Análises

Persona 3 Reload

I've been waiting for this!

Versão testada: Xbox Series X
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Disponível originalmente em 2006 para a PlayStation 2, Persona 3 lançou a base que viria a ser usada nos seus sucessores e que resultaria no lançamento de um dos jogos melhor cotados da geração passada: Persona 5. Mas Persona 3 é um título muito especial e merecia chegar a mais gente, especialmente após o sucesso que a série conquistou nestes últimos anos. A Atlus chegou à mesma conclusão e, como tal, surge agora Persona 3 Reload, o remake do título de 2006.

A história segue um grupo de estudantes que têm como atividade extra-curricular derrotar shadows, misteriosos monstros que ameaçam a humanidade, com o uso de Personas. Esta simples frase poderia ser utilizada para descrever Persona 4 e Persona 5, mas Persona 3 é um jogo muito especial, por várias razões. Uma dessas razões tem a ver com o protagonista. Ao contrário dos seus sucessores, o protagonista de Persona 3 não é o primeiro a adquirir a habilidade de utilizar Persona. Aliás, o grupo, aqui intitulado de SEES, já existia e já combatia shadows.

Depois, e igualmente relevante, está o facto de não haver um guia no grupo, tipo Teddie ou Morgana. O que quero dizer com isto? Por exemplo, Persona 5 tinha o Morgana como guia, a ponto de o grupo sem ter explorado a sério a primeira dungeon saber que se fizesse “X” aconteceria “Y”. E esta fórmula era aplicada em quase todo o jogo nas dungeons seguintes. Mas em Persona 3, o grupo está às cegas e faz o que faz com base em teorias e vai improvisando à medida que descobre mais sobre a Dark Hour e sobre a Tartarus. Isto acaba por fazer com que exista muito mais pressão sob estes indivíduos e torna as coisas mais imprevisíveis, não só na hora da exploração como também na própria interação uns com os outros.

Uma outra diferença entre Persona 3 e os jogos mais recentes está no próprio elenco. Este jogo tem o melhor elenco da série, muito pela forma como o grupo se forma. Em Persona 4 e Persona 5, o protagonista é o primeiro a adquirir o poder e aos poucos vai atraindo mais elementos para a equipa, como se fosse um íman, sendo que o grupo acaba unido graças ao trauma vivido por cada um. E assim, desde cedo se tornam amigos incondicionais. Em Persona 3, o protagonista é o quarto Persona user a juntar-se ao grupo e todos começam como sendo companheiros de escola e das atividades extra-curriculares. O resultado é um grupo muito orgânico, com vários momentos de desconfiança e conflitos internos ao longo da aventura resultantes das suas experiências pessoais e da sua missão como elementos do SEES, o que acaba por resultar numa maior dinâmica e sensação de evolução. Eles começam como conhecidos, tornam-se companheiros e terminam como amigos.

Cada um dos jogos tem o seu conceito referente à aparição das shadows. Aqui, o conceito gira em torno da Dark Hour, uma hora escondida que acontece todos os dias à meia-noite. Durante este período, aparece uma enorme torre chamada Tartarus. É esta torre que o grupo vai explorar em busca de resposta sobre a sua origem e informação que levem à erradicação das shadows. Em termos de estrutura, Tartarus assemelha-se ao Mementos, de Persona 5. Quero dizer, é mais o oposto, dada a ordem de lançamento dos jogos. A torre tem mais de duas centenas de pisos, sendo que cada bloco de pisos tem a sua aparência. É verdade que a diversidade não é tão grande como a vista posteriormente no Midnight Chanel ou nos Palaces, mas em contrapartida, requer menos tempo para a sua exploração. Os novos visuais deste remake fazem com que Tartarus se torne menos repetitiva visualmente, além de que a torre conta agora com algumas novidades, entre as quais a adição de chests especiais e das Monad Doors, portas misteriosas que levam a lutas opcionais desafiantes e também a maiores recompensas.

