Super Smash Bros For Nintendo 3DS

Há anos atrás, Mario, Sonic, Mega Man e Pac-Man lutavam entre si pelo dinheiro dos consumidores, a ideia de um jogo com quaisquer destas personagens juntas não passava de um sonho febril. Agora a luta deixa de ser figurativa e estes ícones da história dos videojogos vão andar à porrada com tudo o que têm em Super Smash Bros for Nintendo 3DS (sim, é mesmo esse o título), a quarta iteração do jogo que põe os maiores nomes da Nintendo e alguns convidados de fora à pancada uns com os outros.

Pela primeira vez vamos poder jogar um Smash Bros no comboio, na casa de banho ou na sala de espera do médico, a série até agora exclusiva a consolas de mesa chega à portátil 3DS e além do tamanho de ecrã, pouco ou nada perdeu na transição.
Mario, Sonic, Mega Man, Pac-Man, Link, Samus, Pikachu, Little Mac, Kirby, Shulk e dezenas de outras personagens combatem num verdadeiro vale-tudo: de murros a espadas, magia a atropelamentos de mota, nada é proibido, nem mesmo usar itens que vão aparecendo como bastões de baseball, pistolas laser, minas ou troféus que invocam outras personagens para nos ajudar.

O sistema de combate simples esconde uma profundidade impressionante, com apenas dois botões de ataque podemos libertar uma série de golpes diferentes, dependendo da direcção e timing com que pressionamos o circle pad e se estamos parados, a correr ou no ar.
Apesar dos controlos serem os mesmos para todas as personagens, os estilos de luta não podiam ser mais diferentes: o Link complementa a espada com bombas, boomerang e flechas; o Kirby pode absorver e replicar o ataque especial básico dos adversários; o Olimar tira da terra Pikmins com habilidades consoante as suas cores e arremessa-os; e a Rosalina controla um Luma remotamente, permitindo efectivamente lutar em dois lugares ao mesmo tempo. Há quase tantos estilos como personagens, sendo as excepções os chamados clones, personagens como o Toon Link que usam outra como base, mas têm as devidas diferenças.

Aqui não se perde quando ficamos sem vida, ao acumular dano somos projectados mais longe quando sofremos ataques, se formos atirados para fora do ecrã ou cairmos do cenário perdemos. Os níveis não estão lá só para enfeitar, há todo o tipo de perigos e particularidades, como brinquedos a cair na sala de estar do Nintendogs, ou os fantasmas Blinky, Pinky, Inky and Clide que andam pelo ecrã do Pac-Man e só podem ser atacados quando apanhamos 100 pontos amarelos e um Power Pellet. Todos os níveis têm uma opção Destino Final que transforma os cenários numa plataforma simples sem “truques”, e claro, ao fazermos os nossos combates podemos configurar uma miríade de opções como que itens desligar ou quanto tempo dura um jogo. A hipótese de transformar os níveis em versões simples permitiu à equipa uma maior criatividade nos cenários sem prejudicar quem prefere lutar num campo mais simples.

Aventura Smash é o novo modo onde nós e três outros jogadores temos cinco minutos para percorrer um mapa enorme cheio de inimigos dos jogos Nintendo (e não só) que ao serem derrotados largam bónus para subirem o nosso ataque, especial, velocidade, salto, defesa e força dos itens. Também se podem apanhar bónus em baús de tesouro e em portas que escondem níveis extra com objectivos como sobreviver durante X segundos ou destruir todos os alvos, além disso ao corrermos, atacarmos e saltarmos, as respectivas características também sobem um pouco. No ecrã de baixo podemos ver o mapa ou usar itens que equipámos consoante o limite de peso da personagem.

Ao fim dos cinco minutos e com as características que obtivemos, defrontamo-nos contra os outros jogadores numa batalha com particularidades aleatórias, como por exemplo uma luta simples, uma corrida ou uma partida só com explosivos. Infelizmente este modo apenas está disponível para vários jogadores offline, mas quer sozinho ou acompanhado é bastante divertido, especialmente devido à presença de inimigos como Goombas, ReDeads, Reapers e dezenas de outros.

A grande novidade é a edição de personagens, podemos pegar em acessórios que vamos apanhando ao longo do jogo e equipá-los nos lutadores para os personalizar. Além de características especiais, cada acessório tem prós e contras, um que suba o ataque pode descer a defesa, por isso é preciso saber escolher e combinar os três acessórios certos para deixar a personagem ao nosso gosto.
Também podemos atribuir ataques especiais alternativos que se vão desbloqueando, como por exemplo um arco para o Link que dá mais dano quando carregado, mas tem menos alcance. Para cada personagem podemos gravar 10 configurações diferentes e dar-lhes nomes para as identificarmos mais facilmente e depois é só escolher o lutador e a configuração que quisermos, isto se o combate permitir personagens personalizadas.

A possibilidade de usar qualquer Mii também traz um grande grau de customização, ao criar uma personagem Mii podemos escolher um guerreiro especializado em luta corpo a corpo, um espadachim ou um artilheiro, cada um com vários ataques e acessórios possíveis de serem equipados, assim como chapéus e roupa para criar um look único.
Todas estas hipóteses de personalização e criação de personagens dão uma nova vida a Smash Bros e trazem ainda mais variedade a um jogo já por si repleto de conteúdo e personagens únicas.

