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Nintendo Switch: Um Olhar de Perto

Enquanto pessoas discutem em redes sociais se a Nintendo Switch é uma consola doméstica que é portátil ou uma portátil que se liga à TV, a pequena máquina parece confortável em aceitar qualquer uma destas etiquetas, porque se há coisa que a Switch é, é versátil.

Nas mãos

Tirando a consola da caixa, ficamos com um pequeno e discreto tablet nas mãos, apenas o logotipo e o nome na parte de trás traem que este rectângulo preto é de facto, a Nintendo Switch.
Os Joy-Con esquerdo e direito, na prática um comando dividido em dois, deslizam na perfeição para encaixar nos lados da Switch e agora sim, isto parece uma máquina de jogos!

Pesando menos de 400 gramas com os comandos encaixados, a consola é leve o suficiente para que o peso não seja um problema em sessões longas. Apesar de não ter pegas, o que é natural tendo em conta o formato desejado, a saliência dos gatilhos, assim como o material e acabamentos suaves tornam a Switch fácil de agarrar e controlar.
O acabamento matte é um alívio depois de tantas máquinas Nintendo com exteriores brilhantes que ficavam cheios de dedadas e riscos, aliás, a consola é consideravelmente mais elegante e com menos aspecto de “brinquedo barato” do que as anteriores portáteis da marca, mesmo com os comandos azuis e vermelhos postos.

Ligar o ecrã é ver mais um salto de qualidade, com 6.2 polegadas, o ecrã capacitivo IPS de 720p tem uma imagem fantástica, com cores vibrantes e uma excelente resposta em movimento, este é de longe, o melhor painel que a Nintendo alguma vez usou.
A luminosidade é suficiente para se conseguir jogar na rua ou à luz do sol, mas o acabamento glossy do ecrã vai inevitavelmente reflectir alguns brilhos. Felizmente os ângulos de visão são óptimos e olhar “de lado” para a consola praticamente não afecta a imagem, enquanto que de cima ou de baixo já se nota mais em ângulos extremos, como é normal com esta tecnologia. Isto é importante para permitir que várias pessoas joguem no mesmo ecrã, se bem que não se adivinha muito fácil jogar Smash Bros a 8 num ecrã de 6.2 polegadas.

O tamanho interessa?

Bem, se para ti é importante que uma portátil seja pequena ou que caiba facilmente no bolso, prepara-te para a desilusão, a não ser que tenhas bolsos bem grandes.
Leve, um bocado maior que uma New 3DS XL sem os Joy-Con agarrados e extremamente fina, a consola é fácil de transportar numa mochila ou carteira, de preferência numa capa, mas talvez não seja muito aconselhável pegar na Switch e tentar metê-la no bolso. Sem dúvida, um tamanho menos prático de transportar, mas nada de impeditivo.

Uma portátil serve de pouco se a bateria for abaixo e a da Switch, bem, faz o que pode fazer tendo em conta os limites da física e da tecnologia de baterias que temos de momento. A bateria tem uns valentes 4310mAh e uma duração mínima oficial de 2.5 horas, podendo chegar às 6 horas de acordo com o jogo e definições.
O único jogo testado exaustivamente foi o The Legend of Zelda: Breath of the Wild, software extremamente exigente e a bateria durou cerca de 3 horas com o wi-fi ligado, som no máximo e a luminosidade sensivelmente a meio.
De notar que a consola suspende e grava o teu progresso se a bateria for abaixo, uma dádiva para os mais distraídos.

Ou seja, são números teoricamente semelhantes aos que se podem obter numa 3DS ou Vita, complicado pedir mais sem sacrificar “potência”, mas se fizeres viagens longas, é melhor arranjares um powerbank.

On screen

A magia acontece quando encaixamos a Switch na sua base e a imagem passa para a TV em apenas alguns momentos. Pega num comando, senta-te e podes continuar a jogo que começaste no autocarro, agora num ecrã maior.
Com a Switch sossegada no seu sítio, os comandos são o centro da atenção e com razão.

