Análises

Mario Kart 8

O Regresso do Rei

Quando se tem amigos em casa para uma jogatana, nem sempre é fácil chegar a consenso sobre o que jogar, mas se há um jogo que acaba com a discussão, é o Mario Kart.
A corrida para chegar à meta em primeiro lugar não é fácil, são doze concorrentes que conduzem todo o tipo de karts, motas e ATVs e não têm problemas em fazer de tudo para ganhar: explodir bombas, atirar carapaças e bolas de fogo ou deixar cascas de banana estrategicamente posicionadas na pista, tudo vale para ganhar o ouro.

A condução não se fica pelo asfalto, tal como no Mario Kart 7, agora podemos andar debaixo de água ou saltar numa rampa e planar pelo céu com a ajuda de um planador à nossa escolha, mas a grande novidade é o sistema anti-gravidade que nos permite, em locais específicos, viajar pelas paredes e tectos e agarrar-nos à pista mesmo enquanto ela dá voltas e se contorce. Pensem no F-Zero com um DeLorean e ficam com a ideia certa.
Uma grande diferença em conduzir nas secções anti-gravidade é que bater contra outro veículo (ou obstáculos com rodas) dá-nos um impulso, alterando a dinâmica entre jogadores, especialmente para as personagens mais leves.
Felizmente, todas estas mecânicas são implementadas elegantemente e com peso e medida, onde antes apenas tínhamos o caminho principal e uns simples atalhos, agora temos o ar, a água e até algumas paredes como percursos a escolher, decisões que têm que ser tomadas em instantes até conhecermos bem as pistas e personagens para saber qual o melhor caminho para a situação.

Há oito copas com quatro pistas cada, metade são novas, metade são versões actualizadas de pistas antigas, todas elas brilhantemente desenhadas para acomodar 12 jogadores que podem tomar vários caminhos e optar por diferentes estratégias. Entre descer uma montanha cheia de neve e gelo, curvas apertadas e precipícios, subir uma cascata cheia de painéis de boost, correr pelo meio de um aeroporto ou revisitar pistas clássicas como a Toad’s Turnpike, uma estrada cheia de trânsito, agora com secções anti-gravidade, é complicado escolher uma pista preferida.

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Faíscas de paixão

Claro que não podia faltar a técnica mais importante de todas: o drift ou power slide, uma derrapagem controlada que nos permite poupar tempo nas curvas e ganhar um pequeno impulso à saída; ao fazer drift durante um bocado saem faíscas azuis das rodas indicando que já temos um mini-turbo pronto, mas se aguentarmos o deslize até as faíscas ficarem vermelhas, o turbo é maior. Este turbo é útil não só para ganhar velocidade, mas para controlar a trajectória ao sair da curva, o que nos pode salvar de muitos embates e quedas.
Dominar o power slide é vital e felizmente nunca soube tão bem fazer curvas, o sentido de deslocação de peso é fantástico, fazer um drift longo encostado ao interior da curva enquanto se ultrapassa os outros por dentro e sair da curva em alta velocidade é altamente recompensador.

Ao carregar no botão do drift em rampas e saltos faz-se uma acrobacia que nos dá um pequeno impulso, usar isto em coordenação com o drift é essencial para fazer bons tempos.
Já não se podem fazer cavalinhos com as motas como no Mario Kart Wii, o que equilibra o fosso entre as motas e karts visto que os cavalinhos davam um aumento de velocidade às motas que lhes dava uma grande vantagem.
A maneira de controlar o drift das motas é bastante diferente dos karts e ATVs visto que fazem curvas muito mais apertadas e algumas motas fazem o que ficou conhecido como inward drifting, onde a roda de trás não desliza para fora da curva como é normal nos outros veículos, permitindo fazer as curvas mais rapidamente. No Mario Kart 8, até nas motas que fazem este tipo de drift, o pneu de trás vai para fora, mas apenas no início do drift. O que estas mudanças implicam é que o equilíbrio entre motas e karts estão mais ajustado, mas apenas o tempo dirá se os veículos estão equiparados, ou se as motas com inward drifting continuarão a dominar o online.

