Análises

Guilty Gear Strive

Totsugeki! Totsugeki! Totsugeki!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4

Guilty Gear pode não ser uma das séries de jogos de luta mais populares, mas sempre foi uma das mais únicas em termos de visuais e de jogabilidade. Guilty Gear Strive mantém esse pedigree da franquia, mas a Arc System Works decidiu enfrentar de frente essa falta de popularidade ao oferecer uma experiência um pouco mais simplificada para atrair novos jogadores. Será que o objectivo foi atingido com sucesso?

Quem no passado jogou um Guilty Gear sabe certamente que a barreira de entrada era alta, não só pela complexidade do sistema de combate, como também pelas mecânicas especificas de cada personagem. Em Guilty Gear Strive, as personagens continuam a ter as suas especificidades, mas o sistema de combate universal foi simplificado. Ao invés de ser focado em combos de muitos hits, passou a ser focado em dano. Isto torna os combates mais rápidos e frenéticos, mas também mais acessíveis para os jogadores mais casuais, porque não têm que decorar sequências de dezenas de hits. Os gatling combos continuam em Guilty Gear Strive, mas são consideravelmente mais limitados que em anteriores jogos da série.

Oferecer uma experiência mais simplificada é uma faca de dois gumes. Por um lado, isto facilita a entrada de mais jogadores casuais no jogo, aumentado assim a player base. Mas por outro lado, essa maior facilidade significa que os jogadores mais hardcore vão conseguir apanhar o jeito às mecânicas de combate ainda mais depressa. Felizmente, a Arc System Works teve isto em consideração e implementou duas coisas para dar a volta à situação.

Uma delas é a separação de jogadores por pisos, tendo como base a sua habilidade. Desta forma, os jogadores vão sempre lutar contra outros jogadores do mesmo nível de habilidade em partidas online ranked. Além disso, a subida ou descida de um piso não é um grande evento, como tal, isso passa um pouco ao lado daqueles que não têm como alvo atingir o topo do escalão. A outra coisa está nas estatísticas. O jogo possibilita ver muitas das nossas estatísticas, globais e por personagem, excepto o número de derrotas e o win ratio. Como resultado, os jogadores mais casuais não se sentem desmotivados, porque não conseguem ver o seu número de derrotas, e os jogadores mais hardcore não abandonam as partidas a meio para preservar o seu win ratio, porque não existe win ratio.

Contudo, importa salientar que o sistema de combate de Guilty Gear Strive, apesar de mais simplificado, oferece uma boa dose de profundidade para aqueles que quiserem retirar mais do jogo. Cada personagem tem as suas características únicas, não havendo aquela sensação de serem apenas variantes umas das outras. Ramlethal é forte a média distância devido ao seu grande alcance com as duas espadas gigantes, mas sofre imenso quando atira as espadas. I-No é uma personagem que consegue criar uma enorme pressão, mas requer uma utilização estratégica das suas habilidades. Potemkin é forte e tem grabs que fazem imenso dano, mas move-se muito lentamente. Millia e Chipp são extremamente ágeis e conseguem criar armadilhas para os adversários, mas em contrapartida têm menos vida. A diversidade no elenco de personagens sempre foi um ponto forte nesta franquia, e Guilty Gear Strive não desilude ao oferecer 15 personagens verdadeiramente únicas.

Como não poderia deixar de ser, Guilty Gear Strive oferece ferramentas de aprendizagem; não tantas como Guilty Gear Xrd Rev 2, o que é compreensível por ser um jogo novo, mas o suficiente para que os jogadores entendam os básicos. Além do típico Training Mode, também existe um Mission Mode com mais de uma centena de missões de diferentes níveis de dificuldade que tocam nos mais variados tópicos, uns mais básicos e outros mais técnicos. Inclusive, o modo também oferece dicas de match-ups, nomeadamente na forma como lidar com determinados ataques das personagens.

A nível de conteúdo singleplayer, além do Training Mode e Mission Mode, existe o Arcade Mode, Vs CPU, e Survival Mode. Também existe o Story Mode, pese embora seja diferente do modo história de outros jogos. Aqui, o Story Mode é essencialmente um filme com cerca de 5 horas de duração animado com os gráficos do jogo, sem segmentos de jogabilidade. Sendo a continuação da história dos anteriores jogos da série, Guilty Gear Strive inclui um enorme glossário, cronologia e outra informação para dar assim um maior contexto ao que se passa na história da série.

