Análises

Final Fantasy 16

Phoenix Down

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PlayStation 5
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Sendo fã de longa data de Final Fantasy, tive a oportunidade de experienciar uma enorme diversidade de aventuras e histórias, com alguns altos e baixos pelo meio, sim, mas no geral com bastante qualidade. Um dos pilares desta série e também um dos seus pontos positivos é a capacidade de reinvenção. Cada entrada numerada oferece um novo elenco, história e mundo, mas também uma nova jogabilidade. Isto faz com que cada entrada se sinta fresca, mesmo estando a falar de uma série que existe há 36 anos. Isso continua presente em Final Fantasy 16.

Final Fantasy 16 começa exatamente como se viu na demo que se encontra disponível na PlayStation Store. Os jogadores vão seguir as pisadas de Clive, irmão mais velho de Joshua e seu protetor. Joshua é o Dominant da Phoenix, significando que foi abençoado com os seus poderes. Um certo evento faz com que Ifrit, o segundo e completamente desconhecido Eikon de fogo apareça graças a um misterioso individuo encapuçado. Ambos os Eikon entram em confronto, acabando com a morte de Joshua. Este é o mote para Clive jurar encontrar o Dominant do Ifrit e vingar-se da morte do irmão. A história é mais pesada do que é tradicional na série, ou pelo menos, na forma como é contada, e nota-se as influências de Game of Thrones.

Uma coisa que o jogo faz bem é desenvolver o mundo de Valisthea, seja através das missões principais ou de conversas com os diversos NPC’s. Além disso, durante as cinemáticas está disponível o Active Time Lore, onde se pode ver informação adicional sobre as coisas diretamente relacionadas com a cinemática em questão, como lore de locais ou detalhes das personagens. Não é de todo necessário consultar isto para se perceber o que está a passar nem quem são as personagens, mas é uma maneira inteligente de oferecer informação adicional e lore de forma comedida sem simplesmente atirar isso para os menus.

O elenco de personagens é igualmente um ponto forte do jogo. Não só é um elenco variado como também rico. Clive é um protagonista com carisma e é acompanhado por outras personagens bem desenvolvidas, sejam mais ativas em jogabilidade como Jill e Cid, mas também por outras personagens secundárias como Gav, Charon, Tarja e Vivian. Por vezes, Final Fantasy são jogos que se focam quase exclusivamente no grupo de heróis em detrimento do resto, mas Final Fantasy 16 é um dos casos onde foi feito um claro esforço no elenco de suporte, o que acaba por realçar Clive e Jill como personagens principais. Também sou obrigado a destacar o excelente voice acting, particularmente de Ben Starr (Clive) e Ralph Ineson (Cid).

No que toca à história em si, não vou entrar em detalhes além do que disse anteriormente e que pode ser visto na demo para não estragar a surpresa, mas gostei bastante do que vi. Achei que o jogo faz um bom trabalho em dar coisas suficientes de forma regular para manter o jogador interessado em ver o que vai acontecer a seguir, mesmo em períodos mais calmos e onde os objetivos são mais simplistas. E os momentos épicos são bem espaçados e colocados na campanha, acabando assim por nunca perderem o fator “wow”. E diga-se de passagem, os momentos épicos e de grande escala de Final Fantasy 16 são mesmo épicos e visualmente impressionantes.

Por sua vez, as side quests são mistas em qualidade. Estas quests tendem a ser relativamente básicas e rápidas de se completar, como encontrar materiais ou derrotar determinados monstros, mas existem exceções. Essas exceções são assinaladas de forma diferente, com um “+”, e são side quests com maior impacto na experiência porque acabam por desbloquear upgrades e ferramentas com direta influência na jogabilidade. Além disso, algumas têm múltiplos passos e continuações.

Como disse no início, Final Fantasy é uma série que se reinventa em cada novo título e isso continua aqui, principalmente no sistema de combate que agora é completamente focado na ação. O combate faz lembrar Devil May Cry, o que não é surpresa porque contou com a ajuda de Ryota Suzuki, que trabalhou anteriormente na Capcom no desenvolvimento de Dragon’s Dogma e Devil May Cry 5. Clive pode ter equipado até três Eikons, sendo possível alternar entre eles em tempo real como se fossem diferentes poses de ataque. Cada Eikon tem o seu conjunto de habilidades e estilo de combate característicos. Phoenix, a forma inicial, é balanceada em tudo mas não se destaca em nada em particular. Garuda, por sua vez, é forte no stagger, enquanto que Titan é mais força bruta, sendo capaz também de defender golpes dos inimigos e fazer parries.

