Análises

Monster Hunter Rise

Está aberta a época de caça

Versão testada: Nintendo Switch
Disponível para: Nintendo Switch

Apesar de serem um sucesso gigantesco no Japão, os Monster Hunter não são jogos fáceis de entrar. As personagens movem-se lentamente com o peso do seu equipamento, atacar ao calhas provavelmente resulta numa morte rápida e há um sem fim de sistemas a ter em conta. Com Monster Hunter World, a Capcom simplificou a fórmula para tornar o jogo mais acessível e apelativo a mais jogadores, mas alguns fãs da série sentiram falta da maneira antiga de caçar. Entra Monster Hunter Rise.

Rise continua o estilo dos Monster Hunter portáteis, mas tira algumas lições de World, tornando a experiência mais intuitiva, rápida e menos conducente a frustração. Como se pode deduzir pelo título, vamos caçar monstros e para fazer isso vamos precisar de armas e armaduras que só podem ser forjadas com materiais que vêm, por sorte, de partes dos monstros que queremos caçar. Depois de nos prepararmos para a caça na aldeia de Kamura com os itens e equipamento apropriados, sem nunca esquecer de comer uns dango (doces tradicionais japoneses), vamos explorar florestas, tundras e outros locais repletos de vida selvagem onde se encontram os ditos grandes monstros: ursos gigantes e furiosos, dragões venenosos, gorilas gigantes que cospem electricidade e uma data de outras bestas que não nos vão mostrar qualquer piedade.

Atacar cegamente deixa-nos expostos, é preciso saber quando atacar e quando parar e há que reconhecer os movimentos dos monstros para os saber antecipar e poder ripostar. Depois de entendido este ritmo e o peso do movimento da nossa personagem, as coisas começam a bater certo, mas há muito mais para aprender, nomeadamente, como usar os novíssimos wirebugs. Os wirebugs são bichinhos que andam connosco e nos deixam saltar rapidamente na direcção em que lançamos um fio que se prende no ar ou em inimigos, o que nos deixa não só saltar bem alto e chegar quase qualquer lado, como cair em cima dos inimigos com toda a força e fazer ataques espalhafatosos saídos de um anime. Com os wirebugs também conseguimos reposicionarmo-nos e recuperar rapidamente de golpes sofridos para nos curarmos, fugir ou atacar, o que altera com algum impacto a dinâmica das batalhas. Apenas temos dois ou três wirebugs que vão recarregando, mas são o suficiente para causar muitos estragos e salvar-nos a pele várias vezes.

Outra coisa que os wirebugs nos permitem fazer ocasionalmente é subir para cima de um monstro, domá-lo e tomar controlo dele temporariamente. Isto quer dizer que podemos entrar na pele de um dragão e lançar ataques devastadores a outros monstros ou, se não houver nenhum à volta, mandar umas quantas cabeçadas na parede. Quando dois monstros se encontram, vão quase sempre lutar um com o outro e um deles vai levar um golpe que o deixa exposto a ser controlado, dando-nos a oportunidade de o montar e causar imenso dano. Além disso, quem é que não gosta de ver dois ou três monstros à porrada?

Face aos jogos anteriores, não há tipos de armas novas, mas há vários ataques e combinações novas, assim como as habilidades com os wirebugs e a possibilidade de alterar alguns ataques, o que resulta em mais estilos de jogo diferentes. Cada um dos quinze tipos de arma tem todo um leque de características para aprender e masterizar e dentro do mesmo tipo há várias diferenças que vão para lá do estético. Há muito por onde escolher entre, por exemplo, espadas longas, martelos, arcos, canhões portáteis, machados que se transformam em espadas, bastões com insectos ajudantes e, naturalmente, instrumentos musicais gigantes que, além de mandarem umas boas cacetadas, ainda tocam umas músicas catitas que dão efeitos de suporte, como curar ou aumentar o ataque. Dentro de cada um destes géneros, podem-se forjar dezenas de armas diferentes que ainda podem ser melhoradas, por isso escolher uma arma tem muito que se lhe diga – e é preciso que tenhamos os materiais e dinheiro necessários.

