Análises

Hades

Não há escapatória!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One

Lançado originalmente em 2020 para PC e Switch, Hades foi considerado um dos melhores jogos desse ano e conseguiu arrecadar dezenas de prémios em várias categorias, incluindo Jogo do Ano em eventos e sites. Mas acima de tudo, Hades tornou no género roguelike mais conhecido. Este não é um género novo, bem pelo contrário, mas sempre foi relegado para segundo plano devido à sua natureza muito característica onde ser perde progresso com cada morte. Hades puxou o género roguelike para a ribalta ao oferecer um produto muito apelativo visualmente e com mecânicas de jogabilidade bastante interessantes.

Como disse, o género roguelike não é propriamente novo e aquilo que difere Hades dos outros jogos do género é o seu maior foco na narrativa. Spelunky, Dead Cells, Curse of the Dead Gods e Slay the Spire, por exemplo, também são bons jogos, mas têm uma história minimalista e focam-se apenas em apresentar mecânicas roguelike sólidas. Hades vai mais além, porque oferece uma fundação roguelike de qualidade e também uma verdadeira narrativa que vai evoluindo ao longo do tempo.

Não vou ser muito específico para não estragar a experiência a ninguém, mas em termos gerais, os jogadores seguem as pisadas de Zagreus, filho da Hades, na sua procura de informação sobre as suas reais origens. Zagreus terá de batalhar por quatro zonas do sub-mundo e chegar à superfície para obter respostas. Quando morre, Zagreus regressa ao ponto de partida; à sua casa, mas sempre que isto acontece, os jogadores são presenteados com novos diálogos das personagens. E é assim que o jogo faz com que o jogador se mantenha motivado para fazer mais uma run e mais uma e mais uma. Inicialmente, as personagens secundárias que estão na casa de Hades parecem ser demasiado superficiais, mas há medida que se vai falando com elas e aumentando a sua afinidade, elas começam a demonstrar um novo lado. De facto, todo este processo de evolução narrativa foi muito bem implementado no género roguelike.

As áreas têm todas o seu aspecto muito distinto e inimigos específicos, culminando com uma batalha de boss. Os próprios bosses reagem ao progredir da narrativa e a determinados eventos, fazendo com que haja algum factor novidade sempre que se repete uma luta. E mais tarde, os jogadores podem desbloquear modificadores que alteram os bosses e outros parâmetros das runs, oferecendo assim alguma frescura adicional à experiência. A progressão por estas zonas envolve escolher qual o caminho a seguir, já que isso vai ditar os recursos e boons dos deuses obtidos. Quer se complete ou se falhe uma run, os jogadores mantêm alguns recursos obtidos nessa run, como Chthonic Key, Darkness, Gemstones, Nectar e recompensas dos bosses. É com estes recursos que se pode evoluir permanentemente alguns aspectos de Zagreus e variantes de armas com o intuito de aumentar as hipóteses de sucesso em futuras runs e evoluir a relação com as diversas personagens.

No que toca ao armamento, os jogadores têm 6 tipos de armas à sua disposição, entre as quais uma espada, uma lança e um arco. Todas oferecem o seu estilo muito próprio de combate, sendo mais tarde possível desbloquear variantes de cada arma que oferecem a sua particularidade. Em alguns casos, as diferenças são poucas, mas noutros casos, a sua jogabilidade muda consideravelmente. Além disso, os boons oferecidos pelos diversos Deuses do Olimpo resultam melhor em algumas armas que outras, o que fará com que uma run possa se tornar mais fácil ou difícil dependendo da sorte. O factor experimentação é importante. Pessoalmente, Heart-Seeking Bow com o Aspect of Chiron e Adamant Rail com o Aspect of Zagreus ou Aspect of Eris são as minhas armas favoritas, mas existe um estilo de arma para acomodar todos os gostos.

Em termos de conteúdo, estas novas versões de Hades são essencialmente idênticas às versões PC e Switch. As versões PS5 e Xbox Series X/S correm a 4K, enquanto que as versões PS4 e Xbox One correm a 1080p. Eu joguei na PS5 e os gráficos são realmente muito nítidos e super coloridos, sendo perfeitos para uma TV de grandes dimensões. Além disso, o jogo é também muito fluído, não tendo notado qualquer quebra de frame rate ao longo das minhas sessões de jogo. De referir que, ao contrário da versão Switch, estas versões PlayStation e Xbox não permitem transferir o progresso feito na versão Steam. Talvez seja um dissuasor para alguns jogadores que jogaram no PC e que agora estavam à espera de continuar o seu progresso numa das consolas da Sony ou Microsoft, mas o jogo é tão agradável e divertido que não achei isso um problema. Eu joguei 60 horas no PC no ano passado e não me importei de recomeçar na PS5, tendo já mais de 26 horas de jogo.

Por falar em horas, Hades tem imenso conteúdo o que aliado à sua natureza roguelike proporcionará muitas dezenas de horas de diversão. A nível de dificuldade, não o achei particularmente difícil quando comparado com outros jogos do género devido a todos os recursos permanentes que possibilitam evoluir Zagreus e melhorar as hipóteses de sucesso para futuras tentativas, e também por este não ser um jogo que peça um grande nível de habilidade aos jogadores. E é exactamente por isso que Hades não dá aquela sensação de frustração e de tempo perdido após uma run falhada, porque os jogadores trazem sempre algo que os permite avançar, seja na progressão de Zagreus, seja na afinidade com o elenco de personagens. De qualquer forma, quem sentir demasiadas dificuldades tem à sua disposição o God Mode, que reduz a dificuldade do jogo.

Se há uma crítica a fazer, não é propriamente ao jogo em si, mas sim à sua utilização das funcionalidades da PS5. Aqui refiro-me especificamente à falta de suporte para as Activity Cards, que seria um bom atalho para se poder continuar o jogo sem passar pelo ecrã inicial, e o haptic feedback ser muito subtil. Aliás, o haptic feedback é tão subtil que praticamente nem se nota durante as runs e combates mais intensos, o que é pena, porque existem muitas oportunidades para a sua utilização, como quando Zagreus está a levar dano ao longo do tempo, na indicação de quando os projecteis conectam com os inimigos ou durante a pesca.

Hades continua a ser tão bom quanto me lembrava e, apesar de não tirar mais partido das funcionalidades da PS5, é um port com sucesso, mantendo tudo de positivo das outras versões. Ir do menu da consola até começar a jogar demora pouco tempo (cerca de 17 segundos), os gráficos são super nítidos, e a jogabilidade é muito fluída. Hades consegue incutir nos jogadores o “só mais uma run” sem trazer a frustração que, por vezes, se encontra no género roguelike. Este foi um dos melhores jogos de 2020, e agora, os jogadores na PlayStation e Xbox podem ver em primeira mão o motivo de haver tanto alarido à sua volta.

Nota editorial: Cópia fornecida pela produtora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

Hades é um título de grande qualidade que consegue abrir a porta do género roguelike a quem nunca gostou deste tipo de jogo. Visuais fantásticos, uma jogabilidade fluída e muito conteúdo são algumas das coisas que os jogadores poderão esperar de Hades.

User Rating: 4.85 ( 2 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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