Análises

Persona 5 Strikers

Umas férias de verão inesperadas

Versão testada: PlayStation 4 (a correr em retrocompatibilidade na PlayStation 5)
Disponível para: PC, PlayStation 4, Nintendo Switch

Como fã de longa data da franquia Persona (e Shin Megami Tensei), sinto-me muito satisfeito por esta fantástica série ter vindo a ganhar cada vez mais popularidade ao longo dos anos, porque é um sucesso completamente merecido. Persona 5, lançado em 2017, e a versão expandida Persona 5 Royal, lançada no ano passado, contribuíram imenso para elevar o nome Persona a outro patamar e estão no Top 10 de jogos melhor cotados da geração passada. E agora, esta série está de regresso, graças a Persona 5 Strikers, mas em moldes um pouco diferentes.

Persona 5 Strikers é uma sequela directa de Persona 5, e não de Persona 5 Royal, o que significa que algumas das personagens apresentadas em Persona 5 Royal não estão presentes neste novo jogo. É o caso de Kasumi Yoshizawa, por exemplo. Seis meses após os eventos vistos no final de Persona 5, o grupo de amigos planeia um reencontro de verão, quando de forma inesperada se vê obrigado a reencarnar o papel de Phantom Thieves. Isto porque estão a ocorrer várias situações por todo o Japão em que as pessoas estão a ser manipuladas via Metaverse, lembrando o que aconteceu no ano anterior. E assim, os Phantom Thieves tornam-se nos principais suspeitos e são forçados a embarcar numa viajem pelo país para descobrir a verdade e limpar o seu nome.

Há um grande risco de as coisas enveredarem pelo caminho do “mais do mesmo” sempre que se faz uma sequela, mas foi feito um bom esforço para que isso não acontece neste jogo. Persona 5 Strikers, ao contrário do seu sucessor, já tem o grupo de protagonistas completo, como tal, a dinâmica de grupo já está formada e abre portas para outro tipo de interacções que eram impossíveis de existir até então. Além disso, o jogo também dá um maior destaque a personagens que tiveram pouco tempo de antena no jogo anterior, como Ann ou Haru, e as novas personagens são bastante boas e jogam muito bem com a dinâmica de grupo dos Phantom Thieves. Destaco o Zenkichi, que é um excelente complemento ao elenco original. Aliás, eu diria até que a escrita e as interacções entre as personagens são melhores em Persona 5 Strikers que no seu sucessor exactamente por isso.

O voice acting também tem um grande papel na caracterização das personagens e para conseguir transmitir emoções. Como todos sabemos, 2020 foi um ano péssimo que condicionou a vida de todos. O desenvolvimento de videojogos não ficou alheio a isso e Persona 5 Strikers foi um dos prejudicados. Os actores que deram as vozes em Inglês viram-se forçados a gravar os seus diálogos nas suas casas ao invés de num estúdio, e por isso, em algumas situações, nota-se alguma diferença na qualidade de gravação entre cada actor. Dito isto, os diálogos em si são de grande qualidade e todos fizeram um bom trabalho a desempenhar as suas personagens, em particular Tom Taylorson (Zenkichi), Erica Lindbeck (Futaba) e Cherami Leigh (Makoto). Já o voice acting Japonês continua tão bom quanto antes.

Persona 5 Strikers é 70% Persona e 30% Musou. Musou, onde se enquadram jogos como os Dynasty Warriors ou mais recentemente o Hyrule Warriors: Age of Calamity, é um estilo mal compreendido e visto muitas vezes como sendo um género de jogos em que basta carregar freneticamente nos botões para chegar à vitória. Não é o caso, e não é definitivamente o caso em Persona 5 Strikers. Os combates deixaram de ser por turnos e passaram a ser de acção em tempo real contra um grande número de inimigos em simultâneo, mas o sistema de fraquezas típico dos Persona continua bem presente. Isto significa que é necessário estar atento às afinidades das Personas que utilizamos, à composição da equipa e ao tipo de inimigos que enfrentamos de forma as que a exploração das dungeons seja mais fácil. Joker e companhia continua a poder utilizar o cenário para seu proveito, se bem que agora consegue também utilizar mais objectos dos cenários, como veículos ou candeeiros, para fazer emboscadas.

