Aliens: Colonial Marines
Aliens: Colonial Marines (A:CM) é um daqueles jogos de que queremos gostar. Não há outra forma de colocarmos isto. A maior parte de nós cresceu a admirar e temer uma criatura que tinha tanto de assustadora como de sedutora. É por isso inevitável que a expectativa criada ao longo dos últimos 6 anos nos deixe em pulgas com um novo capítulo da saga Alien.
É certo que já aprendemos a lição com tantos outros jogos que estiveram no chamado “development hell”, nunca elevar demasiado as expectativas… Mas quando a promessa era a de fazer a ponte entre o Aliens e o Alien 3, não há auto controlo que resista.
Infelizmente é no exacto momento em que assumimos o papel do Corporal Christhoper Winter numa missão de busca e salvamento a bordo da USS Sulaco que percebemos que a viagem vai ser acidentada.
Quem está familiarizado com a saga cinematográfica sabe com o que pode contar. Se o primeiro Alien era um puro exercício de ficção científica de terror, Aliens soube pegar na aura de ameaça constante e usa-la como catalisador para um impiedoso filme de acção. A:CM mais parece um passeio por uma antiga galeria de tiro da feira popular. A diversão está lá, já não tem é tanta piada como a que tinha quando estreou. A idade pesa, os alvos estão meio ferrugentos e a mira das armas está desalinhada.
E por mais que A:CM tente piscar o olho à nostalgia dos fãs da saga, seja com as legendary weapons (armas que pertenceram aos Marines de Aliens) espalhadas aqui e ali, pelos audiologs que de forma algo forçada tentam dar um pouco mais de miolo à história ou especialmente pela geografia tão familiar do Universo Alien, acaba por ser tudo feito de forma demasiado inconsequente. Especialmente porque o jogador em momento algum se identifica ou preocupa com o que está a acontecer.
A:CM surpreende muitas vezes, mas quase sempre pela negativa. Texturas que demoram demasiado tempo a carregar e quando finalmente carregam são baças e desprovidas de detalhe.
As animações dos nossos companheiros roçam o sofrível, é como se fossem bonecos de pau animados, sem qualquer tipo de expressão facial e privados de emoções.
Muitos são os momentos de completa perplexidade: Um chestbuster explode a caixa torácica de um dos companheiros? Conseguem escapar à Rainha no último instante? Ganham o Euromilhões? Para os Colonial Marines, tanto faz.
A esta inexpressividade junta-se o voice acting que roça o constrangedor. É como se tivesse sido gravado meramente como indicativo para a gravação final e por erro tivesse sido utilizado no jogo. As conversas entre personagens chegam a ser surreais, tal é o completo desfasamento de todo o ambiente envolvente.
Depois há aqueles pormenores fulcrais. Seria de esperar que a utilização do motion tracker representasse um papel determinante no jogo, mas isso está longe de acontecer. Mesmo que queiramos utilizar o motion tracker como vimos nos filmes, a sensação de estarmos a ser vigiados constantemente não existe. O jogo limita-se a atirar-nos hordas de Xenormorphs ou mercenários a soldo da Weiland Yutani para eliminarmos, intercalando com missões de abrir e fechar portas e carregar em interruptores.
Tudo isto faz com que o suspense e a emoção de nos confrontarmos com o vicioso e inteligente inimigo que são os Xenomorphs seja completamente aniquilada, não só pelo fraco argumento como pelo grafismo e mecânicas de jogo ultrapassadas.
É certo que há momentos em que A:CM nos dá uma pequeníssima amostra do que poderia ter sido. Para além da excelente banda sonora e do sound design competente temos também um sistema de desafios que permite adquirir pontos de experiência (xp) de forma a desbloquearmos armas e opções de costumização. Pode não representar uma inovação, mas não deixa de ser interessante a sua transposição para o multiplayer.
Há também momentos como o de uma perseguição em que somos obrigados a soldar portas para atrasarmos um Xenomorph gigante ou uma pequena sequência de stealth em que evitamos ser ouvidos pelo inimigo que nos remetem de forma mais ou menos atabalhoada para o imaginário Aliens.
Na sua generalidade, A:CM é um mero jogo de acção e mesmo nesse campo, falha redondamente. Os glitches são constantes, ver xenomorphs entalados em portas e paredes torna-se vulgar, perceber que para além da invulnerabilidade dos nossos companheiros estes também possuem atributos sobrenaturais como atravessar os corpos uns dos outros ou de, mesmo ficando para trás com as portas todas fechadas, aparecerem ao nosso lado no segundo seguinte, faz com que Aliens: Colonial Marines se possa bem vir a tornar uma daquelas piadas da industria, como aconteceu com Duke Nukem Forever, que curiosamente também saiu das mãos da Gearbox.
Mas esqueçamos a curta campanha e o seu final de tal forma anticlimático que nem mesmo o maior fã da saga Aliens conseguirá digerir convenientemente e passemos para a componente online.
A campanha em modo cooperativo permite aos jogadores assumirem os papéis papel de quatro Marines anónimos que se juntam aos restantes npc’s da campanha. Esta solução algo coxa para integrar uma componente cooperativa num jogo que provavelmente não estaria pensado a ter, resulta acima de tudo desequilibrada. Se jogando a solo os xenomorphs já não representam uma ameaça, no modo cooperativo bem que podemos colocar a dificuldade no máximo. Não há xenomorphs que resistam.
Saltando para os modos competitivos onde dois grupos jogadores assumem os papéis de Marines e xenormorphs, o caso muda ligeiramente de figura, até porque é no online que A:CM consegue emular o ambiente que associamos ao imaginário Aliens, mesmo sacrificando a capacidade assassina dos Xenomorphs em detrimento do poder de fogo dos Marines.
Para além dos típicos modos competitivos como Deathmatch, onde um grupo de jogadores assume o papel de Marines e outro o papel de Xenomorphs o Survivor e o Extermination, o que brilha realmente é o modo Escape, onde um grupo jogadores na pele de Marines foge de outro grupo de jogadores no papel de Xenomorphs.
Aliens: Colonial Marines não é o jogo que esperávamos e muito menos é o jogo que nos foi prometido. Fanático ou não, qualquer jogador que se aventure pelos caminhos sinuosos de A:CM dificilmente irá sentir algo mais que frustração. Pode ser que a redenção venha na forma de um DLC que, como já foi anunciado, se assemelhará ao modo Horde celebrizado por Gears of War, mas isto são apenas suposições. Por agora é preferível procurarmos a nossa dose de chacina Alien noutras paragens e a saga Aliens inspirou tantas variantes que não é muito difícil escolher uma.