Scarlet Nexus

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One

Apesar de gostar de anime e de jogos com um estilo anime, confesso que nunca me senti muito entusiasmado em relação a Scarlet Nexus, mas por alturas do lançamento tive a hipótese de testar o jogo e pensei para mim mesmo “porque não?”. Verdade seja dita, Scarlet Nexus surpreendeu-me bastante pela positiva. Não sei se foi o marketing que não foi particularmente eficaz ou se o próprio setting não “vende” bem o conceito do jogo, mas este é um action RPG bem mais coeso do que antevia.

Scarlet Nexus transporta os jogadores para um mundo anime “brainpunk” onde pessoas com poderes psiônicos e criaturas bizarras de outro mundo ameaçam a humanidade. O termo “brainpunk” deriva de uma era moderna onde avanços massivos na tecnologia da mente resultaram na utilização de habilidades psiônicas incríveis. Nem todos conseguem desenvolver tais capacidades, mas aqueles que conseguem ganham a possibilidade de controlar electricidade, fogo, invisibilidade ou super velocidade, entre outros, como arma na luta contra as criaturas conhecidas como Others. Sem surpresa, nem tudo é o que parece e um mistério começa a desenrolar-se ao longo da aventura.

A história centra-se em dois protagonistas, Kasane e Yuiko, ambos com o mesmo poder de controlar objectos com a mente. Cada um dos protagonistas oferece o seu lado da história e também o seu grupo de companheiros, com as suas motivações e poderes únicos. Como Yuiko utiliza uma espada como arma de ataque, é compreensível que a escolha com qual das personagens jogar primeiro acabe por pender para o lado de Yuiko, mas recomendo que a primeira playthrough seja feita com a Kasane. Não só a rota da Kasane é melhor em termos de ritmo de desenvolvimento, como a progressão de Kasane como personagem é mais acentuada e o grupo de companheiros tem uma dinâmica mais interessante. As rotas partilham algum conteúdo entre si, mas também oferecem conteúdo único.

Scarlet Nexus parece ter sido desenvolvido a pensar nos amantes de anime, com um estilo visual muito característico do género, um enredo mirabolante e grandes sequências de acção. Aliás, isto é evidente quando se considera que existe uma verdadeira série anime baseada neste jogo. Mas mesmo aqueles que não sejam grandes fãs de anime vão encontrar em Scarlet Nexus um action RPG com um combate bastante divertido e com mecânicas bem desenvolvidas.

Existe uma demo de Scarlet Nexus nas consolas para quem quiser ver este jogo em acção por si próprio, mas devo dizer que a demo não faz um bom trabalho a demonstrar o que é Scarlet Nexus. Isto porque a demo atira uma grande parte das mecânicas de combate num curto espaço de tempo, dando a ideia de que a jogabilidade é exageradamente complexa. O jogo final não é assim, e vai oferecendo uma nova mecânica aos poucos, para que os jogadores não se sintam sobrecarregados. Desta forma, quando uma nova mecânica é introduzida, os jogadores já deverão estar confortáveis com aquilo que foi introduzido anteriormente.

Como isto não é um tutorial ou um guia, vou tentar não complicar muito as coisas. Kasane e Yuiko partilham o mesmo poder de telekinesis, mas têm estilos de combate distintos, além de que cada um é acompanhado por um grupo diferente de personagens com as suas próprias habilidades. Durante os combates é possível utilizar por tempo limitado as habilidades dos respectivos companheiros e criar combinações que visam tirar partido das fraquezas dos inimigos. Por exemplo, utilizar o poder de duplicação da Kyoka em conjunto com o poder de telekinesis, para atirar múltiplos objectos contra um inimigo de forma a que fique staggered.

Há medida que Kasane e Yuiko sobem de nível, é possível desbloquear novos golpes ou aumentar a eficácia de determinadas mecânicas através de uma skill tree. Scarlet Nexus faz isto surpreendentemente bem, porque todos os nodes incluem algo útil, como aumentar o número de hits de um ataque básico, permitir a utilização de múltiplas habilidades dos companheiros em simultâneo, ou fazer double jump. Além disso, é possível tornar a utilização das habilidades dos companheiros mais eficazes através dos Bond Levels. Faz lembrar um pouco os eventos dos confidants em Persona 5, onde se conhece melhor essa personagem e as suas motivações. É aconselhado não descurar este aspecto do jogo, porque os benefícios de aumentar os bonds tem impacto directo nas batalhas.

Scarlet Nexus não é um jogo difícil, mas não utilizar as diferentes habilidades conforme é necessário pode dificultar algumas lutas, em particular contra bosses. Nestas lutas torna-se importante utilizar os poderes de forma táctica. Com o desbloquear de nodes na skill tree, Kasane e Yuiko expandem as suas opções de combate, e ganham acesso a counters após um perfect dodge, air dash, double jump e charge attack. Se há um aspecto que não gosto no sistema de combate de Scarlet Nexus é a ausência de dodge cancel, significando que não é possível cancelar um ataque com um desvio. Não é que esta opção seja essencial, mas a sua implementação tornaria os combates mais fluídos.

Scarlet Nexus é um dos jogos mais anime que me lembro de ter jogado, e digo isto como um elogio. É um novo projecto que não está preso a materiais pré-existentes, mas que oferece elementos e personagens típicas de anime, e uma história cheia de mistérios com algumas reviravoltas inesperadas. O conteúdo secundário e alguns dos bond events são pouco interessantes, mas o enredo principal é suficientemente intrigante para prender o jogador do início ao fim. E o facto de os combates serem divertidos tornam este action RPG atractivo mesmo para aqueles que não vão muito à bola com anime.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.