Análises

Starfield

Até à Lua e mais além

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME

Starfield é o primeiro novo IP da Bethesda em 25 anos, como tal, existia muita expetativa em torno do título. Depois das populares franquias The Elder Scrolls e Fallout, eis que a companhia olhou para o espaço e decidiu torná-lo no palco de fundo para uma aventura espacial épica. Na maior parte do tempo, Starfield consegue atingir esse objetivo, mas não sem as suas falhas que acabam por retirar alguma da sua magia.

O primeiro passo é criar um avatar com as características e background que mais se enquadram ao tipo de experiência que se pretende ter, já que essas escolhas iniciais serão importantes ao longo do jogo na interação com outras personagens, em algumas situações e também em várias atividades. Uma vez ultrapassado esta primeira barreira, a aventura começa com o protagonista a descobrir e a interagir com um estranho artefacto que lhe confere visões de um grande mistério cósmico. Isto coloca o jogador em contacto com o grupo de exploradores da organização Constellation que vão tentar decifrar esse segredo. Este é o mote que impulsiona a história de Starfield.

Sendo fã de ficção científica e de tudo o que é relacionado com o espaço, fiquei interessado logo desde início em ver aquilo que a história tinha para oferecer. O início de Starfield é mais lento do que esperava e demora umas boas horas até começar a ganhar ritmo, mas após certo ponto, a coisa começa a ficar progressivamente mais interessante e diversificada em termos de missões e objetivos. No geral, gostei da história, mas não sei até que ponto o impacto que a grande reviravolta tem em termos práticos e narrativos será popular. Mas não digo mais nada para não estragar a surpresa. De qualquer forma, os diálogos, opções, interações e reações dos NPC são um ponto alto no jogo tal como os RPGs da Bethesda já nos habituaram.

Como disse, a campanha começa lento e demora algum tempo a ganhar ritmo, mas tenho de elogiar as missões secundárias, algumas delas melhores, maiores e mais complexas que as missões principais. Por exemplo, uma missão secundária envolve responder a um pedido de ajuda de uma instalação que está a ser atacada por piratas. Começa com uma batalha para entrar no edifício, várias batalhas dentro do edifício para libertar algumas pessoas, mais uma batalha exterior contra reforços e uma batalha espacial contra dois grupos de naves. Depois existem as missões das fações que têm também vários passos e diversos objetivos diferentes, e também algumas situações que ocorrem quando se entra em órbita de um planeta, como uma nave pedir ajuda contra um grupo de piratas ou uma estação espacial supostamente abandonada.

A jogabilidade, podendo ser feita na primeira pessoa ou na terceira pessoa, oferece diferentes possibilidades. Quem quiser ter uma abordagem mais stealth pode-o fazer, da mesma forma que é possível ter uma abordagem mais run and gun. Eu optei por aquilo que Starfield me pareceu inclinar-se mais e que, na minha opinião, me pareceu ser mais divertido e apto para a maioria das situações, ou seja, encarei o jogo como sendo um shooter RPG. Afinal de contas, o jogo partilha da mesma fundação existente nos anteriores trabalhos da Bethesda. E de facto, a experiência foi boa e divertida no geral. Para isso contribuiu o facto de o gunplay e combate em geral ser bastante melhor do que o visto em Fallout 4. Também existe combate espacial, mas não me cativou tanto quanto esperava. É demasiado simplista e desinteressante.

Mas existe mais além de missões principais e secundárias. Starfield oferece a possibilidade de personalizar naves existentes, não só de coisas cosméticas como o esquema de pintura, mas também de funcionalidades. Isto inclui o tipo de armamento, adição de mais espaço para carga, motores e geradores. As alterações acabam por ter impacto prático na nave na eficácia de ataque, de carregar materiais, do quão longe pode viajar de uma só vez, e na mobilidade da nave durante os combates. Também é possível criar bases nos planetas e contratar staff para gerir esses outposts, de forma a se obter materiais para evoluir e criar itens.