Uma vez em combate, cada elemento da equipa tem um ataque ligeiro e um ataque forte que podem ser utilizados em diferentes combinações para executar ataques específicos, como magias elementais ou status effects. Além disso, é possível alternar em tempo real entre que personagem controlar numa batalha (via Baton Pass) com um simples pressionar de botão, algo útil na hora de atacar as fraquezas dos inimigos. Em qualquer altura da batalha podemos evocar a Persona da personagem que estamos a controlar e escolher que magia utilizar e em que área essa magia terá efeito. Nestes momentos, a acção pausa, porque de outra forma, seria impossível executar este tipo de acções. Se a defesa dos inimigos for quebrada, podemos iniciar um poderoso All-Out Attack, em que toda a equipa ataca aquele grupo de inimigos ao mesmo tempo. E por fim, existe também o ataque derradeiro, chamado Show Time, que foi visto no Persona 5 Royal. No geral, o sistema de combate de Persona 5 Strikers utiliza algumas das mecânicas fundamentais de Persona 5, mas aplica com sucesso a um género hack-and-slash tipicamente Musou. Surpreendentemente, esta mistura entre elementos e géneros resulta muito bem.

Um constante fluxo de acção poderia ser algo cansativo, mas Persona 5 Strikers tem um bom ritmo de progressão e faz um bom trabalho a espaçar os segmentos de acção com segmentos mais calmos. Jails partilham alguns dos atributos dos Palaces de Persona 5. Ambos existem no Metaverse, ambos têm um líder (aqui chamados de Monarchs), e ambos têm imensas Shadows a proteger o líder. O objectivo acaba por ser mais ou menos o mesmo, ou seja, abrir caminho através de dungeons temáticas e derrotar o Monarch para que essa personagem caia nos seus sentidos e assuma o que fez de errado no mundo real. No entanto, existem algumas diferenças importantes entre Jails e Palaces que têm um grande peso na narrativa, daí não mencionar quais são. E isto inclui a origem dos Monarchs e o que diferem para com os lideres dos Palaces.

Tal como em Persona 5, podemos apanhar ou criar novas Personas para Joker utilizar, mas esta vertente está aqui mais simplificada. Por outro lado, os social-links desapareceram por completo, e no seu lugar existe um sistema de Bonds que permite melhorar alguns aspectos da equipa, como receber mais dinheiro no final das batalhas, aumentar o dano dos ataques Show Time ou evoluir as stats das personagens. Importa também referir que o aspecto de gestão de tempo não está presente em Persona 5 Strikers, significando que os eventos narrativos acontecem em alturas fixas de tempo e que podemos entrar e sair do Metaverse quantas vezes quisermos num dia.

Se tivesse de descrever este jogo a quem jogou o original Persona 5, diria que Persona 5 Strikers é o equivalente a comer os restos do caril do dia anterior feito pelo Sojiro; já não sabe a fresco, mas ainda tem o sabor distinto do prato. Persona 5 Strikers percorre algum do mesmo caminho visto em Persona 5 em 2017, mas oferece uma nova forma de experienciar o Metaverse e algumas surpresas pelo meio. Repetindo o que disse antes, esta é uma mistura surpreendentemente boa de elementos, que acaba por resultar num jogo de grande qualidade.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8.5

8.5

Persona 5 Strikers pode não ser tão longo ou tão único como Persona 5, mas é igualmente cativante e interessante. É um título recomendado a todos os que querem ver mais deste elenco de personagens.

User Rating: 5 ( 1 votes)

Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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