Análises

The Medium

Dupla Realidade

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, Xbox Series X/S

Há que dar crédito à Bloober Team pela sua persistência no género de terror psicológico, porque tem desenvolvido jogos que não são para todos e que são alvo de algumas críticas frequentes devido à fórmula utilizada. The Medium mantém o estilo típico de projectos deste estúdio, mas parece ser um jogo com uma maior escala e ambição face aos seus projectos anteriores, como Layers of Fear 2 e Blair Witch. Tendo como chamariz alguma inspiração em Silent Hill, será que The Medium consegue oferecer uma experiência igualmente tensa e assustadora?

Nós seguimos as pisadas de Marianne, numa aventura situada nos finais dos anos 90. Marianne tem poderes sobrenaturais que lhe permite falar com mortos e que, em algumas ocasiões, entrar no mundo espiritual para resolver puzzles ou fazer algum trabalho de investigação. A certa altura, ela recebe um misterioso telefonema que a leva a visitar um local abandonado em busca de respostas e, no processo, acaba por encontrar almas atormentadas e uma grande ameaça. A narrativa de The Medium começa bem, mas nunca atinge os pontos altos que se esperava que alcançasse, especialmente lá mais para a segunda metade da história. Achei a história interessante e misteriosa o suficiente para me manter entretido e com vontade de continuar, mas terminada a campanha, que dura cerca de 7 horas, confesso que fiquei bastante indiferente às personagens e aos seus destinos.

Para o bem e para o mal, The Medium está em linha com os trabalhos anteriores da Bloober Team, ou como quem diz, de forma simplificada, é igualmente um jogo com uma linha ténue entre terror psicológico e walking sim, com um jump-scare, algumas sequências de perseguição e algumas sequências de stealth pelo meio. Isto significa que muita da experiência é passada a deambular sem grande preocupação pelos cenários em busca de informação e tentar encontrar o caminho para a frente, seja no mundo material, seja no mundo espiritual. Os ambientes em si são bastante bons e conseguem evocar o estilo visual do género, além de que o jogo é na terceira pessoa e utiliza câmaras fixas ao estilo de Silent Hill ou dos clássicos Resident Evil. Medo é subjectivo e diferente para todas as pessoas, mas não achei The Medium assustador ou que conseguisse apresentar um ambiente cheio de tensão. Pelo lado positivo, há que destacar a excelente banda sonora composta por Akira Yamaoka, que também trabalhou nas bandas sonoras dos Silent Hill.

A Bloober Team tem jeito para criar conceitos interessantes que em teoria parecem excelentes, mas que em termos práticos nem sempre resultam bem. E é mais ou menos o que acontece em The Medium. Como disse, Marianne tem a capacidade de ver o mundo espiritual e é aqui que entra a mecânica de divisão da imagem, onde vemos Marianne em simultâneo no mundo físico e no mundo espiritual. Estas sequências acontecem em alturas onde é necessário resolver algum puzzle ou durante algumas conversas com outras personagens. Embora seja inicialmente um aspecto interessante, acaba por retirar a atenção e a carga emocional de algumas situações e momentos importantes, além de que nunca parece algo verdadeiramente crucial. Curiosamente, são as cenas onde vemos apenas o mundo físico ou apenas o mundo espiritual que resultam melhor. De resto, a nível de jogabilidade, The Medium é bastante básico, já que não existe qualquer tipo de gestão ou combate.

E acho que este é o grande problema do jogo: falta de tensão e urgência. Em alguns momentos, eu até apreciei a simplicidade de The Medium, porque nunca estamos perdidos ou inseguros do que fazer a seguir, mas em outros momentos, a falta de urgência retira muito do potencial de determinadas sequências. Para elaborar um pouco, ocasionalmente somos forçados a fugir de um demónio no mundo espiritual em sequências de fuga lineares simples. São momentos engraçados e com um bom ambiente, que não duram mais do que o necessário. Porém, no mundo real, esse mesmo demónio não nos consegue ver, não havendo, portanto, qualquer razão para as completar à pressa. Como resultado, estas sequências não têm tensão e não incutem medo, acabando desta forma por funcionar como meros puzzles ambientais.

Visualmente, The Medium é surpreendentemente bom, especialmente tendo em conta que este não é um projecto de enorme orçamento. Marianne poderia ter um modelo um pouco mais detalhado e com animações menos rígidas, mas diria que estes são dois aspectos bons o suficiente para não estragar tudo o que faz de bem, ou seja, os cenários cheios de detalhes, o bom sistema de iluminação e sombras, e todos os efeitos utilizados para tentar criar tensão e ambiente no mundo físico e no mundo espiritual. Talvez seja a nostalgia a falar, mas adorei a utilização de ângulos de câmara fixos, destacando assim os excelentes cenários. Devido à mecânica de divisão de imagem, The Medium é um jogo mais pesado a nível de requisitos, o que o leva a correr a 30 FPS na Xbox Series X. No entanto, devido à natureza mais pausada do jogo, isso acaba por não afectar a experiência de forma negativa.

A minha parte favorita de The Medium foi mesmo o jogo apresentar ângulos de câmara fixos, fazendo lembrar jogos de terror clássicos, incluindo a desaparecida série Silent Hill. E por falar em Silent Hill, a banda sonora é também outro aspecto a destacar pela positiva, conseguindo encaixar que nem uma luva em todas as situações. Contudo, a falta de combate ou de situações que ofereçam tensão e urgência só serve para destacar a dificuldade em deixar a atmosfera e os puzzles guiarem a experiência de terror. A ideia de explorar duas realidades em simultâneo é interessante, mas não boa o suficiente para incutir um ambiente de terror no jogo ou algo que pareça essencial para a experiência. Dito isto, consigo ver uma sequela onde algumas destas coisas sejam melhor lidadas e, muito sinceramente, espero mesmo que isso aconteça.

Nota editorial: Jogo analisado através do Xbox Game Pass.

Veredito

Nota Final - 7

7

The Medium é capaz de ser o jogo mais ambicioso da Bloober Team, conseguindo utilizar os ângulos de câmara fixos para salientar os cenários muito bem detalhados e uma banda sonora de grande qualidade para criar uma experiência envolvente. Porém, não consegue capitalizar na mecânica de dupla realidade e demonstra uma falta de terror e urgência.

User Rating: 3.05 ( 4 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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