Os Joy-Con saem facilmente dos lados da Switch, o simples mecanismo apenas precisa que se carregue num botão na parte de trás do comando para poder o deslizar e tirar, sendo apenas preciso encaixar para o voltar a colocar (e ouvir aquele *click* tão satisfatório que usam na publicidade se estivermos no modo portátil). É um sistema que parece robusto graças à sua simplicidade, não adivinha grandes problemas com utilização correcta, mas apenas o tempo dirá.

Cada Joy-Con é adoravelmente pequeno, talvez um problema para quem tem mão muito grandes, pessoalmente achei que cada comando encaixava confortavelmente nas minhas mãos, o tamanho diminuto permite uma maior variedade de posições e movimentos dos dedos, o que ajuda a aliviar o potencial desconforto por ter um comando muito tempo nas mãos.
Poder mexer as mãos separadamente é uma das grandes vantagens de usar um Joy-Con em cada mão, excelente para quem gosta de gesticular ou coçar o queixo enquanto pensa, melhor ainda para jogos que usem controlos por movimentos, como o Arms, onde os comandos mostraram funcionar extremamente bem ou no Breath of the Wild, onde apontar é muito mais fácil por podermos fazer ajustes apenas com pequenos movimentos da mão direita.

Os botões L e R são um pouco sensíveis demais e demorou a habituar-me a não carregar neles acidentalmente, já os gatilhos ZL e ZR têm uma pequena folga que permite repousar os dedos sem problema sem carregar acidentalmente. Nenhum destes botões é analógico, ou seja, não tem diferentes graus de sensibilidade, apenas está pressionado ou não. Se isto é irrelevante ou até ligeiramente melhor para grande parte dos jogos, em jogos de corrida por exemplo, a Switch fica em desvantagem.

Cada Joy-Con tem o seu stick analógico, mas para permitir que cada um possa ser usado como um comando individual, os sticks tiveram que ser colocados assimetricamente, que é como quem diz, o stick esquerdo está em cima e o direito em baixo. Cada um terá as suas preferências quanto ao posicionamento dos analógicos de acordo com o jogo, nada de novo, a diferença aqui é que os sticks e os botões estão colocados directamente em cima uns dos outros em vez de estarem na diagonal como é costume.
O que isto quer dizer é que em vez de deslocar o polegar para o interior do comando é preciso dobrá-lo, o que não é tão confortável. Por outro lado, também permite que se use o analógico direito com a parte de baixo do polegar, o que pode parecer um bocado trapalhão, mas com algum hábito funciona bem, pelo menos para controlar a câmera.

Se a liberdade de movimentos, podes encaixar os Joy-Con no suporte que vem com a consola para ficares com um comando com uma forma mais tradicional, assim o comando passa a ter pegas, alterando a maneira como se uh… pega no comando e eliminando o problema mencionado uma vez que os polegares ficam posicionados de maneira diferente.

Outra imposição de cada Joy-Con ser um comando “completo” é a falta de D-Pad no Joy-Con esquerdo, algo que causa alguma espécie tendo em conta a história da empresa com esse input. Onde estaria o D-Pad estão quatro botões, que podem ser usados como botões direccionais e que não devem levantar grande problema, diria mesmo até em grande parte dos jogos 2D, mas jogos de luta como o Street Fighter II pedem um D-Pad tradicional, que não deixa de ser superior.

A tecnologia dentro dos pequenos Joy-Con é impressionante, para lá das baterias que duram cerca de 20 horas, não faltam acelerómetros e giroscópios para permitir controlos por movimentos e motores de vibração avançados que a Nintendo chama HD Rumble e que permite transmitir sensações mais “precisas”.
O Joy-Con direito tem ainda um leitor de NFC (para usar um amiibo, basta pô-lo em cima do joystick) e uma câmera IR de movimentos que consegue detectar a forma, movimento e distância de objectos no seu alcance.

O HD Rumble mostra funcionar muito bem no 1-2-Switch onde se simula a sensação de esferas de metal a rolar numa caixa ou cubos de gelo num copo, resta saber se a tecnologia vai ser aproveitada com regularidade e como. Já a câmera de infra-vermelhos parece um conceito mais difícil de vender e utilizar, veremos se vai ficar relegada a pequenas coisas em jogos de festa.