Se há um aspeto que me desiludiu foi a exploração, já que em termos práticos apenas existe uma ilusão de exploração. Essencialmente, a exploração em Starfield é mais em linha com o primeiro Mass Effect e menos com No Man’s Sky. A viagem entre os sistemas solares é feita apenas via mapa galáctico e chegado à órbita de um planeta, só é possível interagir com naves ou estações que estejam próximas da nossa nave. A órbita de um planeta quase que funciona apenas uma skybox, e mesmo em algumas missões, a órbita está dividida por loadings. A estrutura fragmentada do jogo começa progressivamente a moer a experiência, porque tudo está atrás de menus, loadings e fast travels.

E quando se aterra num planeta a coisa não melhora assim tanto, já que a exploração planetária começa confinada a uma área de terreno de dimensões consideráveis, mas com pouco de interessante ou de variado e sem um meio de transporte terrestre, o que é uma estranha omissão. Tanto a exploração espacial como terrestre parecem pouco desenvolvidas, a ponto de achar que não é de todo necessário que o universo do jogo tenha 1000 planetas. Aliás, por vezes, estas limitações acabam por fazer passar a ideia de que Starfield é mais pequeno que Fallout 4 ou Skyrim, coisa que não é. Talvez tivesse sido melhor uma abordagem de qualidade em vez de quantidade de forma a tornar o processo mais fluído e tornar toda a exploração em geral mais satisfatória.

Um outro aspeto onde Starfield desilude é na interface de utilizador. É pouco intuitiva e prática, tornando mais lenta a gestão do inventário e de diversas funcionalidades. O mapa galáctico também não é super intuitivo de navegar. Em cima disto, Starfield sofre da falta de várias opções básicas, incluindo de um quest log. O menu das missões apresenta o objetivo e um pequeno resumo, mas é um resumo tão básico que não oferece grande informação sobre a missão. Também não existe um dialogue log para se poder reler o que as personagens disseram e assim se poder fazer uma escolha acertada. Mas pior ainda é a quantidade mínima de opções gerais existentes e as opções de acessibilidade apenas têm 4 itens. É uma oferta paupérrima comparada com os esforços de outros estúdios, incluindo estúdios first-party.

A nível técnico, Starfield tem como alvo os 30 FPS e durante as minhas sessões apenas vi a framerate cair algumas vezes na cidade de New Atlantis. Durante os combates não notei quebras de fluidez. Starfield não é nenhum portento gráfico, mas também não é nada mau e o nível de detalhe geral é bom. O nível de detalhe dos NPCs, em particular dos minimamente relevantes para as quests, representa um grande salto face ao que o estúdio tinha apresentado em Fallout 4. A artwork do jogo é fantástica, apresentando um bom equilíbrio entre futurista e realista. Isto é particularmente notório no design do equipamento e das naves. Quanto à banda sonora, encaixa no tema e estética do jogo, mas ao mesmo tempo achei-a esquecível.

Continuando ainda na parte técnica, não poderia terminar sem falar em bugs. Quem é fã dos RPGs da Bethesda sabe certamente que podem ser bastante problemáticos, principalmente no lançamento, mas não notei problemas de maior nas dezenas de horas que passei em Starfield. Sem dúvida que existe algum do habitual jank típico da Bethesda, tipo NPCs a passar por cima de mesas ou a sentarem-se de forma errada nas cadeiras, e deparei-me também com alguns bugs, mas nada de grave e nada tão frequente como em jogos anteriores deste estúdio. Starfield é um jogo relativamente polido.

Em suma, Starfield é um bom início de vida deste IP. Embora a componente de exploração não seja tão completa quanto desejaria e a interface de utilizar seja pouco intuitiva, Starfield brilha nas missões, interações, na qualidade das personagens e no gunplay. A trope da história não vai agradar a todos, mas acho que se enquadra naquilo a que o jogo se propõe: oferecer uma aventura no espaço com uma grande variedade de situações. Starfield é um jogo que vai apelar a quem gosta de ficção científica e um que os fãs dos RPGs da Bethesda vão certamente apreciar.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8.5

8.5

Apesar de uma componente de exploração desapontante e uma UI pouco intuitiva, Starfield é uma experiência RPG rica que recompensa os jogadores que investem o seu tempo a realizar as missões principais e secundárias.

User Rating: 4.2 ( 13 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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