Depois de se entenderem as bases, o modo de história até é relativamente acessível; apesar de haver uma quantidade enorme de conceitos a aprender e mecânicas a masterizar, o jogo vai introduzindo as coisas gradualmente e há sempre instruções disponíveis, assim como uma óptima área de treino. Passando para o modo multiplayer a dificuldade aumenta e quando se chega a High Rank, aí sim começam as caçadas a sério, onde os monstros não estão a brincar e podem matar-nos facilmente. Mesmo assim, Rise é mais fácil que os seus antecessores, coisas como a possibilidade de andar enquanto se bebem poções, ícones que nos informam onde estão os monstros e quando podem ser capturados e a enorme mobilidade e capacidade de recuperação trazida pelos wirebugs fazem com que as lutas sejam mais fáceis e curtas que antes. Tudo isto torna o jogo mais fácil de digerir, especialmente para novatos, mas também tira alguma da sensação de perigo que era uma grande parte do atractivo de Monster Hunter. Quem vier dos jogos antigos vai notar que coisas como gestão do inventário e recolha de materiais são mais simples e ocupam muito menos tempo do que antes, além disso, informação que antes tinha de ser procurada online (como as fraquezas detalhadas dos monstros e as probabilidades de eles largarem certos itens) está disponível no jogo, o que é muito útil. Isto e várias outras pequenas coisas tornam um jogo complexo em algo relativamente simples de navegar, o que sempre foi um dos grandes problemas de Monster Hunter.

Explorar os mapas é muito mais fácil com os wirebugs e a capacidade de escalar quase tudo, mas a maior ajuda vem de uma muito bem-vinda novidade: os Palamutes. Estes são cães grandes que podemos montar como cavalos para correr rapidamente e sem nos cansarmos pelos mapas. Nem temos de sair de cima do Palamute para apanhar o que quer que seja, podendo até atacar, saltar e fazer drifts que nos dão um pequeno aumento de velocidade, tal como no Mario Kart. Como se isto não bastasse, ainda lutam ao nosso lado, sendo uma ajuda valiosa, especialmente quando jogamos a solo. Com o Palamute ao nosso lado em qualquer altura, explorar os níveis é muito mais rápido e o tamanho do mapa não teve de ser sacrificado. Claro que regressam os Palicos, gatos falantes que caçam connosco e contam com uma grande variedade de habilidades que nos vão ser úteis, desde montar armadilhas a apanhar material extra. Para lá de nos ajudarem nas caçadas, estes companheiros peludos podem ser enviados em missões para obterem matéria-prima. Como se cães e gatos não bastassem, ainda disso temos um mocho. Não serve para muito, mas é fofo. Para completar a família animal, só faltam os Poogie, porquinhos adoráveis com que podíamos brincar para dar boa sorte em Monster Hunter anteriores.

Os gráficos estão muito bons, naturalmente que o nível de detalhe e efeitos usados não estão ao nível dos vistos em Monster Hunter World, que corre em hardware mais potente, mas a Capcom fez bom uso da pequena Switch com a RE Engine. Os níveis são grandes e detalhados, surpreendentemente interactivos e cheios de movimento e vida; mesmo com quatro jogadores, cada um com o seu companheiro e ainda vários monstros (excelentemente animados) e efeitos a ocorrerem no ecrã, o jogo corre praticamente sempre a 30 FPS, mesmo em modo portátil. Não há qualquer anti-aliasing a ser aplicado e a resolução não é muito alta (756p em modo TV, 540p em modo portátil), mas não posso dizer que qualquer uma destas coisas tenha sido um problema, a qualidade de imagem é perfeitamente aceitável.

O estilo artístico é mais na onda clássica de um Monster Hunter portátil, com designs um pouco mais estilizados e muitas cores a chamarem à vista nos designs dos monstros, armas e armaduras. O estilo tradicional Japonês visto na aldeia do jogo também está presente na floresta de bamboo e construções no primeiro nível que exploramos, mas não é algo que esteja presente nos restantes níveis, que têm os mesmos temas de sempre, como as cavernas de lava, o deserto ou a floresta inundada. Com a mobilidade que temos agora, quase todos os pedaços do mapa podem esconder recursos ou segredos, o que quer dizer que os níveis podem parecer familiares, mas a exploração é totalmente nova e muito divertida. Enquanto os locais de Monster Hunter World impressionam com o seu nível de detalhe e vegetação densa, Rise opta por níveis menos preenchidos visualmente, mas muito mais fáceis de ler, o que facilita muita a navegação. Pelo contrário, as batalhas podem ser um pouco confusas visualmente quando há quatro jogadores e quatro Palamutes a atacar ao mesmo tempo, o que normalmente não é um problema, mas pode torna-se um quando se quer fazer certos combos e não se sabe bem o timing.

