Análises

Outriders

Em busca de uma nova casa e de muito loot.

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One, Stadia

Aqui que ninguém nos ouve, o meu entusiasmo em Outriders era nulo até ao lançamento. E digo isto como sendo alguém que adora looter shooters e jogos de loot em geral. Talvez tenha sido a forma como o jogo foi publicitado, em que não foi mostrada muita “space magic” ou algo verdadeiramente cativante, mas a verdade é que não tinha grande interesse no jogo. Mas, entretanto, surgiu a oportunidade de analisar este título e, sendo este um jogo de loot, não consegui recusar. No final, admito que Outriders provou ser uma boa surpresa.

Algures no século 21, a Terra deu tudo o que tinha a dar devido a problemas climáticos, e a única forma de o Ser Humano sobreviver é abandonar o planeta em busca de uma nova casa. Essa nova casa chama-se Enoch, e os primeiros a colocarem o pé neste planeta são os Outriders, um grupo de soldados de elite com a tarefa de encontrar um local seguro para o resto dos colonizadores. Contudo, uma estranha e enorme tempestade de energia espalha o caos, matando e destruindo tudo no seu caminho, à excepção do protagonista, que sobreviveu à exposição desta Anomalia e ganhou poderes sobre-humanos. Este é o mote que empurra o jogador para a frente e o leva a explorar várias zonas diferentes de Enoch, numa campanha que pode facilmente demorar 20 horas a terminar, dependendo do que se faça pelo caminho.

As localizações em si são variadas, e incluem cenários citadinos, ruínas, florestas e desertos. Não têm aquele factor misterioso que têm as localizações em outros looter shooters de ficção cientifica, mas são variadas o suficiente dentro do contexto de Ouriders. Estes mapas têm uma boa dimensão e não são totalmente utilizados na campanha, dando espaço para a sua utilização nas sidequests. Contudo, é pena que os mapas sejam demasiado fragmentados, ou seja, existem ecrãs de loading na transição entre zonas de um mesmo mapa. É essencialmente a mesma situação de Anthem, em que a entrada numa gruta significava um ecrã preto de loading. É pena que este jogo não tenha conseguido utilizar a mesma abordagem de Destiny e dos seus mapas. Felizmente, isto é algo pouco notório na nova geração de consolas, incluindo na PS5, que foi a versão testada, mas na geração anterior, essa fragmentação faz-se notar e quebra demasiado o ritmo de jogo.

Um dos principais pontos fortes de Outriders é a jogabilidade. Os jogadores têm à sua disposição quatro classes diferentes: Devastator, Pyromancer, Technomancer e Trickster, sendo que cada uma oferece um estilo de jogo diferente. Devastator é o tanque e também a classe com menor poder de fogo do jogo, enquanto que Trickster é uma classe mais dirigida a quem prefere um estilo de jogo mais agressivo, mais “in your face”. Cada classe tem também a sua skill tree, que permite misturar diferentes especializações ou focar-se apenas numa única especialização. Outriders foi inteligente em ir buscar algo ao The Division 2, nomeadamente a questão dos mods. A partir de um certo nível de raridade, as armas e armaduras têm mods, que são perks que adicionam mais ataque, reduzem o cooldown das habilidades ou modificam um pouco o funcionamento das habilidades. Ao fazer-se dismantle a este equipamento, os mods ficam registados e podem depois ser utilizados de forma ilimitada.

Os combates em si são frenéticos. Apesar de o design das áreas permitir a utilização de cover, ao género do The Division, a verdade é que Outriders é um jogo na terceira pessoa com um grande foco na movimentação e utilização de habilidades, onde estar no meio da acção é o ponto forte e uma grande fonte de diversão. Os inimigos são variados o suficiente e existem em grande número, se bem que existem algumas arestas a limar. Os snipers têm um tracking abusivo e alguns inimigos, principalmente os monstros de maiores dimensões, têm hit boxes demasiado inconsistentes que fazem com seja extremamente difícil de evitar parte dos seus ataques.

Outriders é um looter shooter, o que significa que um dos principais atractivos do jogo é a procura de loot no end game. Uma vez terminada a campanha que, diga-se de passagem, é bem melhor do que antevia, é a vez de enveredar pelo end game, ou como quem diz, pelas Expeditions. Estas missões são diferentes daquelas que existem na campanha principal e têm as recompensas bloqueadas pelo tempo que se demora a chegar ao fim. Confesso que não entendo o raciocínio por detrás desta decisão, mas na prática, limitar as recompensas ao tempo que se demora a completar uma missão trás demasiadas consequências negativas naquela que, até então, era uma experiência de looter shooter sólida. E porquê? Porque isto obriga a que os jogadores parem de jogar ao seu ritmo e com a build que gostam, e se foquem apenas em puro e duro DPS. Por outras palavras, tem como consequência limitar a quantidade de builds viáveis para o end game de alto nível.

Um outro aspecto negativo tem a ver o matchmaking. O sistema de matchmaking de Outriders não é muito restritivo, o que significa que jogadores com pouco nível de optimização ou em World Tiers (níveis de dificuldade) mais baixos podem juntar-se, mesmo que de forma não intencional, a jogadores que estejam em World Tiers mais altos, coisa que não beneficia ninguém. Além disso, a componente online tem estado instável desde o lançamento, o que inclui a dificuldade em encontrar outros jogadores, a dificuldade em realizar com sucesso uma partida em cross-play, o tempo que se demora a fazer login, ou os servidores irem simplesmente abaixo.

No que toca ao departamento técnico, Outriders é um título visualmente agradável, especialmente se considerarmos que é um jogo multiplataforma cross-gen que corre a 60 FPS na nova geração de consolas, mas deixa a desejar na qualidade dos modelos das personagens e nas expressões faciais. Além disso, as cinemáticas são um pouco toscas nos ângulos de câmara e na sincronização dos efeitos sonoros com o que se passa no ecrã. O voice acting é surpreendentemente bom, especialmente o do protagonista (Mylène Dinh-Robic e Dusan Dukic) e do Jakub (Dmitry Chepovetsky). Por outro lado, as músicas são pouco memoráveis e alguns efeitos sonoros, como os sons das explosões ou dos disparos de algumas armas, não têm o impacto esperado.

Eu já joguei 35 horas e ando a evoluir uma segunda personagem num jogo que, inicialmente, nem tinha grande interesse. Penso que isto seja o suficiente para demonstrar a diversão que Outriders oferece e o potencial que tem caso os problemas sejam corrigidos e para uma possível continuação ou expansões. Mas não interessa falar no que poderá vir lá mais para a frente. O que interessa é o agora, e Outriders, de forma resumida, é um looter shooter sólido, muito divertido e com bastante conteúdo, misturado com alguns problemas e uma dose de “jank”. Este é um título que os fãs de looter shooters devem ter em consideração para saciar a fome deste género de jogos.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 7.5

7.5

Outriders provou ser uma boa surpresa e a verdade é que o estúdio People Can Fly conseguiu entregar um looter shooter sólido que, mesmo com alguns problemas, é muito divertido e oferece uma boa dose de conteúdo.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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