Análises

Tomodachi Life

Nas notícias apresentadas por Fernando Mendes, vi que Reggie Fils-Aime, presidente da Nintendo América, tinha acabado de lançar um champô com cheiro a marisco, o que me levou a questionar se esta ideia surgiu quando lhe pintei o cabelo de loiro. Antes de ir para casa passei pela praia onde o Captain Falcon contemplava em silêncio o oceano que provavelmente o enchia de melancolia, afinal de contas já lá vão largos anos desde que ele percorre a pista Big Blue.

Deixando-o a sós com as suas saudades, vou para o apartamento do meu sósia e vejo que, por alguma razão, ele está a ter uma discussão acesa com o Snoop Dogg; voam espátulas, molas, Game Boys e sabe-se lá mais o quê, enquanto no apartamento ao lado, Shigeru Miyamoto está a jogar Wii U, pelos sons vejo que ele está a jogar Zelda no Nintendo Land.
Apenas mais um dia na vida Tomodachi Life.

HNI_0040Não é uma má comparação descrever Tomodachi Life como uma mistura entre Animal Crossing e Sims, como donos de uma ilha, podemos habitá-la com até 100 Miis cuja personalidade definimos através uma série de parâmetros, como a energia, frontalidade ou feitio entre outras opções; com as escolhas certas, podemos chegar a resultados estranhamente acertados se estivermos a recriar algum conhecido nosso.
Também podemos personalizar as vozes dos Miis, uma vez que estes falam e leem até as frases que lhes ensinamos, com vozes robóticas que adicionam ainda mais ao surrealismo do jogo. Infelizmente, não há opção para língua Portuguesa, compreensível tendo em conta o complexo sistema de leitura.

Estes Miis ocupam os apartamentos do único prédio da ilha e levam a sua vida de forma relativamente independente e sem o nosso controlo directo, apenas damos pequenos empurrões em certas direcções: no nosso papel de Deus/voyeur temos que os fazer felizes e para isso vamos alimentá-los, renovar-lhes o quarto, comprar-lhes roupa e chapéus, dar-lhe conselhos e brincar com eles. O que torna tudo isto divertido é a identidade única do jogo, deliciosamente estranha e com um humor que apenas a equipa por detrás do Wario Ware e Rhythm Paradise poderia ter criado; apesar de à primeira vista o jogo parecer um simulador de vida real, na prática é mais um laboratório de comédia, onde as nossas escolhas levam directa ou indirectamente ao desenrolar de situações surreais no dia-a-dia.

HNI_0030Ao popularmos a ilha, amizades e romances vão-se formando com a nossa ajuda, às vezes há zangas e corações partidos, outras vezes os namoros evoluem para casamentos, cabendo-nos a nós dar dicas quanto ao pedido de casamento. Uma vez dado o nó, o casal muda-se para uma vivenda e mais tarde pode ter um filho, um pequeno Mii com características do pai e da mãe, que ao crescer pode ir viver para o seu apartamento ou tornar-se um explorador, viajando pelas ilhas dos jogadores com quem fazemos StreetPass. Além dos filhotes enviarem fotos e mensagens das ilhas que visitam, também possibilitam a troca de itens únicos vendidos pelas ilhas que não podem ser obtidos de outra forma.

Ter muito ou pouco para fazer depende da quantidade de Miis que temos na ilha, quanto mais pessoas houver, mais problemas há para resolver, mais relações surgem e mais actividades há. Todos os dias, no parque de diversões podemos assistir a um espectáculo de magia, ir ao mercado ou jogar um RPG simples, com um aspecto 8-bit onde os nossos Mii lutam contra comida.
Para além dos pequenos jogos que fazemos com os habitantes, como adivinhar quem são as personagens pixelizadas ou fazer pares com cartas, há outros entreténs, por vezes há batalhas de rap na fonte ou churrascos no parque, amigos juntam-se no café e têm longas conversas (maioritariamente parvas), podemos fazer sessões fotográficas e escrever músicas para os nossos Miis cantarem em grupo ou a solo. Se alguma vez quiseste tirar uma foto romântica com a Scarlett Johanson ou fazer uma banda de Heavy Metal com o Einstein, o Mário Soares e o Riff Raff, nunca vais chegar tão perto.

HNI_0081Todos os dias as lojas recebem stock novo, há uma quantidade enorme de roupa, chapéus, quartos e especialmente comida, claramente uma obsessão da equipa do jogo. Cada Mii tem os seus gostos, mas como resistir a pôr uma cabeça de cavalo num político, dar uma camisa foleira ao nosso melhor amigo ou dar um quarto que é um salão de jogos ao nosso sósia?

Apesar de haverem regularmente surpresas bizarras, problemas para resolver e itens novos para coleccionar, o jogo torna-se repetitivo, precisava de mais variedade na interacção com as personagens, mais mini-jogos e mais opções de costumização. É perfeito para jogar em pequenas sessões todos os dias, em qualquer momento livre que tenhamos, podemos ir rapidamente espreitar que novas amizades surgiram e o que é que há nas lojas, sair ou deixar a consola em descanso e voltar mais tarde. Podemos sempre tirar uma foto ao ecrã de cima ou debaixo, passa-la para o computador ou partilhar a foto directamente do jogo para o Facebook, Twitter ou Tumblr. Com tantas possibilidades de comédia, não vão faltar momentos para partilhar nas redes sociais.

HNI_0003Tomodachi Life é altamente original, repleto de acontecimentos bizarros e de um humor único; apesar de ser algo repetitivo, quem estiver à procura de um jogo hilariante e diferente de tudo o resto pode enterrar aqui muitas horas, só não se recomenda a quem quiser algo rápido e com muita acção. Agora com licença, que o Iwata está com fome.

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