Por norma não há música a tocar, apenas o barulhento silêncio da natureza, o que torna os locais que exploramos mais vivos e imersivos e contrasta os momentos de calma exploração com as batalhas de vida e morte. Quando um monstro se aproxima, a música começa lentamente e quando ele se torna agressivo, aí sim, tomos brindados com temas bombásticos, orquestrados lindamente e com uma forte influência japonesa a notar-se nos tambores, flautas e vozes. Desde a maneira como as vozes dos caçadores ecoam numa gruta e se comportam com a distância à fantástica banda-sonora, a componente sonora do jogo está muito bem conseguida, estando até misturada em 5.1, o que não é sempre garantido na Switch. A única coisa que falta ouvir é a voz dos outros jogadores.

Como a Switch não tem de raíz nenhum sistema de comunicação por voz e a Capcom não implementou nenhuma solução, não há maneira de falar por voz com quem jogamos através da Switch. Sinceramente nunca senti qualquer necessidade de falar com as pessoas aleatórias com que fui jogando, mas a opção seria boa e podia incentivar jogadas diferentes com mais estratégia envolvida. Há sempre a hipótese de usar um teclado no ecrã ou ligar um por USB e podem-se usar stickers e mensagens definidas por nós ou pré-feitas e que se traduzem automaticamente, o que dá jeito tendo em conta a quantidade de Japoneses que estão sempre online. Para jogar com amigos, mais vale usar uma app para falar.

Tirando a falta de voice chat, o online funciona muito bem. Entrar num jogo com outros é facílimo, num instante podemos juntarmo-nos a uma sala ou criar uma, podendo dividir a aldeia com até mais três jogadores enquanto nos preparamos para a caça e escolhemos as missões. Mais rápido ainda é juntarmo-nos a uma missão já em andamento, não sendo preciso sequer ir para a aldeia, é só procurar a missão que queremos fazer e o jogo trata de tudo. Se por acaso não encontrarmos ninguém (nunca me aconteceu), podemos sempre começar a missão sozinhos e activar o pedido de ajuda, fazendo com que outros caçadores se possam juntar a nós. Enfim, há várias maneiras de jogar com amigos e estranhos, mas tudo é rápido, indolor e funciona às mil maravilhas, nunca havendo tempos de espera grandes, lag ou falta de pessoas com quem jogar.

Infelizmente, o Covid alterou os planos da Capcom. O verdadeiro fim da história e vários outros monstros deveriam estar no jogo, mas tiveram de ser adiados, ficando aqui umas peças em falta. Não é o fim do mundo tendo em conta a enorme quantidade de conteúdo já disponível, mas nunca se diz que não a mais e, além disso, a história está por acabar. É de notar que, depois de Rise receber o que está em falta, ainda vai contar com mais conteúdo em futuras actualizações.

Depois de 90 horas, tinha passado todas as missões do jogo, mas a vontade de jogar permaneceu. Fui tirar fotos a todos os monstros e vida selvagem, perceber como funcionam todas as armas, forjar vários tipos de equipamento com habilidades diferentes, descobrir segredos nos níveis, enfim, qualquer desculpa para jogar mais servia. Os Monster Hunter sempre foram jogos viciantes, mas nunca foram tão divertidos de controlar, o que é uma combinação perigosa. Pegar em Monster Hunter Rise até é relativamente fácil, o difícil é largá-lo.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Complexo, mas mais acessível que os seus antecessores, Monster Hunter Rise consegue manter-se fiel à fórmula tradicional e ser mais divertido de controlar do que nunca. É um excelente jogo, polido de uma ponta à outra e cheio de conteúdo para dezenas ou até mesmo centenas de horas.

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