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Não sou gordo, tenho os ossos largos

Apesar de não ser especificado no jogo, as personagens estão divididas em sete classes de acordo com o seu peso, as mais leves têm muita aceleração e baixa velocidade de ponta e as mais pesadas o inverso. Depois de escolher a personagem temos vários veículos à nossa escolha, cada um com as suas características de aceleração, velocidade, peso, controlo e aderência e também podemos escolher pneus e planadores; há veículos e peças tão engraçados, que às vezes sabe bem ignorar a performance e escolher o que mais nos agrada, porque não jogar com o Yoshi numa mota que é basicamente um Yoshi, com rodas de peluche e um planador esquilo?

Cada um terá os seus favoritos e para melhores tempos e alta competição sem dúvida que vai haver escolhas melhores que outras, mas é bom ver que não há personagens inúteis, uma pessoa pode ir variando a selecção e não sofrer muito com isso.
O jogo tem 30 personagens, 14 das quais desbloqueáveis, é o maior número de personagens de sempre num Mario Kart, temos os heróis de bigode do costume, inimigos como o Bowser ou o Shy Guy, várias personagens femininas como a Peach e a Toadette e os sete irmãos Koopa do Super Mario Bros 3.
É uma boa selecção, com escolha dentro de cada classe, no entanto, apreciava-se mais variedade, cinco personagens são versões bebé de outros corredores e sete são irmãos Koopa, apesar de terem as suas diferenças era bom ter mais personagens que se destacassem, ou no mínimo regressos como a Birdo e o King Boo.

Pedras e paus podem partir os meus ossos, mas carapaças azuis custam-me a liderança

Claro que Mario Kart não era Mario Kart sem os itens, o elemento de caos que torna o jogo tão divertido e acessível, dando uma hipótese de luta a jogadores menos experientes ou servindo de arma letal a quem sabe o que está a fazer. Obviamente que os clássicos como as carapaças, bananas e cogumelos voltam e há também quatro itens novos: o Boomerang pode ser usado três vezes para acertar em vários inimigos ao ir e voltar, a Planta Piranha come armadilhas e concorrentes perto de nós dando um pequeno turbo quando ataca, o Super 8 rodeia-nos de oito itens (Moeda, Bob-omb, Cogumelo, Estrela, Blooper, Carapaça Verde, Carapaça Vermelha e Banana) para usarmos à nossa vontade e finalmente a Super Buzina, um item que lança uma onda de choque que destrói tudo à nossa volta, incluindo a infame carapaça azul que vai atrás do primeiro lugar, acertando também em quem se meter no seu caminho.

Não há volta a dar-lhe, a sorte é parte integrante do jogo e é uma das razões pelas quais Mario Kart é óptimo para festas, apesar dos melhores jogadores ganharem quase sempre, vão haver alturas em que perdemos o primeiro lugar mesmo antes da meta ao levar com uma torrente de itens. Com isto dito, o jogo e os itens estão mais equilibrado do que antes, especialmente para quem vai em primeiro não é tão comum ser bombardeado pelos restantes 11 e passar de primeiro para último a menos de um segundo da meta. Além disso, nota-se menos rubber banding (um sistema que ajuda as personagens controladas pelo computador que ficam para trás) e nem sempre ganham as mesmas personagens, o que ajuda a tornar as classificações mais justas.

Fora das Grand Prix que podemos passar sozinhos ou com mais três pessoas, podemos definir as nossas regras e mudar os itens para apenas incluírem carapaças, bananas, cogumelos ou bombas, havendo também a hipótese de jogar sem itens ou aumentar a probabilidade de calharem itens poderosos como o trovão. São opções bem-vindas, mas que pecam por não ir um passo além e permitir desactivar itens específicos ou pelo menos a Carapaça Azul, que certamente muita gente iria desligar.
Também se podem criar corridas em equipa, mudar a dificuldade da inteligência artificial ou até desactivá-la para jogar apenas com amigos, mudar o número de pistas numa copa e o método de selecção de pistas.

