NPC’s espalhados pelo mundo.

Algo que ajuda a diferenciar Demon’s Souls dos restantes jogos Souls é o facto de os bosses não existirem apenas para proporcionar desafio. Em vez disso, são bastante próximos do lore, como Tower Knight e Penetrator, e da história, como Maiden Astrea. Os bosses acabam desta forma por dar um maior contexto ao mundo do que simplesmente servir como barreira. Aliás, os bosses nem são particularmente difíceis quando comparados com Dark Souls, Bloodborne e Sekiro, além de que não são o elemento que oferece maior resistência. A dificuldade vem principalmente da exploração das zonas, em que cada uma tem o seu ambiente, inimigos e conjunto de desafios específicos. Por exemplo, explorar Shrine of Storms, que tem inimigos rápidos e inimigos voadores que estão constantemente a bombardear o jogador com espigões, não é de todo o mesmo que explorar Valley of Defilement, que tem inimigos mais robustos e é um autêntico pântano venenoso que prende os movimentos.

Demon’s Souls não é open world e não é tão aberto como Dark Souls 1 e Sekiro. Em vez disso, aproxima-se mais da estrutura de Bloodborne. Existem cinco zonas diferentes independentes, conectadas pelo Nexus, que é o hub deste jogo. É no Nexus onde se gastam as souls para subir o nível da personagem e onde se fala com NPC’s que os jogadores vão encontrando e salvando pelo caminho. Cada zona tem depois 3 ou 4 secções intercaladas por um boss. Um aspecto interessante é que se pode escolher a ordem com que estas secções são feitas. Por exemplo, pode-se completar a primeira secção de Boletarian Palace e fazer logo de seguida a segunda secção, ou passar para a primeira secção de Stonefang Tunnel. Cabe ao jogador decidir a ordem, seja uma decisão baseada no desafio ou no tipo de build.

Demon’s Souls pode não ser um open world, mas as áreas são muito bem desenhadas, com muitos segredos escondidos que recompensam o esforço por explorar cada canto. Como disse mais em cima, cada zona está dividido por secções, e até cada uma das secções de uma mesma zona pode apresentar diferenças entre si. Tower of Latria que, diga-se de passagem, continua a ser uma das zonas com melhor level design dos jogos da From Software, é um excelente exemplo disto. A primeira parte é uma prisão com um layout muito labiríntico, enquanto que a segunda parte é muito vertical em que exploramos o meio de uma torre e o pântano na sua base. Importa também salientar um outro aspecto único de Demon’s Souls: o loot. Algumas armas fazem parte do mundo, como a Large Sword of Moonlight. Em vez de vermos um simples ponto brilhante no chão, como é tradição, estas armas únicas são visíveis no cenário, tornando assim a sua obtenção muito mais satisfatória.

Aquilo que o jogador fizer ao longo da sua aventura irá afectar o Character Tendendy e World Tendency. De salientar que são dois sistemas independentes. O Character Tendency é um sistema de moralidade. Se o jogador matar outros jogadores invasores ou NPC’s Black Phantom, a sua Character Tendency irá mover-se para White Tendency. Por sua vez, invadir o mundo de outros jogadores e matar NPC’s moverá em sentido a Black Tendency. Atingir o máximo de cada um dos espectros abre eventos específicos e afecta algumas stats da personagem. Já World Tendency reflecte o que se faz no mundo. Matar bosses faz inclinar para White Tendency, o que torna os inimigos mais fáceis, mas em contrapartida, dão menos souls. Morrer demasiado vezes em Human Form fará com que a World Tendency se mova para Black e torne os inimigos mais difíceis. Cada uma das World Tendencies apresentam também os seus eventos e benefícios.

Terminar Demon’s Souls é uma tarefa que pode demorar cerca de 25 horas, dependendo da facilidade com que ultrapassem os desafios, mas o Character Tendency e World Tendency, juntamente com o New Game Plus, oferecem uma boa dose de longevidade, sendo perfeitamente possível duplicar o número de horas investidas. E claro, há sempre o incentivo de experimentar novas builds, novas tácticas para passar os bosses ou as áreas mais difíceis, e encontrar todos os segredos, incluindo os especificos deste remake.

Mas no que toca ao remake em si, o que é que traz de novo? O que salta logo à vista são os gráficos. O layout das áreas no remake é o mesmo do original, mas o sistema de iluminação e todos os elementos e detalhes dos cenários foram feitos de raiz para a PS5. Pode parecer uma tarefa simples, mas não é. A adição de detalhes tem de ter em conta o lore do jogo e o estilo da área em questão, porque de outra forma, há o risco de tornar essa área irreconhecível. Felizmente, a Bluepoint Games fez um excelente trabalho, e a adição de novos detalhes e geometria acabou por realçar o carácter único de cada um dos mundos. Aqueles que preferirem o aspecto menos colorido do original, têm à sua disposição um filtro clássico que imita o jogo PS3. Além disso, os jogadores têm a opção de escolher dois modos: um a 4K/30 FPS e outro a 4K dinâmico a 60 FPS. A diferença visual é mínima, por isso, o aconselhado é mesmo modo performance para se usufruir de uma maior fluidez.

A nível de jogabilidade, foi feita uma pequena alteração para modernizar o jogo, fazendo com que fique a par dos Soulsborne modernos. O Demon’s Souls original apenas permitia desvios em quatro direcções, mas o remake já tem desvios omnidireccionais. Além disso, há que mencionar os tempos de loading. Devido à estrutura dividida dos mundos, era aborrecido viajar de uma área para a outra porque se perdia muito tempo em loadings. O mesmo para quando se morria. Mas os tempos de loading deste remake são muito curtos, tornando assim a experiência super fluída.

Se existe um aspecto questionável, será a IA. O remake é extremamente fiel ao jogo original e isso inclui a IA. Sim, a IA do remake é literalmente a mesma do título de 2009. Ora, na vasta maioria do tempo, não existe problema, porque os inimigos comportam-se como esperado, mas existem algumas instâncias onde talvez tivesse sido bom fazer pequenos ajustes. A mais notória é a luta de boss do Maneater, em que o trajecto que o inimigo faz é um pouco janky. Embora perceba a filosofia de ser 100% fiel ao material original, nestas situações, um compromisso teria sido aceitável. Um outro aspecto que poderia ter sido melhorado é a UI. A nova UI é boa e condiz muito bem com os novos visuais, mas falta um indicador referente aos status. Por exemplo, gostaria de saber o quão próximo a minha personagem está de ficar envenenada. Sei que o original não tinha estes indicadores, mas os Soulsborne recentes têm e acho que teria feito sentido incluir também neste remake.

Apesar dos problemas técnicos, o original Demon’s Souls para a PS3 já era um bom jogo, tanto que é considerado um clássico de culto. Mas o trabalho feito pela Bluepoint Games neste remake é fantástico e eleva essa qualidade a um outro patamar, fazendo corar os restantes Soulsborne a nível gráfico e de performance. Este remake de Demon’s Souls não só é um dos melhores jogos de lançamento da PS5, como é igualmente um dos melhores jogos de 2020.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

A Bluepoint Games fez um excelente trabalho a modernizar o título que originou a série Souls. Sem duvida nenhuma, este remake de Demon’s Souls é um título recomendado a todos os possuidores de uma PS5.

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