Joy*-Con

Certas pessoas, o vosso caro incluído, tiveram problemas com os Joy-Cons que respondiam mal, felizmente, basta fazer o rápido update que já está disponível para a consola e reiniciá-la com os Joy-Cons encaixados.

Canivete Suiço

A polivalência da Switch vai para lá de alternar entre TV e portátil, puxando uma patilha da parte de trás da consola (que parece perigosamente frágil) para servir de suporte, a Switch pode ser pousada no chamado “modo estável” e usada como ecrã, útil não só para quem não quer estar a pegar na consola inteira, mas também para sessões de multiplayer.
Como cada Joy-Con virado de lado serve como um minúsculo comando, não é preciso comprar nem acartar mais nada para poder jogar certos jogos a dois, uma Switch com o Mario Kart na mochila quer dizer que podes jogar com mais um amigo em qualquer lado.

Claro que um ecrã deste tamanho não é ideal para jogar com muita gente e um mini comando não é tão útil como os irmãos maiores, mas a versatilidade que isto traz à Switch é enorme e muda o paradigma de multiplayer como estamos habituados tanto numa consola doméstica, como portátil. Não esquecer a possibilidade de poder juntar várias Switch em rede para jogar localmente com amigos, o que é para lá de entusiasmante, especialmente a pensar em jogos como Mario Kart ou Splatoon.

Um sistema para jogos

Que a Nintendo se concentra em criar máquinas para jogos primeiro e que tudo o resto são extras, não é novidade nenhuma, mas o Sistema Operativo da Switch é surpreendentemente básico. Pelo menos por enquanto, não há cá Miiverse nem Netflix, nem sequer chat, que aparentemente vai ficar a cargo de uma aplicação de smartphone, assim como outras funcionalidades da consola.

Para lá da loja e das opções, podemos aceder a notícias e fotos que tenhamos tirado aos jogos e… jogar!
A secção de notícias apresenta uma data de ícones com notícias Nintendo e tópicos de ajuda, tudo escrito com imenso humor pela Amelia, a nossa assistente técnica fictícia.
As fotos que podemos tirar durante os jogos carregando no botão de captura do Joy-Con esquerdo são facilmente acessíveis e vai ser possível editar e partilhá-las em redes sociais, infelizmente, as imagens são guardadas em .JPG a 720p e a compressão podia ser melhor.

Não há dúvidas que é bom ver uma interface limpa, simples e intuitiva a acompanhar um sistema operativo responsivo que se dedica a pôr-nos a jogar o mais rápido possível. Certamente que irão haver muitas actualizações e aplicações a implementar pelo menos algumas das funções em falta, mas é difícil não ter dúvidas quanto à estratégia de deixar certas coisas para o smartphone, mesmo que isso poupe bateria e recursos à consola.

Aqui vai um pesadelo que pensávamos ter desaparecido: os friend-codes voltaram. Sim, se quiserem adicionar alguém, vão ter que usar o friend code deles, um conjunto de números atribuídos a cada utilizador. Porquê? Bem, porque… Nintendo.
Calma que não é tão mau como antes! Pelo menos agora basta uma pessoa enviar o convite, não é necessário trocar códigos e também podemos adicionar pessoas que tenhamos encontrado a jogar online, amigos que estejam ao pé de nós e amigos do Miitomo ou outras apps da Nintendo. Mesmo assim, uma decisão estonteantemente difícil de perceber.

O Preço Certo

Uma consola é tão boa quanto os seus jogos e especialmente numa era onde actualizações online fazem com que muita coisa possa mudar e ser acrescentada, tentar formar uma opinião que se faça passar por final quanto à Nintendo Switch (ou qualquer outra consola) em início de vida é um disparate.