A jogabilidade foi imensamente melhorada quando comparada com a do original. Mas para quem não é familiarizado com esta série, os combates são por turnos e giram em torno de explorar a fraqueza dos adversários. Quando isto acontece, a personagem ganha a possibilidade de voltar a atacar, e quando todos os inimigos estão atordoados, abre-se a possibilidade de ser executado um ataque em grupo chamado All-Out Attack. Importa referir que a exploração da fraqueza existe em ambos os sentidos, ou seja, os inimigos também podem explorar a fraqueza das personagens e, caso acertem no elemento, usufruir de um ataque extra. E como é tradição nesta série, os combates podem tomar um rumo inesperado muito rapidamente. Num momento está tudo a correr bem, e logo a seguir, eis que metade da equipa está morta.

No original Persona 3, apenas dava para controlar manualmente o protagonista e as restantes era controladas pela IA, o que resultava em alguma frustração durante lutas de boss. Neste remake, já é possível controlar manualmente todas as personagens. Além disso, foi adicionada uma mecânica chamada Shift. Esta mecânica, que alguns devem reconhecer de Persona 5 sob o nome Baton Pass, permite passar a vez a uma outra personagem durante o “1 More” para continuar a explorar a fraqueza dos inimigos. Em cima disto, foi adicionada uma outra mecânica intitulada Theurgy. Isto pode ser considerado um limit break, que é desbloqueado de forma diferente para cada personagem. No caso da Yukari, por exemplo, a barra de Theurgy sobe aos poucos após curar alguém.

As novidades não se ficam por aqui. A personagem que serve como apoio à equipa é agora mais participativa e é dado ao jogador um maior controlo sobre as suas habilidades. Isto inclui a opção de ativar algumas habilidades muito úteis durante a exploração, como esconder a presença do grupo de forma a evitar os combates ou aumentar o ataque e defesa durante uma luta, e também a escolha de quando utilizar os buffs via Theurgy. Todas estas novidades e a modernização geral do combate faz com que este remake seja a versão de Persona 3 mais acessível de todas. Dito isto, são oferecidos níveis de dificuldade mais elevados para quem quiser um maior desafio.

Parte do apelo dos jogos desta série vem da gestão do tempo. Os eventos costumam decorrer durante o período de um ano, e é necessário gerir bem o tempo disponível para se conseguir conciliar a vertente social com a vertente dungeon crawler e tirar melhor partido de ambas. Estas duas coisas estão interligadas. Desenvolver a parte social irá levar o protagonista a estabelecer amizades com outras personagens, o que levará à criação de novas Social Links. Por sua vez, as Social Links têm impacto na hora de criar Persona, pois quanto mais evoluídas estiverem, mais EXP é obtida durante a criação de novas Persona. É necessário fazer algum malabarismo para tentar equilibrar ambas as vertentes, mas é um aspeto que gosto bastante e que faz com que a experiência seja diferente de jogador para jogador.

O original Persona 3, tendo sido o primeiro da série a apresentar esta estrutura, tinha vários problemas. Um deles era o facto de ser impossível atingir o rank máximo de uma Social Link com uma personagem feminina sem que isso levasse ao namoro. Não havia opção de escolha. Felizmente, isto foi um problema apenas deste jogo e algo prontamente corrigido nos seguintes jogos. Isto inclui Persona 3 Reload, onde agora já é dada a opção de entrar num romance. Continua a não haver Social Links com os companheiros masculinos da equipa, algo que também é específico desta entrada, mas aqui suponho que era mais complicado de corrigir sem cortar por completo outras Social Links e alterar demasiado os desenvolvimentos pessoais. Para compensar, foram adicionados eventos sociais, tanto individuais como em grupo, que quase que funcionam como uma Social Link mas sem ser atribuído uma Arcana e um rank. Estes eventos são muito bem conseguidos e mostram uma boa evolução na escrita que a série teve ao longo dos anos.