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Não há festa sem balões

O modo de batalha onde temos que rebentar os balões dos nossos oponentes marca presença como não podia deixar de ser, mas tem as suas diferenças, sendo a principal que as batalhas já não decorrem em arenas próprias, mas sim nalgumas das pistas normais do jogo. É divertido batalhar nestas pistas, é uma maneira diferente de as percorrer e nunca se sabe quem está ao virar da curva (a não ser que se olhe para o mapa no gamepad), mas as arenas fazem imensa falta, não só por uma questão de variedade, mas também porque se quisermos jogar sem Inteligência Artificial, é raro encontrar alguém e o tédio instala-se.
As batalhas funcionam com um sistema de pontos, começamos com três balões, em cada pessoa que acertamos ganhamos um ponto, por cada balão que perdemos ficamos sem um ponto e se ficarmos sem balões, transformamo-nos em fantasmas, não podemos pontuar, mas ficamos invisíveis para andar a espalhar o caos pela pista. Para evitar ficar sem balões podemos ir contra alguém a alta velocidade com a ajuda de um cogumelo e roubar um balão. Ao acabar o tempo, ou assim que todos os jogadores tiverem perdido, quem tiver a maior pontuação ganha.

Felizmente, Mario Kart 8 é um dos raros casos onde a Nintendo oferece um modo online completo e bem conseguido. Sozinhos ou com mais uma pessoa, podemos jogar online contra pessoas da nossa lista de amigos e rivais (pessoas que encontramos a jogar online), onde podemos escolher de entre todas as pistas e regras, assim como usar o microfone do Gamepad para falar (de notar que não testei headsets ou outros microfones), mas apenas no lobby.
Também podemos aventurar-nos aleatoriamente contra o mundo ou pessoas dentro da nossa região (neste caso provavelmente definido como sendo dentro da Europa) em corridas ou batalhas, onde de cada vez se escolhe de entre um número de pistas limitadas que vai alternando para evitar que se repitam as mesmas pistas muitas vezes. Ao ganhar corridas e batalhas vamos ganhando pontos, em vez de haver um ranking tradicional com lugares, cada jogador tem pontos associados separadamente para as corridas e batalhas.

Como o jogo foi testado antes do lançamento, não havia muitas pessoas a jogar, no entanto nos últimos dias antes da escrita da análise nunca tive problemas em encontrar oponentes, até para fazer corridas com 12 jogadores. Tudo se passava rápido sem grandes loadings e nunca me deparei com lag, quer contra amigos ou aleatórios, apesar de me ter desconectado uma vez e encontrado um erro no lobby noutra altura. Apenas com o decorrer do tempo vai ser possível tirar elações sobre o funcionamento do modo online, mas a minha experiência tem sido bastante positiva.

Também é possível criar e participar em torneios com várias opções de customização, desde a altura do dia e periodicidade em que estão activos, a restringir veículos e armas, permitir apenas jogadores regionais ou criar códigos para apenas pessoas com a senha poderem participar.

Para provar que dominamos o jogo e as pistas, temos o modo Contra Relógio onde corremos sozinhos para fazer o melhor tempo possível e temos apenas três cogumelos que dão boost para nos ajudar. Podemos gravar o nosso record como fantasma e correr contra ele, fazer upload do tempo para o Miiverse e ir lá buscar fantasmas de outras pessoas para correr contra nós, uma boa maneira de observar os melhores métodos de atacar as pistas.
Fazer um tempo melhor que o fantasma da equipa do jogo em cada pista desbloqueia um carimbo para usarmos no Miiverse, são 90 no total e são desenhados num estilo semelhante ao do Super Mario Kart da SNES. Também se desbloqueiam carimbos ao passar copas com todas as personagens, um bom incentivo a experimentá-las todas e a fazer bons tempos nas pistas.

Gosto de ver

No fim de cada corrida podemos ver um replay, editá-lo, guardá-lo, publicar no Miiverse e até directamente no YouTube (esta opção não se encontrava activa até à data de publicação). Estes replays usam uma câmera dinâmica ao “estilo TV” e nas opções podemos decidir se queremos só ouvir a música ou os efeitos sonoros, em que concorrente ou concorrentes o vídeo se foca e a que acções queremos dar ênfase (ataques, drifts, etc.), temos também a hipótese de escolher a duração do vídeo para 30, 45 ou 60 segundos ou então a corrida inteira, que acompanha o jogo da perspectiva normal. Em tempo real podemos pôr o vídeo em câmera lenta ou andar para trás e para a frente; eram apreciadas mais algumas opções em tempo real como a hipótese de mudar a câmera ou o jogador que está a ser filmado, mas mesmo assim os vídeos ficam muito bem e são uma fonte inesperada de divertimento.