No entanto, há sempre perguntas que se repetem na altura de lançamento, sendo a principal “vale o dinheiro?”
Bem, mesmo sem saber oficialmente todas as especificações da consola, é uma máquina muito capaz tendo em conta o tamanho e preço. Com um ecrã de alta qualidade, uma bateria de alta capacidade, dois comandos com bateria, acelerómetros, giroscópio, motores de vibração avançados, um leitor de NFC, uma câmera de infra-vermelhos e ainda um suporte para Joy-Cons (estupidamente sem porta para carregar os comandos) é complicado olhar para esta consola tão pequena e bem feita, mas com tanta tecnologia, e achar que não tem muito valor para o preço.

Ver o tamanho da Switch deve mostrar o quão absurdo é compará-la com uma PS4, se bem que a arquitectura moderna e a natureza escalar de grande parte dos motores de jogo feitos hoje em dia querem dizer que não será de todo impossível fazer versões Switch de alguns jogos jogos PS4 ou Xbox 1 com os devidos sacrifícios. É melhor não contar com isso se calhar.

Os cerca de €330 pedidos pela Switch (podes arranjar mais barato se procurares bem) podem incluir uma consola que podes jogar em qualquer lado e que vem preparada para dois jogadores, algo muito diferente do que a concorrência vende, mas a entrada “a meio” da geração põe a Switch na posição pouco invejável de ser comparada com consolas já com um bom catálogo de jogos, assim como promoções que as podem tornar mais apetecíveis.

Como sempre, há custos adicionais e os acessórios da Switch são um pouco mais caros que o habitual, se bem que é difícil comparar preços Europeus uma vez que a Nintendo não determina um preço de venda recomendado e que muitos preços são inflacionados na altura de lançamento.
Comprar dois Joy-Con por exemplo, pode chegar aos €85, custa a dar por mais tecnologia que tenham lá dentro, por outro lado, servem de dois comandos em alguns (muitos?) jogos, deixando uma pessoa pronta para receber quatro jogadores.
Quem tencionar ter uma colecção de jogos digitais vai precisar de comprar um cartão SD maior mais tarde ou mais cedo uma vez que a Switch apenas vem com 32 GB de memória flash interna, com apenas 25,9 utilizáveis. Felizmente os cartões SD são cada vez mais baratos e há suporte de cartões SDHX, o que quer dizer que se poderão usar cartões até 2 TB.

Além disso, para jogar online vai ser preciso pagar, o preço ainda não é sabido, mas a estimativa dada pelo presidente da Nintendo aponta para um máximo de cerca de €30 por ano, uma despesa a ter em conta.

No final de contas, podemos adicionar extras e acessórios às consolas que quisermos e começar a contar a conta da eletricidade e a renda da casa, mas se não procurares campanhas ou promoções, uma Switch com o The Legend of Zelda: Breath of the Wild custa-te €400, pronta para dois jogadores e para jogares onde quiseres.

Com um catálogo naturalmente anémico de grandes jogos 3rd party, a Switch tem, no entanto, um bom cardápio de jogos indie a sair e uma lista de lançamentos regulares até ao final do ano que, se cumprida, vai dar à Switch um catálogo impressionante de jogos Nintendo e não só. Podemos esperar uma grande parte dos recursos da Nintendo (leia-se jogos) depositados na plataforma, o que é sempre entusiasmante. Dificilmente vai ser a consola para jogares blockbusters de outras editoras, mas não parece que vá haver falta de jogos.

Um começo promissor

A Nintendo Switch é o culminar de dezenas de anos de desenvolvimento de hardware na Nintendo, é fácil ver bocados do DNA das várias consolas e filosofias da empresa a juntarem-se para formar a Switch.
No entanto, a versatilidade traz consigo o risco da máquina não ser bem carne ou peixe e que os compromissos tomados no design da consola para que esta seja híbrida não compensem o risco de alienar os estúdios de peso.

Bonita, extremamente bem construída, simples de usar, versátil e carregada de tecnologia, é difícil não ficar impressionado com a Nintendo Switch e entusiasmado com o seu potencial. Apenas o tempo responderá a muitas perguntas, mas para já, é um belo pedaço de engenharia com o pó mágico da Nintendo que posso jogar no sofá na TV, na cama, na casa de banho ou no comboio. Parece-me muito bem.

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