Além de combates individuais com as opções que quisermos, claro que os modos do costume estão de volta, apesar de estarem estranhamente escondidos dentro do menu de extras.
O modo Clássico leva-nos por uma série de combates até chegarmos ao boss final, pelo caminho podemos escolher rotas com adversários e dificuldades diferentes consoante nos sentirmos confiantes de dar conta do recado para uma maior recompensa. Desta vez a escolha da dificuldade antes de começar o modo é semelhante à vista em Kid Icarus Uprising, podemos aumentar a dificuldade de ponto decimal em ponto decimal de 0 a 9, quanto mais alta, maiores os ganhos, mas mais dinheiro temos de apostar para jogar; se perdermos podemos continuar, mas temos que apostar dinheiro de novo e jogar numa dificuldade 0,5 abaixo.

Lendas Smash é um modo de sobrevivência onde vamos combatendo inimigos agrupados pela data de lançamento dos jogos onde apareceram pela primeira vez, o dano sofrido fica para os próximos combates e apenas temos três itens de recuperação para usar entre lutas, só temos uma vida e se a perdermos acaba-se o jogo.

No modo de Treino podemos configurar os parâmetros do jogo em tempo real no ecrã de baixo e no modo Estádio temos desafios especiais: em Smash contra Todos temos vários combates de resistência diferentes onde temos que nos aguentar contra hordas de Miis; Rebente os Alvos faz-nos atacar e lançar uma bomba contra uma estrutura cheia de alvos ao estilo Angry Birds antes que o rastilho chegue ao fim, quanto mais dano a bomba leva, maior a explosão e mais alvos destruímos; Basebol Smash é um favorito dos fãs onde temos que infligir o máximo de dano possível num saco de pancada para o lançar o mais longe possível com um taco de baseball. Ficam a faltar leaderboards online para compararmos as nossas pontuações com jogadores de todo o mundo.

Desta vez podemos jogar online em condições com mais três pessoas de qualquer ponto do globo, com amigos podemos ajustar as definições à nossa maneira e contra adversários aleatórios podemos escolher jogar Por Diversão ou Por Glória.
O primeiro modo não contabiliza as nossas estatísticas, o cenário é escolhido aleatoriamente (apenas o nível Destino Final não aparece), os itens estão todos ligados e podemos jogar em equipa ou todos contra todos.
Em Por Glória, todas as estatísticas são contabilizadas, todos os níveis jogam-se na variante Destino Final e não há itens, pode-se jogar em equipa, um contra um, ou todos contra todos.
Para quem gosta de ver, também é possível ver jogos a decorrer e até fazer apostas com base no que vemos e na anterior prestação dos lutadores.

É uma maneira acessível de jogar online, mas que peca por ter poucas opções no que toca a jogar com estranhos e não há qualquer forma de comunicar com os jogadores, nem com mensagens pré-feitas como no Mario Kart 8, apenas podemos adicionar pequenas frases às poses que fazemos durante a batalha.
Apenas sofri de lag algumas vezes e nunca foi muito grave, mas apenas o tempo dirá como o jogo se vai portar nesse aspecto e na quantidade de jogadores disponíveis, mas o online porta-se infinitamente melhor que no Brawl.

Como tem vindo a ser habitual, a quantidade de conteúdo do jogo é incrível, além das 55 personagens altamente personalizáveis com vários fatos alternativos e e dos imensos cenários, há toneladas de acessórios e roupa, troféus de assistência, centenas de troféus com descrições vindos de variadíssimos jogos, que desbloqueamos ao completar certas condições e desafios ou a jogar no modo Caça aos Troféus, uma fonoteca recheada de fantásticas músicas tiradas directamente dos jogos originais ou brilhantemente reinterpretadas por diferentes compositores, a possibilidade de tirar fotos e gravar repetições para vermos mais tarde e estatísticas dolorosamente detalhadas.

E claro, conteúdo não é nada sem jogabilidade de qualidade e se bem que certamente vão haver queixas pela personagem X ou Y ter ficado pior ou simplesmente por o jogo não ser igual ao Melee, o jogo porta-se maravilhosamente. A física e os controlos estão estupendos, controlar as personagens e aprender a dominá-las é deliciosamente divertido, ainda mais agora que há personalizações e mais nuances em certos ataques. Quem gosta de masterizar os jogos, certamente vai ter aqui muito que aprender, mas quem não quer ir tão fundo também não fica a perder, é um jogo que acolhe todos os tipos de jogadores.

Jogar num ecrã pequeno torna um pouco difícil de seguir a acção por vezes, mas o que se perde aí, ganha-se em portabilidade e mesmo numa 3DS normal, o caos nunca foi demais. O jogo corre a 60 fps sem quedas, independentemente do número de jogares e do 3D estar ligado ou não, apenas as animações dos troféus de assistência e Pokémons estão a 30 fps, o que não afecta em nada a jogabilidade. Os gráficos estão estupidamente bons para a 3DS, os modelos são óptimos e têm um contorno preto à volta para salientar as personagens, contorno esse que pode ser mais ou menos carregado ou até desligado. As animações são, como sempre, incrivelmente boas, fluídas e detalhadas e tudo está carregado de pormenores, desde as personagens aos cenários.

Super Smash Bros For Nintendo 3DS não é tratado como um cidadão de segunda classe, é tudo o que se pode esperar de um Smash Bros: um jogo brilhante, incrivelmente polido, carregado de conteúdo para centenas e centenas de horas e cheio de amor e respeito pelos jogos de onde retira personagens. É Smash Bros, é incrível e é portátil, o que é que precisas mais?