Podemos gravar permanentemente seis favoritos, enquanto que as doze últimas corridas ficam sempre gravadas sem termos que fazer nada e podemos sempre aceder a estes vídeos através do modo Mario Kart TV para editá-los de novo e se quisermos, publicar na Internet. Os doze vídeos mais populares e os doze vídeos online mais recentes também estão disponíveis, assim como vários vídeos de corridas online com amigos e torneios além dos posts Miiverse que contêm os replays que as pessoas partilhem. Durante o período da análise a Nintendo tem actualizado esta funcionalidade, por isso não se sabe o que poderá vir de novo, mas sem dúvida que é algo muito interessante.

Quem já viu vídeos e imagens do jogo, terá certamente notado que os gráficos estão uns quantos níveis acima do normal num Mario Kart; os modelos estão fantásticos, aproximando-se cada vez mais dos renders usados pela Nintendo em arte promocional, cheios de animações e expressões que dão carácter às personagens, a iluminação está impecável como se vê quando a luz azul do motor anti-gravidade ilumina o veículo ou a pista se reflecte na pintura brilhante do kart.
O que não falta são detalhes: as bigodaças abanam com o vento, as personagens seguem as outras com o olhar, pétalas de cerejeiras em flor caem das árvores e ficam na pista, as derrapagens anti-gravidade deixam marcas no asfalto, as rodas ficam com areia e as pistas estão repletas de infindáveis pormenores como equipas da Mario Kart TV que nos seguem com a câmera ou posters e placards com publicidade às marcas fictícias criadas para o jogo.
Desde os modelos e animações à iluminação e sistema de partículas, o jogo é gráfica e artisticamente impressionante, renderizado a 720p, corre sempre a 60 fps com um ou dois jogadores a dividir o ecrã ou 30 fps com mais, mesmo quando a acção é mais intensa. A única falha é a ausência de anti-aliasing, mas apenas uma inspecção detalhada revela com mais evidência o aliasing, visto que em movimento pouco ou nada se nota.

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Drifts musicais

A acompanhar o altíssimo nível gráfico está uma banda sonora Jazz simplesmente sublime interpretada pela Mario Kart Band, onde nenhuma faixa é menos que espectacular quer seja uma composição nova ou uma nova interpretação de um tema antigo. Infelizmente não há a opção de regular o som para desligar ou baixar os efeitos sonoros durante o jogo, mas façam um favor a vocês mesmos e ponham uns bons auscultadores e ouçam as músicas nos replays ou na Internet para apreciar a qualidade da produção e composição.

O jogo suporta basicamente todos os comandos que a Wii U aceita menos a Balance Board, quer queiram usar comandos Wii ou Wii U, controlar com movimentos ou com botões, acelarar com o A ou com o analógico direito, estão safos; para ajudar os novatos, há o drift automático que se activa se ao fazer uma curva apertada durante muito tempo não se fizer drift manualmente.
Claro que é possível jogar no Gamepad sem a TV, mas também se pode usar o ecrã extra como buzina, ou mais importante, como mapa detalhado e lista das posições dos concorrentes. Isto liberta o ecrã de dados desnecessário o que é óptimo, mas a falta de opção de ter um mapa simples na TV faz falta, especialmente se a jogar multijogador alguém usar o Gamepad.
A grande pena é não ser possível usar o ecrã do comando como ecrã à parte quando se joga com amigos e a TV está dividida, seria uma óptima utilização das capacidades únicas da Wii U.

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Mario Kart 8 é um jogo fenomenal, feito com extrema atenção ao pormenor, tem as doses certas de estratégia, perícia e sorte, o que o torna perfeito para jogar com amigos ou com estranhos (online de preferência, não é recomendável convidar estranhos a casa para jogar). Alcançar o ouro com três estrelas em todas as pistas, assim como fazer bons tempos no Contra Relógio não é pera doce, o que também garante horas de diversão a solo.

Pecando pela falta de arenas nas batalhas e poucos modos, Mario Kart 8 é o auge da série no que toca a corridas. Nenhum número de carapaças azuis te deve afastar deste jogo.

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