Completar batalhas oferece pontos que depois podem ser usados para evoluir as diversas habilidades. Evoluir as habilidades irá conferir-lhes mais poder, óbvio, mas também permite transferir a habilidade de um Eikon para outro Eikon. Isto abre portas para que os jogadores possam escolher as habilidades que mais gostam ou que tenham uma maior sinergia entre si para executar combos. É um sistema bastante interessante e que oferece uma boa dose de experimentação. Essa experimentação pode ser feita no training mode acessível em Hideaway.

As lutas entre Eikons foram uma constante no marketing do jogo e de facto são um dos pontos altos da campanha. São lutas de grande escala e espalhafato visual, sendo todas elas únicas. Isso torna-se rapidamente evidente logo nas primeiras horas de jogo com duas lutas completamente distintas uma da outra. Além disso, nota-se também as influências de Final Fantasy XIV nestas lutas, porque apresentam mecânicas semelhantes às existentes em raids como, por exemplo, sair de um círculo no chão antes que aconteça o impacto do ataque do boss. É uma implementação interessante que acaba por adicionar um elemento extra aos combates.

Apesar do foco na ação, Final Fantasy 16 não esquece aqueles que não estão tão habituados ao ritmo rápido de combate, pois oferece acessórios que funcionam como opções de acessibilidade. Estes acessórios incluem a possibilidade de Torgal executar as ações sozinho, de Clive desviar automáticamente de ataques inimigos, ou da simplificação dos combos. Final Fantasy 16 não é um jogo particularmente desafiante, mas de qualquer forma, são dadas opções para quem ser a coisa mais simplificada.

Em termos técnicos, Final Fantasy 16 é um jogo bastante bom. Os cenários são belos e com uma boa dimensão, as personagens têm um alto nível de detalhe, e a direção artística é fantástica, particularmente nas cutscenes principais de história. Mais uma vez, as semelhanças entre Final Fantasy 16 e Final Fantasy 14 não são coincidência, uma vez que Naoki Yoshida, produtor deste jogo também foi o principal responsável pelas expansões Shadowbringers e Endwalker para Final Fantasy 14. O design das personagens é semelhante entre ambos os jogos, mas a fidelidade visual é consideravelmente maior. O jogo não pretende perseguir o foto-realismo, preferindo em vez disso apresentar uma aparência mais estilizada. De notar também os curtos tempos de loading nos fast travel que fazem jus ao seu nome. E o próprio loading do menu da consola até se começar a jogar é bastante curto, nomeadamente cerca de 8 segundos.

Contudo, nem tudo é perfeito neste campo. O jogo permite escolher jogar no Quality Mode a 30 FPS e uma resolução mais alta, ou no Performance Mode a 60 FPS numa resolução mais baixa. Eu experimentei ambos os modos, mas acabei por preferir o Performance Mode. Não notei quebras de fluidez durante as batalhas, mas fora das batalhas existem quebras de fluidez notórias. Não estraga a experiência, mas nota-se bem a diferença entre a frame rate durante os combates e fora dos combates. Embora aprecie a consistência do Quality Mode, acho que os 60 FPS nas batalhas acabam por compensar a inconsistência durante a exploração.

Se calhar, as minhas principais queixas estão relacionadas com opções Quality of Life em falta. Até há pouco tempo atrás não havia a possibilidade de ajustar a intensidade do Motion Blur. A implementação é de qualidade, mas acho que o valor original é demasiado alto. Felizmente, essa opção já está disponível. Por outro lado, o jogo não oferece a possibilidade de alterar livremente as funções dos botões, não permite reduzir ou desligar o efeito de desfocamento quando são executados alguns golpes durante as lutas de Eikons, não permite desligar ou reduzir os efeitos no ecrã quando se ativa o limit break, e não há um botão dedicado para correr. Aliás, é impossível correr dentro de localidades ou no hub.

Final Fantasy 16 não só é um bom jogo em geral como também um bom Final Fantasy, mesmo tendo um combate que foge ao que tem sido habitual em títulos numerados passados. Acho que é um jogo melhor que Final Fantasy 15 e Final Fantasy 13, e diria até que é melhor, ou pelo menos mais consistente, que Final Fantasy 12. Este é um jogo com carácter e alma, que oferece um elenco de protagonistas interessantes e um elenco de suporte de qualidade, juntamente com um sistema de combate profundo e personalizável. Existem coisas que precisam de ser melhoradas, mas no geral, adorei o tempo que passei neste jogo. Há quem diga que Final Fantasy 16 não é um Final Fantasy, mas acho que o jogo é fiel a um dos pilares da franquia: reinvenção da experiência Final Fantasy.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Não só Final Fantasy 16 é um jogo de qualidade, como também é dos melhores Final Fantasy até à data. Tem os seus problemas, certo, mas aquilo que faz bem compensa os seus defeitos.

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