Análises

Gran Turismo 7

Vou apanhá-los todos!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PlayStation 5, PlayStation 4

Todos têm nas suas vidas algo que os lembra que o tempo passa depressa, como um filme, uma série ou até mesmo uma música. No meu caso, uma dessas coisas é Gran Turismo. Vi o primeiro jogo em movimento pela primeira vez num Templo dos Jogos, na SIC, e foi, juntamente com o Final Fantasy VII, o jogo que me fez comprar a PlayStation em vez da SEGA Saturn. Agora, está aí a sétima entrada numerada na franquia Gran Turismo que visa também celebrar os 25 anos de existência desta série. Raios, como o tempo passa depressa.

GT Sport, lançado em 2017, representou uma mudança na franquia, porque foi um jogo virado para o online. O jogo deixou de lado a componente “car RPG” tradicional para se focar em corridas competitivas online. Ao longo do tempo, devido às críticas dos fãs, o jogo foi recebendo eventos single player semelhantes aos campeonatos clássicos, mas a sua essência nunca mudou muito. Por sua vez, GT7 marca um regresso às origens, mas sem descartar aquilo que Gran Turismo Sport fez de melhor. Pode-se até dizer que é uma espécie de best-off da série: campanha single player que os fãs estão habituados combinado com o modo online de qualidade visto em GT Sport. Mas isto não significa que não hajam novidades, incluindo algumas com impacto na experiência.

Parte da experiência Gran Turismo clássica envolve tirar várias licenças e começar a campanha ao comprar um carro usado. É exactamente isso que acontece em GT7, mas com uma pequena diferença. No mapa mundo, que serve como hub central e que é embrulhando numa agradável interface de utilizador tipicamente Gran Turismo, existe um Cafe que oferece objectivos e, consequentemente, uma linha guiadora ao pedir ao jogador para completar livros temáticos. Completar estes livros envolve adquirir carros específicos obtidos ao conquistar determinados eventos e campeonatos, como o mítico Sunday Cup. Os campeonatos habituais com restrições de potencia, tipo de tracção ou nacionalidade do fabricante estão de regresso, significando que o aspecto “coleccionador de carros” está vivo e de boa saúde. Inclusive até existe uma espécie de caderneta para indicar os carros já adquiridos.

Esta linha guiadora não abrange todos os eventos disponíveis, como tal, uma vez terminada a campanha, continua a haver mais campeonatos para realizar. Os eventos todo-o-terreno estão de volta, mas continuo a não ser grande fã deste tipo de corridas num GT. É difícil de explicar, mas neste tipo de terreno parece que os carros têm menos peso e reagem demasiado às lombas. Não é que seja mau, mas não é o meu tipo de evento favorito. Há que salientar a ausência de corridas de endurance. O máximo que vi foram corridas de 10 voltas com consumo de combustível e desgaste dos pneus ligados.

E claro, tudo o que envolve melhorias mecânicas e personalização visual está igualmente de regresso. Os eventos e campeonatos podem ter um nível de performance recomendado ou um nível limite, e melhorar o desempenho do carro é algo relevante para chegar à vitória. Os adversários controlados pela IA não são fantásticos, pelo menos enquanto a IA Sophy não for implementada, mas vi-os algumas vezes a lutarem entre si e a cometerem erros. É possível alterar o nível de dificuldade da IA, e no mais alto, convém fazer melhorias aos carros para se poder acompanhar os carros que estão à frente. Estas melhorias incluem vários componentes do motor, caixa de mudanças, turbos, radiadores, reduções de peso, suspensões, travões, tipos e compostos de pneus e mais umas quantas coisas. Os fãs de carros têm aqui muito com que brincar e experimentar. Por sua vez, a personalização visual possibilita alterar o para-choques frontal e traseiro, adicionar uma asa, trocar as jantes, e até fazer o alargamento do carro. Além disso, é possível fazer liveries para os carros, capacetes e fatos de corrida.

Gran Turismo não é a única série de jogos de corridas, mas é aquela que melhor combina o desporto automóvel com a história automobilística. Estes não são jogos focados apenas para quem gosta de corridas, mas sim para todos aqueles que gostam de carros e desta industria. E isto é muito vincado em GT7. Ao regressar ao Cafe após completar um livro os jogadores são presenteados com informação referente aos carros desse livro. Isto é complementado com mais informação na Brand Central. Por exemplo, a Porsche oferece uma linha temporal com imagens e informação da sua história. O mesmo vale para a Ferrari, Bugatti, Chevrolet, Toyota e várias outras marcas. Inclusive, várias marcas até têm ligação directa para os sites dos fabricantes. Esta ligação ganha outra dimensão através das colaborações da Polyphony Digital com algumas marcas para criar carros originais com conceitos e ideias inovadoras.

No que toca ao leque de carros, GT7 inclui uma mistura de carros clássicos e modernos, para totalizar mais de 400 veículos, todos recriados com um grande nível de detalhe. A lista inclui nomes clássicos como Nissan R32 GT-R, Toyota Supra GT500, Alfa Romeo 155, e Porsche 911 Carrera RS (964), e carros modernos como Nissan Z Performance, Chevrolet ZL1, Ferrari F8 Tributo, e Porsche Taycan Turbo S. A lista é variada e certamente que há carros para todos os gostos, mas sinto a falta de alguns carros. Por exemplo, Bugatti Chiron, Mercedes-AMG One, Mercedes Vision EQS, e Porsche 918 não fazem parte das opções na Brand Central. Uma vez que GT Sport foi suportado durante anos e recebeu gratuitamente muitos carros, assumo que o mesmo irá acontecer com GT7, mas admito que é um pouco desapontante alguns carros sonantes terem ficado de fora.

