Análises

Inspector Zé e Robot Palhaço: Crime no Hotel Lisboa

Uma investição portuguesa, com certeza.

Versão testada: Nintendo Switch
Disponível para: PC, Nintendo Switch

O Zé é um detective privado carrancudo e fumador compulsivo que herdou o Robot Palhaço, um robô doméstico que está sempre pronto a mandar uma piada seca ou a quebrar a quarta parede. Os dois vão ajudar a polícia a desvendar o mistério do suicídio do Sr. Love com 14 facadas nas costas. Sete anos depois do seu lançamento original, Inspector Zé e Robot Palhaço: Crime no Hotel Lisboa sai na Switch.

Como se pode deduzir pelo nome, o jogo é feito em Portugal e isso nota-se mesmo; da Lisboa bidimensional aos portuguesismos dos diálogos, a Nerd Monkeys fez aqui uma coisa bem tuga. Crime no Hotel Lisboa é um point-and-click ao estilo de clássicos como Broken Sword ou Monkey Island, onde interagimos com o cenário usando um cursor para encontrar pistas e itens que nos possam ser úteis, mesmo que não saibamos imediatamente para quê. Como também é típico no género, temos de falar com toda a gente para obter informação; nesta Lisboa pixelizada lidamos, por exemplo, com o muito religioso gerente do Hotel Lisboa, o dono do salão de jogos Press Play (que é estranhamente parecido com o Diogo Vasconcelos da Nerd Monkeys) ou a senhora de decote avantajado e mini-saia curta que está sempre à porta do hotel a… vender beijinhos. Quem estiver a jogar em inglês vai perder uma boa parte da piada de falar com estas e outras personagens; é realmente diferente ver um jogo escrito em bom português, especialmente quando não se leva demasiado a sério a si próprio.

O problema é que essa piada e novidade eventualmente deixam de ser suficientes; o jogo é engraçado no início, mas o humor é bastante básico e não passa muito de umas referência e piadas fáceis com uns estereótipos à mistura, sendo o da mulher brasileira fácil e oportunista particularmente embaraçoso. Rapidamente conhecemos todos os locais e personagens e a narrativa não é particularmente interessante, ficando difícil manter o entusiasmo de avançar passado umas horas.

Ao longo da investigação temos de interrogar algumas personagens e aí o jogo torna-se numa espécie de Ace Attorney tuga, onde temos de escolher uma de três perguntas e associá-la ao objecto certo (guardado com o Joãozinho, o polvo que vive no buraco negro que está dentro do Palhaço) para quebrar o interrogado e chegar à verdade. É engraçado ver os interrogados a ficarem cada vez mais nervosos à medida que avançamos e algumas das opções têm piada, mas grande parte das vezes dão-nos imediatamente a ideia geral do que temos de dizer, nunca havendo três hipóteses relativamente credíveis e suficientemente distintas, apenas três frases muito parecidas que nós só temos de ler com o mínimo de atenção. Errar não nos leva por diálogos engraçados, apenas perdemos e temos de começar tudo de novo e, por vezes, mudar de interrogador, porque algumas pessoas gostam mais do Zé ou do Palhaço. Sinceramente esta escolha não me passou pela cabeça ou impactou o jogo, tirando uma vez muito perto do fim e foi só uma questão de escolher a outra personagem e opções ligeiramente diferentes.

A pixel art está muito bem conseguida. Lisboa está reconhecível apesar de andarmos por ruas fictícias, com paredes cheias de posters sobrepostos e roupa a secar nos cordões entre prédios, com os seus típicos quiosques e o eléctrico 28 a passar de vez em quando à nossa frente. A Ponte 25 de Abril lá ao fundo também não deixa grandes dúvidas, porque o jogo não parece nada passar-se em São Francisco. As personagens têm designs engraçados, com um estilo bastante único e bem animado – o Zé, por exemplo, está sempre a dar umas passas no cigarro e, se o deixarmos quieto um bocado, saca de um frasquinho e dá uns golitos de algo que presumo não ser ice tea. A música também fica bem no ouvido e ajuda a dar o tom certo a jogo, desde o tema alegre que toca quando vamos na rua, ao concerto de jazz (com Filipe Melo no piano) no bar GAF ou ao fado ao vivo que podemos ouvir num restaurante. A versão Switch do jogo está bem conseguida e joga-se especialmente bem no modo portátil onde podemos usar o ecrã táctil. É pena que não se possa usar o giroscópio do comando para apontar o cursor, mas não é grave. Uma vez encontrei um bug que não me deixava avançar, mas foi um caso isolado.

Inspector Zé e Robot Palhaço: Crime no Hotel Lisboa é bonito de ver e ouvir; Lisboa está muito gira e é inegável que me diverti e ri nas primeiras horas, mas nem a escrita nem a progressão são suficientes para manter o interesse ao longo do jogo, especialmente nos últimos capítulos. Pode-se dizer que é um jogo catita, mas longe de ser do catano.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 6

6

Engraçado de início, com óptima pixel art e banda-sonora a acompanhar, Crime no Hotel Lisboa precisava de um sentido de humor um pouco mais crescido e de uma investigação mais interessante para chegar mais longe.

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