Mas Guilty Gear Strive é um jogo de luta, ou seja, um jogo competitivo por natureza, como tal, o modo online é de extrema importância. Inicialmente, estava previsto o jogo utilizar o típico delay based netcode, mas no início do ano passado a equipa de produção alterou para rollback, que é o método preferencial para lidar com este género de jogos. E o resultado final é muito bom. É claro que há sempre a possibilidade de encontrar um adversário com má ligação por diversos factores, mas no geral, a minha experiência no online foi muito positiva. Devo ter feito perto de 100 lutas online e só numa mão cheia de situações senti algum lag devido a um ping alto. Importa mencionar que o jogo tem actualmente cross-play entre PS5 e PS4, mas não entre consolas PlayStation e PC. Contudo, a Ark System Works não fechou totalmente a porta a isto, e quem sabe se no futuro não virá a ser implementado para o benefício de todos.

Se há um aspecto que merece ser criticado é o sistema online lobby. Guilty Gear Strive deixou de lado o online lobby em 3D de Dragon Ball FighterZ e Granblue Fantasy Versus, que já não era propriamente elogiado pelos jogadores, para adoptar um lobby ainda pior, desta vez em 2D, cujo design dificulta a navegação pelo lobby. Por um lado, é interessante ver uma nova abordagem aos online lobbies, mas por outro, a execução mostra que a ideia nunca foi boa. E claro, isto também dificulta o simples processo de convidar um amigo para umas partidas online. Felizmente, existe uma forma de dar a volta ao péssimo sistema de lobby, bastando para isso utilizar o Quick Match, em que o jogador entra no Training Mode e fica aguardar que o matchmaking encontre um adversário. Não é uma cura para o problema, mas pelo menos simplifica o processo. Um outro aspecto que espero que seja melhorado no futuro é o “communicating with server”. Entrar no jogo e iniciar a vertente online demora imenso tempo devido a esta mensagem.

Não poderia terminar esta análise sem mencionar os aspectos técnicos do jogo. Os anteriores jogos da Arc System Works, mais especificamente Dragon Ball FighterZ, Granblue Fantasy Versus e o próprio Guilty Gear Xrd, que iniciou a transição de sprites para modelos 3D a imitar 2D, já eram muito bons visualmente. E ainda são, mesmo vários anos após o seu lançamento. Mas Guilty Gear Strive evoluiu este estilo visual para outro patamar ao apresentar personagens ainda mais detalhadas e um novo sistema de iluminação. O resultado final é um jogo de luta com visuais em 3D que facilmente podem ser confundidos com um estilo anime desenhado à mão. Na PS5, que foi onde passei a grande maioria do tempo, o jogo corre a 60FPS em 4K e tem tempos de loading das batalhas mais curtos.

Para complementar a apresentação imaculada está uma excelente banda sonora composta Daisuke Ishiwatari, que encaixa perfeitamente no estilo frenético do jogo. E como já é tradição nos jogos da Arc System Works, o dinheiro in-game obtido a completar as missões de treino ou nas partidas online pode ser gasto na pesca de coleccionáveis, com o intuito de desbloquear artwork, trailers, e música dos jogos anteriores. Estas músicas podem, posteriormente, ser escolhidas para os combates. Ainda tenho muito para desbloquear, mas já apanhei alguns temas antigos das personagens, como Kagematsuri, o tema da I-No em Guilty Gear X2, ou Feel a Fear, que é o tema do Zato-1 também em Guilty Gear X2.

Eu não sou nenhum pro player, mas gosto e sempre gostei de jogos de luta, um amor que já vem desde os tempos do Street Fighter II na Mega Drive. Mas Guilty Gear sempre foi aquela única série que nunca consegui verdadeiramente entrar, porque sentia que a porta estava fechada. Guilty Gear Xrd Rev 2 foi um pouco mais receptivo devido às ferramentas de aprendizagem, mas ainda assim, sentia que a barreira de entrada continuava muito alta comparativamente a outros jogos do género. Guilty Gear Strive é o primeiro jogo da série onde sinto que existe um bom equilíbrio entre acessibilidade e complexidade. Este é um daqueles jogos fáceis de jogar mas difíceis de masterizar. Qualquer um pode numa tarde aprender os básicos e ganhar umas lutas, e quem quiser dominar as diferentes mecânicas universais e específicas das personagens tem muito que trabalhar. Guilty Gear Strive não só é muito bom a nível de jogabilidade, como também é extremamente divertido.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Guilty Gear Strive é um excelente jogo de luta que oferece visuais fantásticos, um bom netcode, e um sistema de combate acessível mas igualmente profundo. E tendo já colocado quase 30 horas em Guilty Gear Strive, posso dizer que é um dos jogos de luta mais divertidos que joguei nos últimos tempos.

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