Quanto a pistas, estão incluindo traçados mundialmente conhecidos do desporto automóvel como Le Mans, Monza, Nurburgring, Spa-Francorchamps, Interlagos, Red Bull Ring, Suzuka, Mount Panorama, e Laguna Seca, entre outros. Mas os jogos Gran Turismo também são conhecidos por terem circuitos originais de grande qualidade. É o caso de Dragon Trail e Tokyo Expressway, mas os fãs de longa data vão poder voltar a correr em High Speed Ring, Deep Forest e Trial Mountain. Estes três traçados clássicos receberam algumas modernizações, mas a sua essência permaneceu intacta e os fãs vão-se lembrar imediatamente de como andar a abrir nestas pistas. No geral, o detalhe em todas as pistas, reais e originais, é enorme.

GT7 e GT Sport podem ser parecidos à primeira vista, mas um olhar mais atento revela que não é bem assim. GT7 tem condições climatéricas e transição dia/noite dinâmica, coisa que acontece até mesmo em eventos de poucas voltas. O sistema de iluminação é fantástico e jogar este jogo numa TV com bom HDR é um regalo para os olhos. O sistema de iluminação natural combinado com as condições climatéricas e a transição dia/noite criam alguns momentos fotorealistas e de grande beleza. Quem gosta de tirar fotos vai encontrar aqui muitas oportunidades para capturar esses momentos. A cinematografia sempre foi um dos pontos fortes desta série.

GT Sport já tinha chuva, ou melhor, recebeu essa opção através de uma actualização, mas GT7 leva as coisas a outro patamar. É possível começar a chover numa parte da pista e noutra parte ainda estar tudo seco, coisa que acontece na realidade, em particular em pistas grandes. E a água vai acumulando nas zonas mais irregulares do asfalto. Quando para de chover, os carros vão dispersando a água na pista até se começar a formar uma linha de corrida. Ver isto a acontecer no desenrolar da prova e com tamanha fidelidade visual é deveras impressionante. Ainda para mais, o spray levantado pelos carros é intenso e dificulta a visibilidade, como esperado. Mas não se assustem; GT7 continua a ser acessível e fácil de jogar com um comando. O maior realismo não significa que se tenha perdido acessibilidade. A versão PS5 beneficia de uma pequena funcionalidade que adiciona muito à experiência, nomeadamente o haptic feedback. A implementação foi muito bem feita e a vibração é ampla o suficiente para transmitir variada informação do carro e da pista.

Passando para o online, esta componente é muito semelhante à existente em GT Sport. Na verdade, os jogadores que jogaram GT Sport verão os seus ratings serem transferidos para GT7 para tornar a transição entre jogos mais suave. O sistema de penalização é igualmente semelhante ao do GT Sport que, por sua vez, foi inspirado no do iRacing. O objectivo é separar os jogadores por níveis de habilidade e por desportivismo com o intuito de oferecer corridas contra outros jogadores que apresentam um comportamento em pista semelhante. O sistema não é perfeito devido às inúmeras variáveis, mas faz um trabalho competente a separar as águas entre quem quer tentar ter corridas limpas e quem quer jogar aos carrinhos de choque. O modo Sport permite aos jogadores participar em corridas pré-definidas cujas definições, pistas e carros vão mudando regularmente. Se, por outro lado, querem criar os vossos próprios campeonatos, podem criar salas com as definições e restrições que bem entenderem.

Não poderia terminar este texto sem tocar na tal infame questão dos sons dos carros. Gran Turismo nunca foi particularmente conhecido por este aspecto, ou pelo menos, não pelas melhores razões. GT6 melhorou o som dos motores, mas muitos ainda faziam lembrar um aspirador. GT Sport deu um passo de gigante neste departamento e GT7 continua essa melhoria. Os carros realmente fazem lembrar os seus congéneres reais. As definições de áudio ainda dão preferência ao efeito do vento e do chiar dos pneus, mas, tal como no GT Sport, isso é algo facilmente ajustável nas opções ao aumentar o volume do som do motor e reduzir o chiar dos pneus. Fazer isto é o suficiente para se ouvir bem o roncar dos motores, o silvo dos turbos e os backfire do escape. Uma nota também para a boa banda sonora que acompanha os menus e os replays, coisa que os fãs certamente já estão habituados.

Gran Turismo é aquele tipo de série que tem o “factor X”. Talvez seja a combinação entre deporto motorizado e a história desta indústria ou a combinação entre realismo e acessibilidade, mas esta série sempre foi muito boa a entregar jogos com muito conteúdo que conseguem atrair não só quem gosta de desporto motorizado, mas também quem apenas gosta de carros. GT7 não é excepção. Todos os aspectos do menu, a informação disponível e a própria cinematografia existe para realçar os protagonistas deste jogo: os carros. GT7 não é perfeito, mas é um regresso a um molde mais tradicional que os fãs tanto pediam sem esquecer as coisas boas implementadas em GT Sport. É sem dúvida um dos melhores trabalhos da Polyphony Digital e uma excelente opção para quem quer um novo jogo de corridas.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Pode-se dizer que GT7 é um best-off da série Gran Turismo, porque oferece a experiência tradicional da série juntamente com a boa vertente online de GT Sport.

User Rating: 2.89 ( 5 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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