Aliás, estes novos eventos sociais entre o grupo são tão bem escritos, que acabam por contrastar com algumas das Social Links. Neste aspeto, Persona 3 Reload continua inconsistente, o que não é uma surpresa dado que o material de origem não é propriamente novo e a margem para corrigir não era muita. O jogo tem algumas das melhores Social Links da série, em que destaco Akinari e Aigis, e algumas das piores Social Links da série, nomeadamente Kenji e Nozomi. Continuando ainda neste assunto, os diálogos foram reescritos e expandidos de forma a modernizar um pouco o guião, apresentando inclusive algumas cenas e falas novas, mas sem perder a essência do original. Com isto, surgiu também a possibilidade de trazer um novo elenco de atores. Normalmente, costumo jogar Persona em Japonês, mas este é um caso diferente, porque joguei o original na PS2 em Inglês, como tal, estou mais familiarizado a ouvir estas personagem em Inglês. O novo elenco de atores fez um grande trabalho na sua interpretação destas personagens, e acho até que é superior em qualidade e em consistência ao original.

Em termos técnicos, o que é igualmente algo extremamente relevante neste remake, Persona 3 Reload é fantástico e melhor visualmente que a mais recente versão de Persona 5 Royal. A paleta de cores vibrante do dia-a-dia faz um excelente contraste com a paleta de cores super saturadas durante a Dark Hour. A nova câmara e nível de detalhe da Tartarus resulta numa enorme e positiva diferença quando comparado com o original jogo. A arte das personagens que aparece durante as conversas é também ela super detalhada, e até representa com tons diferentes o ambiente onde a personagem está a falar naquele momento. Os menus são muito estilosos, como habitual na série, e são acompanhados por animações e efeitos durante as transições. Sem dúvida que foi uma modernização bem conseguida.

No entanto, existe uma exceção. Persona 3 tem um tom mais pesado e opressivo que os seus sucessores, e isso era refletido nas cutscenes anime através de cortes abruptos entre cenas e do uso de efeitos de distorção. Parte das novas cutscenes de Persona 3 Reload são agora com gráficos in-game, e as que ainda são em anime também não fazem uso destes efeitos. No geral, conseguem capturar mais ou menos a esquisitice de Persona 3, mas existem alguns exemplos onde o resultado é uma cutscene pior que a equivalente de 2006. Um dos melhores exemplos é o awakening do protagonista, que agora tem uma cinematografia pior e não acompanha bem a música. Um outro exemplo é literalmente a primeira cutscene, em que a retirada de alguns efeitos e a adição de algumas linhas de diálogo muda demasiado o tom da cena.

Já que estamos a falar nas coisas que desiludiram, há que mencionar a falta do The Answer, o conteúdo adicionado em Persona 3 FES que servia como epílogo da história base. É provável que venha a ser lançado no futuro como um DLC, pois este conteúdo, ao contrário do novo conteúdo presente em Persona 4 Golden e Persona 5 Royal, não é integrado na campanha, mas é uma pena este pacote não oferecer todo o conteúdo de Persona 3 FES.

Havia muito mais para dizer, mas o texto já vai longo. Persona 3 Reload pode não ser o jogo da série mais longo, pode não ter as dungeons mais diversificadas e pode nem ser o mais consistente na qualidade das Social Links, mas é o melhor em tudo o resto. O elenco é fantástico e oferece um verdadeiro desenvolvimento narrativo ao longo do jogo, a história é pesada, emocionante e marcante, e o setting é esquisito e interessante. Tudo isto e acompanhado por uma fantástica banda sonora e direção artística. Persona 3 Reload é um remake bem executado, resultando num jogo melhor que o original. É um título de grande qualidade e é totalmente recomendado para os fãs da série Persona e de RPG em geral.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Persona 3 Reload é sem dúvida uma experiência melhor que a vista no título original de 2006, e em muitos aspetos, é o melhor Persona até agora. Peca apenas por algumas mudanças feitas em determinadas cutscenes e pela falta do The Answer.

User Rating: 5 ( 1 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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